quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

FOLIA DE REIS (Delva Robles)

Autora: Delva Robles

O contato anual com a tradicional Folia de Reis fez parte de minha infância. Lembro-me de mamãe nos chacoalhar na cama para nos acordar dizendo: Levantem! Acordem! Santos Reis “tá" aí!.  
Tratava-se de homens humildes, moradores de sítios e fazendas vizinhas de onde morávamos, em Paranavaí, Noroeste do Paraná, que, em fins de dezembro e início de janeiro de cada ano, iniciavam uma peregrinação de visitas às casas da região.
O grupo, que se vestia com roupas coloridas e alegres, geralmente   era formado pelo mestre da folia e pelos foliões. Entre os foliões havia os que usavam máscaras, o palhaço, os dançarinos - que faziam acrobacias na frente dos músicos - e os músicos, que tocavam sanfonas, gaitas, violas, tambores... 
Eles chegavam cantando e permaneciam cantando até papai abrir a porta, e então eles apresentavam a bandeira. E sempre com muito respeito pediam permissão para entrar na nossa casa.
Em algum momento, não me lembro se na chegada ou na saída, papai nos colocava de pé em cima de uma mesa para segurarmos a bandeira, feita em cetim brilhante com figuras estampadas, enquanto eles cantavam e dançavam, em louvor ao dono da casa e aos santos. E ao finalizar a cantiga, tinha a saudação feita pelo "mestre da folia", e repetida pelo restante do grupo:
- Vivam os Santos Reis!
- Viva N. Sra. Aparecida!
- Viva Jesus Cristo!
- Viva o dono da casa!
Para servir aos foliões e todos que acompanhavam a folia, mamãe preparava uma bela mesa, recheada de pães caseiros, linguiças, chouriços, torresmos, queijos, carnes, rosquinhas de pinga, mantecal e um bule quente de café e outro de leite. Além disso, sempre havia quentão e anisete.
Em um determinado momento da visita papai fazia um donativo para o grupo. Geralmente, as doações eram animais para serem sacrificados na festa que seria realizada no dia 06 de janeiro na casa do "mestre da folia" ou de algum outro morador da colônia. Todos seriam convidados. Bastava chegar.  
Na saída, havia o canto de despedida e agradecimento  pelos donativos. O líder do grupo iniciava a cantiga de agradecimento e de despedida, sempre em versos, e de improviso, e os demais membros do grupo repetiam os versos.
Simbolicamente, hoje eu sei que é a representação da visita dos três reis magos (Baltazar, Melquior e Gaspar)  ao Menino Jesus quando ele nasceu.
Trata-se de uma comemoração religiosa pertencente à igreja católica.  Por isso nas letras há referência à hóstia consagrada e ao Menino Jesus etc.
É uma herança cultural que herdamos dos espanhóis, a qual devemos incentivar para não deixá-la cair no esquecimento.

Quando ouço as músicas de Reis, entro na janela do passado e, por alguns momentos, sou aquela garotinha que segurava a bandeira verde de cetim e olhava com curiosidade para toda aquela folia que me encantava... A Folia de Reis.






4 comentários:

  1. Eu também vivi momentos emocionantes assim, na minha infância e adolescência no norte do Paraná. Estas folias vêm das tradições ibéricas, trazidas pelos imigrantes mineiros e paulistas que ajudaram a povoar o norte do Paraná. Há outra vertente açoriana, muito presente na Ilha de Santa Catarina e no litoral do sul do Brasil. Muito jovem, eu fui à Lapa (grande Curitiba-PR) conhecer as famosas folias de reis lapeanas. Parabéns, Delvani, por nos trazer coisas tão lindas e tão caras para nossas recordações.

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    1. Obrigada Laércio, fico feliz de ouvir isso de você que tem tanto conhecimento. Realmente fiquei em dúvida se era dos portugueses ou Espanhóis. Tá explicado.

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  2. AmuuuU! Gostaria de saber Sr. Laercio Melo Duarte, se a Folia de Reis e a Festa do Divino é uma só, ou não?
    Na minha cidadezinha ...a long Time mantinham essa cultura das Bandeiras... com todos esse detalhes citados na reportagem de Delvani Silveira. Minha mãe fazia inúmeros relatos sobre essa festa?
    Ivan Lins e Milton Nascimento cantam a melodia de modo espetacular. Todos conhecem, claro.
    Apenas gostaria de me inteirar mais sobre esse folclore tão genuíno do Sagrado... que se perdeu no tempo.

    Adelaide Amaral Guerra
    Bom Jardim da Serra - SC
    Via Facebook, 7/12/2017

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    1. Vou responder no post da colega Delvani, por que a pergunta veio através de minha página no Facebook. Pelas tradições católicas, as festas em referências possuem motivação diferente, embora sejam ambas originárias principalmente de Portugal e Galícia. A Festa do Divino festeja o Espírito Santo, conforme teria baixado sobre os apóstolos de Jesus no dia de Pentescostes. É celebrada em Portugal desde aproximadamente o ano 1300 dc. Já a Folia de Reis vem de mais longe no tempo, talvez das festas romanas do início do cristianismo. Espalhou-se pela península Ibérica e veio com os portugueses para o Brasil, sendo já famosas por volta da chegada da família imperial em 1808. Obviamente homenageia os três reis magos, que vieram do oriente (Egito?) para encontrar o Messias que acabara de nascer em Belém, Palestina, conforme nos relata a Bíblia cristã.

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