Cada vez que se aproxima um novo ano as pessoas costumam refazer suas metas. Mas não mudam os hábitos e as rotinas. Chance de sucesso? Próximo de zero. Claro, se eu não mudo as práticas, como vou querer resultados diferentes?
Da mesma forma que na vida cotidiana, as culturas aparentemente se renovam. A Lei de Fênix é que tudo tem que morrer para que o novo se permita nascer. Isso não significa que aquilo que renascerá das cinzas seja melhor que o original. Mas, é a lei da vida. O velho tem que dar lugar ao novo.
Eu traço um perfil comparativo entre o comportamento rebelde da minha geração, aquela que emergiu dos anos 1960 capitaneada pelo movimento hippie e seu slogan "faça amor, não faça guerra", entre outros; versus a rebeldia dos adolescentes de hoje. Percebo que os líderes civis, religiosos e artísticos da minha turma eram muito mais calmos e pacíficos, frente a revolta que percebo nas manifestações de agora.
Vou usar como exemplo duas canções emblemáticas, ambas do ano de 1965 nos Estados Unidos. Naquele ano estava claro o back ground da guerra nuclear contra os soviéticos e a guerra interna em que se transformou a do Vietnam. O ambiente artístico, cultural e político só podia refletir esta realidade.
A primeira canção que quero mostrar é "Véspera da Destruição", cantada pelo até então "Menestrel de Cristo", Barry McGuire. Foi sucesso imediato mundial, menos no Brasil, que vivia a época dos festivais da MPB e não estava nem aí com o que acontecia no resto do mundo, isolado pela ditadura militar, que não deixou a canção entrar no Brasil, por razões tão obtusas e ignorantes quanto a própria ditadura. Esta canção deixava todo mundo de cabelo em pé, por que ela anunciava simplesmente a destruição do planeta por uma hecatombe nuclear, que estava para acontecer a qualquer momento.
Seu co-autor e intérprete, Barry McGuire, logo após ser a grande estrela do musical "Hair", tornou-se pregador cristão e foi viver na Nova Zelândia, de onde voltou apenas em 1994, indo morar na Califórnia, onde está até hoje, barrigudo, careca e feliz. E presumivelmente rico.
Hoje, a banda australiana The Screaming Jets vê de outra forma a possibilidade de destruição da civilização: o super consumismo das sociedades capitalistas do primeiro mundo.
A segunda canção a ilustrar esta crônica é da lavra de Bob Dylan, no também distante ano de 1965. Em “Desolation Row”, Dylan também faz um alerta às pessoas de que a sociedade está caminhando para a destruição, só que numa linguagem poética impressionante, não fosse ele prêmio Nobel de literatura. São 10 minutos de pura poesia sobre uma balada romântica, tão marcante que fica no espaço, mesmo depois de concluída sua interpretação. Na canção, Dylan usa recursos fantásticos da literatura clássica popular e seus personagens, como o Corcunda de Notre Dame, Cinderela, Don Juan Casanova, Romeu e Julieta, Caim e Abel, etc. Aqui, Dylan assume o papel narrativo como se fosse um menestrel. Vale lembrar que na época da composição os EUA estavam já imersos na Guerra Fria contra a União Soviética, e o medo de um verdadeiro holocausto nuclear, que poderia ser causado por um confronto armado nuclear, era grande. Nos Estados Unidos, quem criticava a Guerra Fria e o anticomunismo doentio dos Yankees era tachado de antipatriótico e traidor. Dylan, certamente, era um deles, mas adorado pela juventude rebelde.
A única tradução compreensível que encontrei foi em espanhol, de um concerto em Berlin no ano de 1987.
Raras canções de Dylan são adaptadas para os estilos Metal Pesado ou Funk. Mas, esta pede para ser reverenciada num grande festival de grosserias, não pede? A grande e ordeira nova ordem mundial merece.
Um interessante resgate histórico,demonstrando as preocupações da juventude do século XX, a partir da década de 1960, presentes em suas canções.
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