“Se lhes falta o pão, que comam
brioches!”
Esta frase
famosa, atribuída à Maria Antonieta, é uma falácia. Ela era fútil e supérflua,
mas não uma idiota.
Tenho
convicção de que a pessoa que – felizmente – nunca passou fome não pode e nem
sabe falar sobre ela. Tudo soaria falso.
A mais
terrível história real sobre a Fome de que tomei conhecimento foi no livro
“Seis Mil Anos de Pão” de Heinrich Eduard Jacob, que conta de uma aldeia
medieval na região do centro europeu, quando a Europa ainda estava em formação (na região por onde hoje se
localizam Holanda, Alemanha, Áustria e Luxemburgo), onde a base alimentar era a
batata, sofreu uma praga terrível em que toda e qualquer plantação de batatas
apodreceu e pretejou. A pequena população local sobreviveu parcamente, “liquidando”
a única colina que existia no local, comendo toda a terra da
elevação.
É uma
narrativa cujos detalhes são assustadores e maquiavélicos.
Mas existem
outras fomes, falando metaforicamente...
Quando eu
trabalhava no Centro de Florianópolis, certa vez, andando pela Rua Tenente
Silveira, uma mulher indigente, creio que na faixa dos 30 anos, abordou-me
pedindo dinheiro para comer e dizia estar com muita fome. Disse-lhe que
entrasse comigo numa lanchonete para escolher aquilo que quisesse comer daquilo
ali exposto.
Ao chegar ao
balcão vitrine, ela havia sumido. Simplesmente escafedeu-se. Entendi que sua
fome era de outra coisa.
Minha última “proximidade”
com a fome foi há poucos dias, durante a greve do transporte de cargas, ao
ouvir a notícia chocante sobre o iminente canibalismo entre as aves de
cativeiro da indústria pela falta de ração e grãos que os alimentam.
Poderia ficar
dissertando sobre o óbvio e que foi bastante enfocado aqui no nosso último
encontro: a carência de nutrientes vitais para o desenvolvimento do ser humano,
desde a formação do feto, durante o crescimento na infância que provocam a
dislexia e as demais doenças e incapacidades geradas pela desnutrição, mas
seria lugar comum.
Por me sentir
incapaz de escrever sobre a Fome, prefiro citar uma fome que todos nós já
vivemos em algum período das nossas vidas: a fome do amor apaixonado, que
consome e desequilibra a estrutura emocional de qualquer vivente.
E, agora, a
fome que alimenta nossos espíritos e mentes: a Fome de Livros destes Náufragos Literários.
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