terça-feira, 7 de agosto de 2018

TODO DESEJO ARDENTE SE REALIZA! (João Álvaro)



Autor João Alvaro

No início dos anos 1980, com o nascimento do nosso primogênito, Guilherme, no retorno do trabalho no final do dia e também nos finais de semana, os três saíamos de carro, passeando pela cidade, como forma de distração dele, que gostava muito de estar no carro e acabava relaxando e adormecendo. Aliás, o carro era mesmo um sonífero muito eficaz.  Nessa época tínhamos um corcel II, sedan, branco, primeira linha (LDO), bancos de couro, um excelente carro, e muito confortável, para esses passeios no asfalto da cidade e também para viagens longas.
Em um determinado passeio o assunto passou a ser a necessidade de trocarmos de casa por uma maior, já que a família havia crescido e nossa casinha de 64m², de 5 peças mais a garagem, já ficara pequena. Assim que passamos a olhar mais atentamente para placas de "vende-se", e não demorou a encontrarmos uma que imediatamente nos chamou a atenção e nos encantou. Era uma casa de alvenaria, com telhas de barro, beiral de concreto, o que indicava que era com forro de laje e um terreno grande, todo murado com um pomar nos fundos da casa. Foi tudo o que deu prá ver pelo lado de fora das grades do jardim, no meio do qual estava a placa "vende-se" afixada em uma estaca de madeira. A rua, sem asfalto, não trouxe nenhuma preocupação e ninguém pensou na poeira ou no barro quando chovesse.
Nossa imaginação voou... Quantos cômodos teria? E o quintal, tão grande! Talvez fazer uma horta, um pomar, um galinheiro... Quanta coisa começou a inundar os pensamentos e a transbordar em planos mirabolantes... O céu é o limite para quem se põe a sonhar. É uma beleza misturar a realidade e a ilusão no mesmo pacote; é receita certa para sentir felicidade.
Mas, o passo seguinte foi fazer as contas, somando nada da poupança com mais nada do saldo bancário, o resultado deu disponibilidade financeira zero. Mas, a danada da casa tinha mesmo nos envolvido emocionalmente e nos meses seguintes, por diversas ocasiões, continuamos a passar em frente a ela e sempre verificando se a placa permanecia. Mais contas e nada de coragem de buscar saber o preço e as condições.
"Não dá, vamos desistir", dizia eu, mas, sem convicção, porque o desejo permanecia. Longos meses se passaram sem falarmos mais no assunto, mas ainda só tínhamos olhos para ela, até que um dia, ao passar por aquela rua, não vimos a placa. Parei em frente à grade em busca de enxergar a placa e nada vi, mas observei que o jardim estava com mato alto, tipo meio metro de altura ou mais. A situação se repetiu em outra ocasião com a mesma sensação de que a casa continuava desabitada, e imaginei que o vento poderia ter derrubado a placa. Decidi pular a cerca e procurar. Sim, a placa, caída, estava lá, encoberta pelo mato do jardim. "É o sinal", pensei. "Esta casa está reservada prá mim." Anotei o número do telefone da placa e deixei-a no chão, sem mexer. Nessa hora decidi, sem fazer as contas, que era a hora de dar o primeiro passo e conversar com o proprietário.
Mandei lavar e polir o carro até parecer um espelho. Pensei que devia causar boa impressão à primeira vista na conversa com o proprietário da casa. Estacionei bem na frente do número indicado e veio me receber uma senhora de meia idade com a cuia de chimarrão na mão. Após nos apresentarmos fui direto ao assunto:  sua casa está há muito tempo à venda, mas me interessa se puder dar um bom prazo, e preciso colocar o carro no negócio, fui logo dizendo. Se for para ouvir um não que seja logo, pensei. Mas, aceitei mais um chimarrão enquanto dona Iracy  me contava sobre a filha que havia passado no vestibular da Universidade Estadual de Maringá e que parte do dinheiro da venda da casa seria para presentear com um carro à filha. O carro de preferência seria um Corcel II, branco. Perfeito, igual o meu. Ela viu o carro e se apaixonou. Negócio fechado, carro de entrada e tempo... (para buscar financiamento...) com 6 parcelas mensais para eu pagar.
Foi a maior ginástica para buscarmos dinheiro em poupança, cheques especiais de vários bancos e finalmente um empréstimo bancário (papagaio) para as últimas parcelas e mais 3 anos pagando, renovando, pagando e renovando e só pagando... Aliás, isso não está escrito em livro nenhum de como comprar uma casa sem planejar e sem dinheiro, não me dá saudade desse momento difícil, mas em fim a papagaiada terminou.
Atualmente, quando ouço minha esposa dizer que se você realmente deseja algo, mesmo que não tenha meios "jogue para o cosmo" ela diz, "e deixe-o conspirar a teu favor". E neste episódio foi justamente o que aconteceu conosco.
 A casa, agora com asfalto em frente, ainda nos pertence e está alugada. Lá vivemos muitos momentos inesquecíveis das nossas vidas, em especial o nascimento da Talita Gabriela, nossa filha do meio. A horta nunca foi prá frente, mas o pomar cresceu e frutificou... Amoras, goiabas, limas, limões, abacates, mangas, carambolas, acerolas; e só o pé de jaca não produziu. Separei com tela a horta do pomar, e por algum tempo galinhas caipiras ficaram donas desse pomar e serviam de diversão para as crianças...
Bons tempos que permanecem vivos em nossa memória.


Um comentário:

  1. 🤗👏👏 linda história. .verdade joga pros cosmo ele conspira ....parabéns

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