sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

SOBRE SER IDOSO (por uma idosa) Eliana Haesbaert


 

Autora: Eliana Haesbaert
  
O Estatuto do Idoso foi criado para servir como manual de comportamento que pessoas, o Poder Público, empresas prestadoras de serviço, enfim, a sociedade em geral devem seguir ao tratar com as pessoas ditas idosas, a partir dos 60 anos, conforme a Lei Nº 10.741 de 1º de outubro de 2003.
Ora, uma sociedade ética preserva o conjunto de valores morais e não precisa de leis para praticá-la, porque segue a educação recebida.
Como vivemos num país onde a Educação é precária, o tratar com idosos foi preciso ser transformado em Lei complexa e punitiva.
Sabendo-se que a Lei não exerce autoridade no campo familiar onde predominam os sentimentos e há o idoso que se fragiliza e se deixa manipular por filhos, netos ou até bisnetos, é  uma imposição incontrolável.
Portanto, usemos as benesses frugais que a Lei nos faculta, como a preferência em filas, assentos em coletivos, meia entradas, etc... O resto que fique por conta de cada um, conforme sua vivência familiar ou solitária (como no meu caso), sua realidade financeira e outras características mental e física individuais.
Escrever sobre Ser Idoso é um tema amplo demais e preferi me ater num assunto específico: a ecologia.
Afinal, sendo uma idosa de 70 anos, tenho vasta bagagem vivencial, desde quando se comprava os itens comestíveis no armazém e, como não existia o plástico, o arroz, a farinha, o açúcar, tudo enfim, era pesado na hora e colocado em sacos de papel pardo e grosso que carregávamos  nos braços ou em sacolas de pano ou palha.
Não tivemos a menor preocupação com o meio-ambiente, porque as estações climáticas, aqui no nosso país de clima Temperado eram absolutamente distintas e aconteciam conforme o esperado.
Nada era descartável, tudo era reaproveitado e não ia para o meio-ambiente, como as fraldas dos bebês que eram sujas, depois lavadas e secas pelos sistemas eólico e solar, agora super valorizados.
Assim como os “paninhos” que as mulheres tinham que usar nos seus períodos menstruais antes do aparecimento do “Modess” e que precisavam do mesmo tratamento que as fraldas. Quanto aos idosos incontinentes de então, ninguém falava.
O leite, a Laranjinha, o Crush e a cerveja de domingo eram em garrafas de vidro retornáveis aos fabricantes que, após esterilizadas, eram usadas inúmeras vezes. Tomava-se cuidado, pois eram de vidro e, portanto, não podiam ser quebradas.
Na preparação de alimentos, tinha-se que fazer exercício, batendo e mexendo muito, até a exaustão, pois não existiam batedeiras nem liquidificadores.
Assim como vivíamos subindo escadas, andando de bonde, cortando grama sem aparelho elétrico nenhum.
Indo à pé ou de bicicleta para a escola, sempre exigindo exercícios físicos, hoje feitos em academias.
Não existiam copos, pratinhos, garrafas pet e embalagens que hoje lotam os oceanos e matam os animais marinhos.
As famílias abastadas só tinham um carro para todos e hoje uma casa com cinco pessoas tem cinco carros que, não cabendo nas garagens, lotam e poluem as ruas...
Tudo isso eu queria dizer ao caixa do BIG que me deu R$ 0,3 (TRÊS CENTAVOS) por eu ter ajudado o Planeta ao não usar a sacolinha plástica do supermercado!

Escreveria um livro sobre a vivência do “ser idoso”, mas o tempo e espaço são limitados.
Hoje em dia o idoso, além de se preocupar com a ameaça do alemão impiedoso que antes era a vulgar e prosaica  caduquice, tem que fazer a “neuróbica” (exercícios cerebrais) além dos exercício físicos para não travar a mente e as articulações respectivamente..

Nada disso me revolta. É a lei natural da vida em ciclos.
Mas confesso que ando me sentindo ligeiramente deslocada nesta nova civilização digital e virtual.
Enquanto espero ir e voltar para uma nova existência, mas da próxima vez já chegarei como um “ser” virtual e digital, senão numa ainda mais avançada vida tecnológica.

Mas enquanto isso não acontece, procuro ir vivendo tranquilamente.
Que passe longe de mim a doença e a dependência,
que passe longe de mim a mentira, a discórdia, o olho grande e intolerância e  a má sorte.
Tenho dito.





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