Autor: Hélio Cervelin
"Se imaginais que, matando homens, evitareis que alguém vos
repreenda a má vida, estais enganados; essa não é uma forma de libertação, nem
é inteiramente eficaz, nem honrosa; esta outra, sim, é mais honrosa e mais
fácil: em vez de tampar a boca dos outros, preparar-se para ser o melhor
possível." (Palavras atribuídas a Sócrates por Platão, ao final do seu
julgamento).
“A verdade está no caminho do meio”, disse Sócrates,
o filósofo grego.
Como
proceder para nos comportarmos de modo a não ferir, não escandalizar, nem
magoar ou cometer injustiças contra quem quer que seja? No convívio com as pessoas do nosso relacionamento é que transparecem nossos eventuais defeitos ou desvios de conduta.
Está aí um desafio.
Que
as agressões físicas ou verbais são atitudes violentas todos nós o sabemos. A arrogância,
a prepotência e o menosprezo também podem ser considerados atitudes violentas, apesar
de em menor grau. O que não se imagina é que a mesma violência é encontrada também
nas atitudes pouco aparentes, de caráter psicológico, tais como a indiferença, a
ironia, a frieza dos olhares, bem como as atitudes de desrespeito aos direitos fundamentais do indivíduo, pois representam
uma afronta à dignidade.
Tudo
o que foge aos padrões de comportamento aceitos pode ser considerado atitude
violenta ou desarmônica. Até mesmo os nossos modos à mesa de refeições podem
ser enquadrados como atos de violência, quando, por exemplo, não medimos nossas
atitudes, nossos modos às vezes pouco polidos de nos servirmos, especialmente quando
nos esquecemos de que existem mais pessoas que irão compartilhar conosco os
alimentos e as bebidas disponíveis, cuja quantidade poderá ser insuficiente
caso nos excedamos.
Somos
violentos quando não temos paciência para ouvir os argumentos dos outros,
interrompendo-os sem a menor cerimônia; quando tentamos impor nosso ponto de
vista a qualquer preço; quando nos consideramos os donos da razão.
Não
devemos nos esquecer de que cada dia que vivemos é mais um dia de aprendizado,
uma oportunidade de aprimoramento. Temos obrigação de saber que a nossa opinião
tão arraigada de hoje pode sofrer uma mudança completa, amanhã, pois os
conceitos estão em franca evolução.
Somos
violentos quando temos atitudes bruscas, quando gargalhamos em voz alta, quando
exageramos em nossas manifestações, sejam de alegria, de revolta ou de euforia,
especialmente em locais públicos, na presença de outras pessoas.
Somos
violentos quando elegemos uma determinada pessoa para descarregarmos as nossas
frustrações, usando-a como a cobaia que servirá para testarmos o sucesso ou insucesso
de nossas anedotas, notadamente procurando defeitos físicos ou psicológicos nos
outros e fazendo deles o motivo de nossas caçoadas.
Somos
violentos quando abusamos da timidez ou da ignorância das pessoas para
transformá-los em vítimas e contrapontos na demonstração de nossa “grande
erudição”, humilhando-as publicamente.
Somos
violentos quando nos utilizamos de nossas posses ou posição social para oprimir
outras pessoas, seja pela arrogância da posição, seja em negociatas de ética
duvidosa, para forçar uma acumulação maior de nossas posses ou poder.
Somos
violentos quando procuramos apenas o nosso bem-estar e nos esquecemos por
completo de nossos semelhantes que sofrem mundo afora, mesmo percebendo que uma
pequena renúncia de nossa parte significaria um alívio substancial para o sofrimento
de muitos.
Somos
violentos quando nos associamos aos opressores para, voluntária ou
involuntariamente, servirmos de instrumentos de maior opressão, adotando
atitudes corruptas ou corruptoras ao longo de nossas vidas, contribuindo, desta
forma, para que cresçam as legiões dos deserdados da sorte.
Somos
violentos quando fechamos nossos olhos à destruição do nosso planeta, ignorando
que a desestabilização do clima representará a capitulação de todas as espécies
existentes sobre a terra, inclusive (e principalmente) a espécie humana.
Somos
violentos quando não fazemos uma reflexão para compreender os motivos de uma
rejeição da qual sejamos vítimas, especialmente pelo sexo oposto, pois
normalmente nos consideramos irresistíveis e poderosos na arte da conquista, e reagimos
com agressividade, e, em alguns casos, até com brutalidade.
Somos
violentos quando não sabemos aceitar o Princípio Criador de todas as coisas, agindo como Senhores do Mundo, assumindo a
presunção de sermos seres infalíveis e imortais, ignorando que, ao desencarnarmos,
nossos bens materiais acumulados de nada nos servirão, e sequer podemos
levá-los conosco.
Somos
violentos quando não temos atitudes compreensivas e tolerantes para com as
pessoas que divergem de nossas idéias e não paramos para ouvi-las com maior
atenção; quando não procuramos entender uma eventual rispidez de alguém em
dificuldade por motivo financeiro ou de saúde, ou quando não concedemos o
perdão para aqueles que, arrependidos, nos pedem uma segunda chance.
Para
vivermos melhor, basta que adotemos os ensinamentos de São Francisco de Assis em sua Oração pela Paz, da
qual trazemos um pequeno trecho para ser recitado diariamente a fim de
construirmos um mundo mais fraterno e harmônico.
“Senhor,
fazei de mim um instrumento da vossa paz.
Onde há ódio, que eu leve o amor.
Onde há ofensa, que eu leve o
perdão.
Onde há discórdia, que eu leve a união...”