
Autor: Hélio Cervelin
Viver em sociedade pressupõe
direitos e deveres.
Em nome da boa convivência,
algumas regras precisam ser seguidas, sendo que uma das principais obrigações
para quem deseja viver em paz com os vizinhos e
a sociedade em geral é estar bem informado de tudo o que ocorre ao seu
redor, inclusive - e principalmente - no aspecto político. Todas as decisões
que tomamos ou deixamos de tomar são decisões políticas. E são elas que mudam
os rumos da sociedade e dos indivíduos.
Está comprovado, e é notável das
mais variadas formas, que existem grupos de interesse manipulando dados,
notícias e veiculações, disseminando determinadas ideias, com um objetivo específico.
Uma grande parte de nossa sociedade é
egoísta, dinheirista, gananciosa e
insaciável, tudo fazendo para
conseguir acumular mais bens e poder. Seu equívoco reside em se considerarem
imortais, perenes, originando-se daí suas ideias de acumulação. Eles se esquecem
de que a vida é breve. Assim, fazem-se necessários muitos estudos, pesquisas e sutilezas para entender as
nuances dos manipuladores da sociedade. O mundo em que vivemos exige
"eterna vigilância".
Costumamos dizer que "só os
loucos rasgam dinheiro", ou seja, só eles podem dar-se ao luxo de recusar
o conforto que os bens materiais lhes proporcionam. Mas, é aí que entra em cena
uma palavra mágica, que todos devemos buscar. E essa palavrinha mágica se chama
ÉTICA.
Não dá para afirmar que a ética nos fará viver
melhor no sentido material, pois adotá-la, geralmente, representa uma renúncia
ao conforto. Pelo menos ao conforto que extrapola certos limites do bem-estar.
A contrapartida que irá validar o ato será o privilégio de ter a consciência
sempre tranquila e a sensação de não ter contribuído para o desconforto ou a
desgraça de ninguém. A premissa básica será: "seu eu tenho demais, alguém
terá de menos".
E como se faz para tomar as
melhores decisões e viver em uma relativa paz?
Há outra palavra importante, e
que muito nos ajudará para alcançar esse objetivo. E essa palavra se chama
"informação".
Não viemos a este mundo apenas
para comer as melhores comidas, beber as melhores bebidas, assistir TV,
procriar e fazer festas. Uma quota de dedicação aos estudos e pesquisas se faz indispensável
e urgente, para que possamos entender quais são os interesses das outras
pessoas e, especialmente, das corporações.
Se ficarmos apenas na dependência
de informações externas nos tornaremos objetos de manipulação de um sistema
perverso que nos passa a ideia de que trabalhar dezesseis ou mais horas por dia
é algo maravilhoso; que devemos ter a melhor residência; que é nossa obrigação
possuirmos o automóvel mais luxuoso e realizarmos as mais longas e glamorosas
viagens. Mas, isso tudo tem um preço, e alguém obterá lucros exorbitantes enquanto
nossa saúde se deteriora e nossa convivência familiar desaparece em nome desse
chamado "sucesso pessoal".
É nessa hora que deve entrar em
nossas vidas o conceito de "autodesenvolvimento", ou seja, a
desconfiança naquilo que nos chega "mastigado",
dando preferência à pesquisa por conta própria, com o objetivo de tirar as próprias
conclusões. Refletir e determinar o que é bom para cada um de nós é
fundamental.
Cada indivíduo tem suas próprias
aspirações na vida. Alguns se contentam
com hábitos simples e uma vida mais livre e natural, longe dos holofotes do
sucesso e perto do que realmente
interessa: o carinho da família, o respeito dos amigos, o desfrute da natureza
e a simplicidade no viver.
Gostando-se ou não do tema, estar
em dia com os assuntos políticos de
nossa cidade, estado ou país é fundamental. Tudo passa pela política, pelas
decisões das instâncias políticas: o preço do pão, do leite, dos combustíveis,
dos transportes, da educação, dos bens imóveis, de tudo, enfim.
Ninguém consegue ser omisso
impunemente. Muitos desvios sociais e econômicos conseguem ser controlados mediante
nossa participação ativa nas discussões desses temas em nossos grupos
associativos, conselhos de classe e, o mais importante e efetivo, nas eleições
de nossos representantes em todas as instâncias sociais e políticas. Não dá para ser omisso, pois o
omisso torna-se aliado do próprio inimigo, já que, pelo fato de ter-se
esquivado do assunto, terá que acolher as consequências das decisões alheias.
Nós, brasileiros, temos um hábito
altamente reprovável: nossa crença exagerada nas autoridades, sejam elas civis,
militares ou eclesiásticas. Nossa acomodação e inércia e nossa falta de
pesquisas mais aprofundadas nos obrigam a aceitar tudo o que vem até nós como produto
pronto e acabado. Acreditamos demais nos
jornais, especialmente os televisionados, esquecendo-nos de incluir nas
notícias os componentes interesseiros dos políticos e das corporações. Aliás, estes dois entes andam sempre juntos,
em uma simbiose maléfica, visando apenas aos próprios interesses.
É importante lembrar que a
manipulação da mídia geralmente está nas notícias que não foram dadas, ou foram apresentadas com superficialidade, caracterizando
uma omissão tendenciosa da emissora.
Assim como na persistência sobre um mesmo tema, martelando nossos cérebros, até
aceitarmos aquilo como verdade, não nos deixando tempo para refletirmos sobre
aquelas notícias "superficiais". Assim é nossa mídia.
O estudo da Filosofia, hoje
demonizado pelo governo de plantão, sempre foi e sempre será um fator de
proteção para o indivíduo e a sociedade. É imprescindível sabermos, através da
História, o que aconteceu no passado para que possamos agir no presente e
orientar nosso futuro. Através da Filosofia podemos treinar nossas mentes e
desenvolvermos melhor a nossa cognição.
Através do autodesenvolvimento,
da expansão de nosso senso crítico, teremos melhores condições de perceber que,
quando o segmento capitalista da sociedade se pauta no lucro a qualquer preço,
todos somos transformados em suas vítimas preferenciais. De todos os modos e
formas.
(Hélio Cervelin é professor, poeta e escritor)
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