quinta-feira, 11 de julho de 2019

OBRIGADA, JOÃO GILBERTO PÁDUA PEREIRA DE OLIVEIRA, PAI DA “BOSSA NOVA” (Eliana Haesbaert)




 Autora: Eliana Haesbaert

Neste domingo gelado, 07 de julho de 2019, ao levantar, eu ligo o rádio e ouço que ontem por volta das 15h, morreu João Gilberto, 88 anos, de causas  naturais, em seu apartamento no Leblon, tendo a companhia de sua mulher, Maria do Céu, uma cuidadora e seu secretário.
Apesar de viver ali há vários anos, a maioria dos vizinhos nunca o viu, pois ele se mantinha recluso, anti-social  e excêntrico, interditado judicialmente pela filha e curadora Bebel Gilberto, sua filha com Miúcha.
João morreu como se comportou ao longo da sua vida, reservado, e agora com a saúde física e mental bastante debilitadas.

O contraditório é que se apresentou durante décadas ante platéias lotadas no mundo inteiro, ele sozinho no palco com seu violão, muitas vezes com o acompanhamento de orquestras inteiras, com sua vozinha murmurante, delicada e suave porém afinadíssima e tocando aquela batida diferente, exclusiva, até então desconhecida e depois, sempre imitada e nunca igualada.

Especialistas em música, comentaristas e críticos do meio, dizem que o violão de João Gilberto ao ouvido parecem ser dois e que ele e o instrumento eram como uma entidade única e foi um raro  músico a dominar platéias grandiosas mantendo um silêncio respeitoso perante sua melodia discreta e sutil.

Os colegas do grupo Náufragos Literários são testemunhas do quanto apreciadora fui, sou e serei enquanto viver do movimento musical chamado “bossa nova” desde que surgiu na minha infância, admiração perpetuada nas dez crônicas que compõem minha participação no livro coletivo que iremos publicar, a partir da primeira crônica que tem por título “De como a Bossa Nova entrou (e ficou para sempre) em minha vida” onde conto  o quanto me marcou aquele Lp, o primeiro de João Gilberto e  lançado simultaneamente com o despertar da libido na menina que eu era e a segunda crônica se chama “Ho-ba-lá-lá”, nome da primeira canção criada por João Gilberto, que foi a trilha musical do meu primeiro amor adolescente.
Por sua genialidade, deixa muitas curiosidades, quase lendárias, como aos sete anos de idade ter sido o único a acusar um erro no órgão da igreja de Juazeiro (BA), apesar de acompanhado pelo coral em que ele fazia parte e outros fatos  advindos da sua timidez e idiossincrasias, típicas de todo gênio.

Admirou-me e me surpreendeu muito as manifestações que vi e ouvi ao longo deste domingo, falando a “dor da perda”, “lamentando a passagem” deste nosso conterrâneo que levou e elevou a música brasileira por todo o mundo, até hoje apreciada e reconhecida.
A música do Brasil só era conhecida internacionalmente por Carmen Miranda e a partir dele, passou a existir como “antes e depois” de João Gilberto .

Não entendo essas lamentações, pois a matéria chamada “corpo” que ele ocupou nesta passagem já estava doente, decrépita, desligada e ausente da realidade.
Durante sua vida útil, ele conseguiu criar, difundir e eternizar sua obra musical e foi o divisor de águas musicais brasileiras.

MUITO OBRIGADA, João Gilberto por teres deixado um legado cultural rico e por teres sido meu contemporâneo, permitindo que eu acompanhasse tua história musical tão valiosa na minha trajetória.  
Espero que com tua partida e tudo que repercute dela, acenda uma centelha que faça renascer a qualidade musical  brasileira, atualmente tão pobre e medíocre.

MUITO OBRIGADA, João Gilberto.
Segue em paz.

Eliana Haesbaert

*****
Clique para ouvir Chega de Saudade, com João Gilberto: 
https://www.youtube.com/watch?v=yUuJrpP0Mak


Nenhum comentário:

Postar um comentário