
Neste domingo gelado, 07 de julho de
2019, ao levantar, eu ligo o rádio e ouço que ontem por volta das 15h, morreu
João Gilberto, 88 anos, de causas
naturais, em seu apartamento no Leblon, tendo a companhia de sua mulher,
Maria do Céu, uma cuidadora e seu secretário.
Apesar de viver ali há vários anos, a
maioria dos vizinhos nunca o viu, pois ele se mantinha recluso, anti-social e excêntrico, interditado judicialmente pela
filha e curadora Bebel Gilberto, sua filha com Miúcha.
João morreu como se comportou ao longo
da sua vida, reservado, e agora com a saúde física e mental bastante
debilitadas.
O contraditório é que se apresentou
durante décadas ante platéias lotadas no mundo inteiro, ele sozinho no palco
com seu violão, muitas vezes com o acompanhamento de orquestras inteiras, com
sua vozinha murmurante, delicada e suave porém afinadíssima e tocando aquela
batida diferente, exclusiva, até então desconhecida e depois, sempre imitada e
nunca igualada.
Especialistas em música, comentaristas
e críticos do meio, dizem que o violão de João Gilberto ao ouvido parecem ser
dois e que ele e o instrumento eram como uma entidade única e foi um raro músico a dominar platéias grandiosas mantendo
um silêncio respeitoso perante sua melodia discreta e sutil.
Os colegas do grupo Náufragos
Literários são testemunhas do quanto apreciadora fui, sou e serei enquanto
viver do movimento musical chamado “bossa nova” desde que surgiu na minha
infância, admiração perpetuada nas dez crônicas que compõem minha participação
no livro coletivo que iremos publicar, a partir da primeira crônica que tem por
título “De como a Bossa Nova entrou (e ficou para sempre) em minha vida” onde
conto o quanto me marcou aquele Lp, o
primeiro de João Gilberto e lançado simultaneamente
com o despertar da libido na menina que eu era e a segunda crônica se chama
“Ho-ba-lá-lá”, nome da primeira canção criada por João Gilberto, que foi a
trilha musical do meu primeiro amor adolescente.
Por sua genialidade, deixa muitas
curiosidades, quase lendárias, como aos sete anos de idade ter sido o único a acusar
um erro no órgão da igreja de Juazeiro (BA), apesar de acompanhado pelo coral
em que ele fazia parte e outros fatos advindos
da sua timidez e idiossincrasias, típicas de todo gênio.
Admirou-me e me surpreendeu muito as
manifestações que vi e ouvi ao longo deste domingo, falando a “dor da perda”, “lamentando
a passagem” deste nosso conterrâneo que levou e elevou a música brasileira por todo
o mundo, até hoje apreciada e reconhecida.
A música do Brasil só era conhecida
internacionalmente por Carmen Miranda e a partir dele, passou a existir como “antes
e depois” de João Gilberto .
Não entendo essas lamentações, pois a
matéria chamada “corpo” que ele ocupou nesta passagem já estava doente, decrépita,
desligada e ausente da realidade.
Durante sua vida útil, ele conseguiu
criar, difundir e eternizar sua obra musical e foi o divisor de águas musicais
brasileiras.
MUITO OBRIGADA, João Gilberto por
teres deixado um legado cultural rico e por teres sido meu contemporâneo,
permitindo que eu acompanhasse tua história musical tão valiosa na minha
trajetória.
Espero que com tua partida e tudo que
repercute dela, acenda uma centelha que faça renascer a qualidade musical brasileira, atualmente tão pobre e medíocre.
MUITO OBRIGADA, João Gilberto.
Segue em paz.
Eliana Haesbaert
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Clique para ouvir Chega de Saudade, com João Gilberto:
https://www.youtube.com/watch?v=yUuJrpP0Mak
Clique para ouvir Chega de Saudade, com João Gilberto:
https://www.youtube.com/watch?v=yUuJrpP0Mak
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