Autor: Hélio Cervelin
Chegou
às minhas mãos por meio de amigos uma revelação que sempre me passara
despercebida: a canção de ELTON JOHN Funeral for a friend (Love lies
bleeding), devidamente legendada em português, abordando um tema estarrecedor:
o ser humano se derrete em homenagens aos amigos ou ídolos, desde que estejam
mortos!
Traduzido
como Funeral para um amigo (o amor está sangrando), o título da bela canção vai
discorrendo sobre o hábito que temos de levar flores para os
mortos, mas que quando estes estão vivos ninguém se lembra deles, nem ao
menos de chamá-los para uma boa conversa.
“Não liga, não abraça, não se importa com os vivos, mas se auto-flagela
quando estes morrem”, afirma. Conclui que, “aos olhos cegos dos humanos o valor
do ser está na sua morte e não na sua vida”.
Triste
e verdadeira constatação!
Precisamos
conviver mais, estimular mais, elogiar mais os acertos e as vitórias de nossos
familiares e amigos; ver periodicamente como estão, se estão bem, se necessitam
de ajuda, de uma palavra amiga, do conforto de um abraço, amparando-os em seus
percalços e desatinos. Afinal, somos todos viajantes do Universo, cumprindo
missões que pouquíssimos de nós têm a noção exata de qual seja essa missão.
A
vida nos tem demonstrado que os filhos serão sempre filhos, não importa sua
idade, maioridade ou autonomia. Há uma ligação que não se rompe jamais,
especialmente quando eles nos presenteiam com os tão festejados netos, que
representam mais um elo de nossa descendência.
“Ninguém
é uma ilha” costuma-se dizer, indicando
que todos temos necessidades que nos interligam aos outros em sociedade, que
somos parceiros de viagem, que precisamos intercambiar experiências e
conhecimentos que temos, beneficiando quem ainda não adquiriu a habilidade
suficiente para considerar-se totalmente autossuficiente.
Mudar
nossas atitudes para que não precisemos citar
o poeta argentino Jorge Luís Borges, que nos ensina:
Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na
próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido; na verdade, bem poucas
pessoas levariam a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos, viajaria
mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais
rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos
lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários. Eu fui uma dessas
pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que
tive momentos de alegria. Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter
somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feito a vida: só de
momentos - não percas o agora. Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem
um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um paraquedas; se
voltasse a viver, viajaria mais leve. Se eu pudesse voltar a viver, começaria a
andar descalço no começo da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com
mais crianças, se tivesse outra vez uma vida pela frente. Mas, já viram, tenho
85 anos e sei que estou morrendo.
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