segunda-feira, 26 de março de 2018

OLHAR SEM SEGREDOS (Hélio Cervelin)



Autor: Hélio Cervelin

Que olhar é esse, menina
Que me faz tremer assim?
Calafrios percorrem o meu corpo
E já não sou mais dono de mim

Seus olhos negros são punhais
Que ferem os meus, profundamente
O meu coração, minh'alma e tudo o mais
Desnudaram completamente

O seu malicioso sorriso
Deixou-me tão encabulado
Você invadiu o meu ser
E o meu âmago foi devassado

Cabisbaixo e constrangido
Cheguei à triste conclusão
De que você descobriu
Como um raio que caiu
O nome da linda mulher
Que  é dona do meu coração

E então, o que você vai fazer
Agora que sabe o segredo
Que por tanto tempo guardei?
Qual será a sua atitude
Agora que descobriu
Que é você quem eu sempre amei?

Você vai rir de mim, com certeza
Mas, o que eu posso fazer?
Apenas continuar te amando
Até o dia em que eu morrer

FINAL DE TARDE (Hans Wiedemann)


Olhando o rendilhado ao longe
Percebo serem belas florestas
Mostrando vários tons de verde
Pontilhados de manchas brancas
Que podem ser prédios ali incrustados

Alguns pontos parecem espelhos
Refletindo o sol que se põe
Mostrando a força da natureza
Nessa tarde cristalina
Pedindo uma apreciação

As marolas ficam murmurando
Oxigenando a água
Livrando-se de alguma impureza
E purificando-se para a vida
Da qual o mundo tanto depende

Alguns barcos estão ancorados
A alguma distância da praia
Balançando ao sabor das ondas
Ampliadas pelo vento que sopra
Parecendo lindos brinquedos

Inexistem palavras que expressem
A grandeza dessa natureza
Que encanta os olhos de quem a admira
Sensibilizando o coração
E pedindo para agradecer ao divino

quinta-feira, 15 de março de 2018

HERÓIS E COVARDES (Tributo a Marielle) Hélio Cervelin



Autor: Hélio Cervelin

Sou um covarde quando ignoro as injustiças
E baixo a cabeça perante a alta tirania
Quando aquiesço e permito a usurpação
Quando me adapto à mais completa hipocrisia

Sou um covarde ao sufocar meus ideais
E, sem compromissos, altero a minha direção
Quando evito me expor perante os outros
Impondo grave silêncio ao meu coração

Sou covarde quando me associo aos maus
E sento à mesa junto ao dissimulado
Quando me guio na cartilha do opressor
E, displicente, deixo o meu guia de lado

Sou covarde quando me deixo levar
Pelos impuros que dominam a sociedade
Sou um covarde ao tomar armas nas mãos
E massacro o meu irmão sem piedade

Sou um covarde quando vou à Casa Grande
E ante a afronta não perco a minha calma
Sou um covarde quando anulo o meu ser
E ao inimigo entrego a  minha alma

O que fazer diante de tanta iniquidade
Vendo os destroços de quem  sangrou até o fim?
Assistir aos assassinos celebrando suas vitórias
E apenas chorar a morte de quem sempre lutou por mim?

Valha-me Deus, eu preciso de coragem
Dê-me a força dos heróis de nossa história
Que eu possa lutar mesmo que o meu sangue derrame
E eu possa ver a honra sustentar minha memória


segunda-feira, 12 de março de 2018

TUDO O QUE UM HOMEM QUER



Autor: Hélio Cervelin

Você é minha água benta
Minha vassoura ungida
Meu calmante salvador
A pomada na ferida
A minha lente de aumento
O mais curativo unguento
A água fresca bem sorvida

Você é o meu banho quente
O meu melhor bicarbonato
O suave aroma do mato
O alívio da minha azia
A naftalina do armário
As contas do meu rosário
O abraço amoroso da tia

Você é meu incenso queimando
A dor de dente parando
O meu salário aumentando
O meu lenço umedecido
O bebê adormecido
O consolo do lamento
A gota pra dor de ouvido

Você é a minha luz acesa
O farol da minha estrada
O alimento sobre a mesa
Minha muleta ajustada
O meu gesso removido
O meu jardim colorido
Meu corte cicatrizado
   
Você é o meu enxaguante
Meu melhor creme hidratante
O meu creme esfoliante
Minha alfazema cheirosa
O meu melhor desodorante
O meu perfume inebriante
Minha ducha mais gostosa

Você é o meu xampu de canela
A minha tampa da panela
O meu colírio pra remela
Meu pecado perdoado
O meu pé de laranjeira
Alívio da minha coceira
O meu feijão bem temperado

Você é a massagem no pé
O melhor adstringente
O desodorante mais potente
A cura do meu chulé
A massagem no ciático
A unha desencravada
O mais quente escalda pé

Você é a força em pessoa
A cascata que ecoa
A melhor brisa dos ventos
O corrimão do caminho
Uma grande e linda mulher
Ser dono do seu carinho
É tudo o que um homem quer

quarta-feira, 7 de março de 2018

ENCONTROS E DESENCONTROS (Lucila Mônica Fontana)



Autora: Lucila Mônica Fontana

Encontros! Ah, os encontros! É difícil saber  quando, aonde e com que idade eu me encontrei comigo mesma. Penso sobre isso e sei que ainda busco me encontrar.
Quando criança eu era bem pequena, magrinha e  "franzininha", falavam os vizinhos. Eu achava engraçado. Mas tinha um sonho: ganhar do Papai Noel uma boneca bem grande! Sim, eu acreditei muito nele! Para mim ele existia. E ponto final!
Que linda inocência eu tive. E que maravilha era ver chegar o mês de dezembro! Meu sonho aumentava, até que um dia -  e para minha felicidade - chegou o Natal. E com ele meu sonho se realizou: ganhei do Papai Noel a boneca mais linda! Tão linda e grande que até parecia um bebê real.  Com brilho nos olhos e, entre lágrimas de alegria,  pensei: "Estou completa, me encontrei, sou feliz". Curti muito aquela que seria,  por muitos anos, uma preciosidade.
Quando me casei e tive meus filhos, eles ainda puderam brincar com meu presente especial. Sim, aquela linda boneca ainda existia...
Com a juventude e a maturidade, muitas realizações.  Dentre elas, uma especial: ser mãe! Eu me encontrei nesse momento de grandeza para uma mulher, mãe de três filhos maravilhosos.
Mas .... a busca continua ... De repente, me vejo sexagenária, trabalhando há 12 anos no mesmo emprego, fazendo cursos. Participei como coautora, juntamente com outros escritores, de um lindo livro: Memórias Compartilhadas! "Nossa!" pensei.  "De novo, me encontrei. É esse o caminho".
Mas, faltam mais coisas. Pareço estar  o auge da vida, com muitos objetivos a alcançar com atividades que me façam bem: ajudar o próximo, ser presente na família, dançar, namorar, fazer grandes amizades. Enfim, ter tempo para viver a vida. O tempo! Ah, esse precioso tempo! Que no meio de tantas magias da vida, às vezes nos traz desencontros, pois, para mim, desencontro é perder,  é não ter mais. Como pessoas que marcaram a nossa vida e partem, deixando o vácuo da falta do encontro, de conviver, conversar, estar mais.
O encontro, dentro de mim, no meu mais puro sentimento, o amor, escolhendo viver tudo com amor, um dia após o outro! Que o hoje seja sempre especial. Isso me faz ver o sentido das palavras "encontro" e "desencontro".
Só o Amor constrói um encontro consigo mesmo.

terça-feira, 6 de março de 2018

SÃO FRANCISCO, A NAU VITORIOSA (Wander Costa)



Autor: Wander Costa

A transposição demorada está
Mas, no embalo desta canção
Meu coração viajará.
Solto, preciso e seguro
Lanço-me, intrépido e puro
Pelo rio São Francisco
Santo de tantas virtudes
De tão poucas e verdadeiras inquietudes
Pois nele a simplicidade do ser se faz acontecer

Todos os tortuosos contornos do rio
Vão se tornando em deslizante e prazerosa  sensação,
Pois no pulsar do seu ritmo
Eu largo lastro e âncora
E me entrego a esta incrível viagem
Por sua imensidão

No mar, sei que a chegada estará
Mas sei também que ela se reiniciará
Porque ouço a tua inebriante canção
Que me conforta
E traz paz ao meu coração

No tilintar do triângulo
E na batida da zabumba
Vou vivendo o tempo do instante
Robusto e refrescante

A certeza única do existir
Torna-se leve e confiante
Nesta nau, que, lançada ao mar
Dilui-se em espumas fortes e eternas
Fundindo-se ao final
Nesta harmonia exuberante


quinta-feira, 1 de março de 2018

BÊ-Á-BÁ DO BRASIL (Hélio Cervelin (jul/2017)



Autor: Hélio Cervelin

CAlada da noite
CEifando as liberdades
CIladas certeiras
COlapso das cidades
CUidado, Brasil!

PAto amarelo
PErdas salariais
PIração a mil
PÓ rolando solto
PUlharam o Brasil!

FAzendas e pistas
FEchadas só pro Rei
FInais já esperados
FOderam nosso povo
FUgiram da lei.

NAção sofredora
NEgações a toda hora
NInguém para auxiliar
NOssa Senhora
NUnca vai nos ajudar?

CHAma a polícia
CHEga aí, camburão
CHIcoteia o bandido
CHOca o mercenário
CHUva de corrupção

VAle de lágrimas
VEjam que situação
VIdas perdidas na luta
VOzes mil abafadas
VUlneráveis sem labuta

SAnta mãe dos aflitos
SEja feita a tua vontade
SInais de um tempo que chora
SOfrimento e maldade
SUbo aos céus e vou embora