
Quais são os eventos que
podem tornar um verão inesquecível?
São muitas as razões que
podem fazer do verão uma estação inesquecível para toda a vida: para os
românticos, encontrar um novo amor; para os viajantes, fazer uma longa e
maravilhosa viagem; para os amantes do sol, frequentar e curtir belíssimas
praias ensolaradas.
Infelizmente, não foi
nenhuma dessas as razões que fizeram deste verão de 2019 um período inesquecível para mim. Quase
todos os acontecimentos foram negativos, tristes ou trágicos. Quase.
O ano de 2018 finalmente acabou,
mas só depois de uma batalha que parecia não ter fim entre simpatizantes dos
partidos políticos, especialmente os da
esquerda e os da direita brasileira, na campanha político-eleitoral às eleições
presidenciais. Um embate tenso e nervoso, recheado de acusações e notícias
falsas (os chamados fake news), que envolveu
todas as mídias do país e demonstrou que nossa democracia ainda tem muito a
aprender, culminou na vitória da extrema-direita, em segundo turno, elegendo
Jair Bolsonaro, no dia 28 de outubro. A posse aconteceu em 1º de janeiro do
novo ano.
Enquanto a nação estava em
lua de mel com os novos governantes (no mesmo pleito foram eleitos 27
governadores, 513 deputados federais, 54 senadores e em torno de mil deputados
estaduais), uma grande tragédia sobreveio: o rompimento da barragem da Vale (mineradora multinacional brasileira) em Brumadinho, região
metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no início da tarde do
dia 25 de janeiro, e que causou
uma grande avalanche de rejeitos de minério de ferro. A Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão desabou,
e a lama atingiu a área administrativa da Vale, bem como a comunidade da Vila
Ferteco, deixando um grande rastro de destruição e dezenas de mortes. O saldo
final dessa tragédia, após um mês de intensas buscas aos corpos soterrados foi
134 desaparecidos e um número de mortos chegando a 176.
Para aumentar o meu desconforto,
tivemos na capital catarinense, em janeiro, um dos verões mais rigorosos do
século. Os termômetros de Florianópolis registraram um dado histórico na tarde
desta quinta-feira (3), quando atingiram 39,7°C, por volta das 15 horas. De
acordo com o meteorologista Leandro Puchalski, essa foi a maior temperatura dentre
todos os registros históricos da cidade. Os registros mais antigos datam de
1911, e desde então, nunca houve uma marca semelhante. A mais alta temperatura
registrada havia ocorrido em 7 de dezembro de 2012: 38,7°C na Capital. Tenho
certeza de que nunca senti tanto calor em toda a minha vida. Não me lembro de
ter passado quinze dias tão sufocantes e angustiantes, sem disposição para nada
a não ser dormir e beber água e pensar que minha vida chegara ao final. Uma
experiência assustadora.
Não bastasse isso tudo, os
meios de comunicação do Estado do Rio de Janeiro anunciaram que um incêndio
havia atingido o Ninho do Urubu, centro de treinamentos do Flamengo, agremiação
do futebol carioca, na manhã da sexta-feira, 8 de fevereiro. O trágico evento aconteceu
nas primeiras horas do dia, tendo o fogo atingido a ala mais velha do Centro de
Treinamento que servia de alojamento para as categorias de base do clube e
recebia jogadores de 14 a 17 anos de idade. O saldo foi de 10 mortos e três
feridos. Foi a maior tragédia a atingir o futebol brasileiro desde novembro de
2016, quando o avião que levava a Chapecoense para a final da Copa
Sul-Americana caiu perto da cidade de Medellín, na Colômbia, e deixou 71
vítimas fatais.
Depois de tantos
acontecimentos negativos, finalmente recebi uma notícia alvissareira. Nesse
mesmo dia 08 de fevereiro, veio ao mundo minha primeira neta, a Isabella. Ela
nasceu em Nova Iorque (EUA), linda, saudável e com os pulmões bem potentes. Finalmente uma notícia
alegre, que veio a atenuar os sofrimentos causados por tantas notícias tristes.
Nosso planeta é mesmo
misterioso, e nossas vidas algo difícil de explicar. É uma alternância
constante entre o trágico e o belo. Só sobrevive quem tiver muita têmpera e
preparo emocional para suportar tantos contrastes.