sexta-feira, 29 de março de 2019

VERÃO INESQUECÍVEL (Autor: Hélio Cervelin)



Quais são os eventos que podem tornar um verão inesquecível?
São muitas as razões que podem fazer do verão uma estação inesquecível para toda a vida: para os românticos, encontrar um novo amor; para os viajantes, fazer uma longa e maravilhosa viagem; para os amantes do sol, frequentar e curtir belíssimas praias ensolaradas.
Infelizmente, não foi nenhuma dessas as razões que fizeram deste verão  de 2019 um período inesquecível para mim. Quase todos os acontecimentos foram negativos, tristes ou trágicos. Quase.
O ano de 2018 finalmente acabou, mas só depois de uma batalha que parecia não ter fim entre simpatizantes dos partidos   políticos, especialmente os da esquerda e os da direita brasileira, na campanha político-eleitoral às eleições presidenciais. Um embate tenso e nervoso, recheado de acusações e notícias falsas (os chamados fake news), que envolveu todas as mídias do país e demonstrou que nossa democracia ainda tem muito a aprender, culminou na vitória da extrema-direita, em segundo turno, elegendo Jair Bolsonaro, no dia 28 de outubro. A posse aconteceu em 1º de janeiro do novo ano.
Enquanto a nação estava em lua de mel com os novos governantes (no mesmo pleito foram eleitos 27 governadores, 513 deputados federais, 54 senadores e em torno de mil deputados estaduais), uma grande tragédia sobreveio: o rompimento da barragem da Vale (mineradora multinacional brasileira) em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no início da tarde do dia 25 de janeiro, e que causou uma grande avalanche de rejeitos de minério de ferro. A Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão desabou, e a lama atingiu a área administrativa da Vale, bem como a comunidade da Vila Ferteco, deixando um grande rastro de destruição e dezenas de mortes. O saldo final dessa tragédia, após um mês de intensas buscas aos corpos soterrados foi 134 desaparecidos e um número de mortos chegando a 176.
Para aumentar o meu desconforto, tivemos na capital catarinense, em janeiro, um dos verões mais rigorosos do século. Os termômetros de Florianópolis registraram um dado histórico na tarde desta quinta-feira (3), quando atingiram 39,7°C, por volta das 15 horas. De acordo com o meteorologista Leandro Puchalski, essa foi a maior temperatura dentre todos os registros históricos da cidade. Os registros mais antigos datam de 1911, e desde então, nunca houve uma marca semelhante. A mais alta temperatura registrada havia ocorrido em 7 de dezembro de 2012: 38,7°C na Capital. Tenho certeza de que nunca senti tanto calor em toda a minha vida. Não me lembro de ter passado quinze dias tão sufocantes e angustiantes, sem disposição para nada a não ser dormir e beber água e pensar que minha vida chegara ao final. Uma experiência assustadora.
Não bastasse isso tudo, os meios de comunicação do Estado do Rio de Janeiro anunciaram que um incêndio havia atingido o Ninho do Urubu, centro de treinamentos do Flamengo, agremiação do futebol carioca, na manhã da sexta-feira, 8 de fevereiro. O trágico evento aconteceu nas primeiras horas do dia, tendo o fogo atingido a ala mais velha do Centro de Treinamento que servia de alojamento para as categorias de base do clube e recebia jogadores de 14 a 17 anos de idade. O saldo foi de 10 mortos e três feridos. Foi a maior tragédia a atingir o futebol brasileiro desde novembro de 2016, quando o avião que levava a Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana caiu perto da cidade de Medellín, na Colômbia, e deixou 71 vítimas fatais. 
Depois de tantos acontecimentos negativos, finalmente recebi uma notícia alvissareira. Nesse mesmo dia 08 de fevereiro, veio ao mundo minha primeira neta, a Isabella. Ela nasceu em Nova Iorque (EUA), linda, saudável e com os  pulmões bem potentes. Finalmente uma notícia alegre, que veio a atenuar os sofrimentos causados  por tantas notícias tristes.
Nosso planeta é mesmo misterioso, e nossas vidas algo difícil de explicar. É uma alternância constante entre o trágico e o belo. Só sobrevive quem tiver muita têmpera e preparo emocional para suportar tantos contrastes.



terça-feira, 12 de março de 2019

ESCREVENDO NA MELHOR IDADE (Hans Wiedemann)


 

Autor: Hans Wiedemann

Escrever parece mistério,
Que vemos nas novelas,
Parecendo ser difícil,
Mas o fazemos todos os dias,
Mas de forma verbal.

Assim basta colocar no papel,
Sem outras preocupações
Como forma normal
De falar o trivial,
Esquecendo a gramática.

Quando colocamos no papel,
Descarregamos nosso coração,
De preocupações perturbadoras,
Passando a dormir melhor,
Sonhando com algum passado.

O tempo faz fluir as palavras,
Sem que o percebamos,
Lembrando de coisas gostosas,
Limpando velhas mágoas,
Se livrando delas.

Assim devemos nos esforçar,
Brincando com as palavras,
O que fazemos todos os dias,
Contando lorotas ao tempo,
Sendo sempre depois felizes.

terça-feira, 5 de março de 2019

TEMPO PERDIDO (Hélio Cervelin, 04mar2019)



Autor: Hélio Cervelin

O tempo passa, inclemente
Célere e insistente
Atropelando sem dó
Nossas promessas de amor

Nossos sonhos seguem vivos
Presentes
Em compasso de espera
Sincera
Embalando as emoções
À espera de que algum dia
Se instale a harmonia
A unir nossos corações

Olho para o horizonte
Aflito
E diviso o sinuoso caminho
No qual me arrasto, sozinho
Fazendo tudo por mim

Sei que algum dia vou chegar
É a certeza da vida
Desenhando-se, sofrida
Sempre a caminho do fim

Mas a pergunta persiste
Martelando a minha mente
Chegaremos lá juntinhos
Ou ainda estarei sozinho
Como vivo no presente?

Ansiando por uma nova vida
Ainda estou à sua espera
E então, à plena voz, gritar eu vou
Do quão infeliz eu era!
Do quão feliz agora sou!