sábado, 16 de março de 2024

NÓS, OS NÁUFRAGOS (Áurea Wolff, 3 Riachos - 13 mar 2024)

 














Autora: Áurea Wolff


Embarcados no navio do NET

Com o nome de Oficina de Criação Literária 

Navegamos por mares da poesia, música, escrita, 

Guiados por timoneiro entendido desta área 


Tempos bons com ventos refrescantes

Velas singrando os mares, olhando ao longe os montes

Alegres cantos, em danças, ritos, miragens

Sorrisos, vibrações; viajantes construindo pontes 


Um vento forte sacudiu a nave

Ondas gigantes a quebraram ao meio

Jogando na água sonhadores tripulantes

E lá ficou o leme sem vergueiro.


Enfrentando o mar bravio do medo e da surpresa

Nadando se foram até dar na praia

Perguntando-se, preocupados: - E agora? 

— Somos Náufragos literários. 


Encontros e desencontros

Quase tudo aconteceu

Outra tempestade forte

Parou tudo, a pandemia apareceu


Quando a chuva vagou, enfim

O livro saiu com alegria

Fios da amizade buscaram 

A ilusão do que ainda existia


Hoje, depois de tanto tempo

Tentam os sobreviventes se reunir

Para lembrar doces momentos

E perguntar: e agora José?

O tempo passou, a neve caiu, a tarde chegou

O que vai vir? 



PENSEI TER PERDIDO VOCÊ (Hélio Cervelin, 16 mar, 2024)



 Autor: Hélio Cervelin


Que susto!

Que grande susto eu levei! 

Num repente, pensei ter perdido você. 

 

Eu te abracei, te acariciei, e você não reagia! 

Um desespero! 

E agora? O que faço sem você? 

Sem o seu apoio, sem os seus conselhos? 

Sem as suas memórias, sem os seus espelhos? 

Sem a sua compahia?

 

O pânico começou a me envolver 

Senti o chão faltar debaixo dos meus pés 

Alguma vez já tive assim tão grande revés? 

 

Nunca precisei tanto assim de alguém como eu preciso de você 

Minhas lembranças estão contigo! Minhas memórias se irão contigo! 

Quantas manhãs, tardes e noites passei em tua companhia? 

Perdi a conta. 

Você sempre ouviu minhas confidências 

Éramos só intimidade, parceria, cumplicidade!  

 

Estou inconformado, desolado 

Mas, vou recomeçar, tenho que recomeçar, se preciso for

Vou começar tudo de novo, arranjarei outro parceiro assim fiel 

Se você não melhorar, ressuscitar

Comprarei um novo aparelho de celular 

terça-feira, 12 de março de 2024

BEIJO ROUBADO (Hélio Cervelin)

 


 







Autor: Hélio Cervelin

Era inverno, e o ano 2019. Uma academia de Pilates.

E, repentinamente, ela surge! Aparência jovem, usando um vestido branco de renda, ela estava lá, em pé. De olhar sério, compenetrado, sem mirar ninguém, especificamente. 

Assalta-me, de imediato, a surpresa, a perplexidade. Estamos no ano de 2019! Como ela pode estar aqui?

Diante da surpresa, as lembranças afloram. O ano era 1977. Lembro-me de um dia frio, pela manhã, na cantina da empresa pública em que trabalhávamos, na Avenida Mauros Ramos, em Florianópolis. Ambos chegamos para tomar café. Aproveitei-me de sua distração (ela com um pedaço de pão nas mãos) e roubei-lhe o primeiro beijo.

- Seu louco!, disse ela, assim que se desvencilhou do meu assédio. 

Éramos jovens, e eu estava me apaixonando por ela e vinha demonstrando isso. E sentia certa reciprocidade. Daí a coragem para realizar aquele ato atrevido.

Numa das conversas que tivemos, ela revelara que já tinha um amor. Era um jovem "subversivo", foragido do país e exilado na Inglaterra.  Ele havia sido "retirado", clandestinamente, do país após participar de alguns eventos de resistência ao regime militar, na qualidade de filiado ao Partido Comunista do Brasil, uma agremiação proscrita desde o início do Regime Militar.

Diante das ponderações de Maria da Graça (vamos chamá-la assim), pude perceber que minhas chances de conquistá-la seriam mínimas. Logo eu, um simples burguês, idealista, porém sem nenhum preparo de resistência a qualquer regime, detendo um vocabulário pobre quando o assunto era engajamento político ou enfrentamento da ditadura militar.  Quanto ao rapaz, ela havia me mostrado uma foto: era um belo jovem, de cabelos escuros, lisos e barbas longas, como convinha aos comunistas da época, em homenagem aos líderes da Revolução Bolchevique da União Soviética. Naquela época, eu também usava barba e cabelos longos.

Dois anos mais tarde, eu até poderia apresentar-lhe algum argumento de esquerdista, quando a única informação de que dispunha a meu favor foi o fato de estar presente, no início da Rua Felipe Schmidt, encostado na Loja Saco e Cuecão, quando aconteceu aquilo que ficou conhecido como "Novembrada", um ato público de hostilidade ao Regime Militar. Era o dia da visita a Florianópolis do Presidente da República, o General João Baptista Figueiredo. Na semana seguinte haveria nova manifestação na Praça XV, desta vez enfrentada com muita violência pela cavalaria militar, portando baionetas caladas contra os manifestantes desarmados. 

Devido àquelas manifestações, cinco jovens universitários foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional.  Um drama semelhante ao do namorado dela, só que desta vez com a prisão consumada, trazendo muitos dissabores às famílias dos presos e aos militantes da Esquerda de Florianópolis.

Passados alguns anos, após a anistia, em 1979, o jovem exilado voltou, mas seu romance com Maria da Graça não vingou. Mais tarde, eu já casado e convivendo em nova empresa como colega de Maria da Graça (de novo, estávamos na mesma empresa), constatei que ela havia encontrado um novo amor, e era muito feliz com ele. Mas havia um problema: ambos eram viciados em drogas. E foi isso que dizimou a vida dela, ainda jovem.

Assim como surgiu, ela também desapareceu. A Maria da Graça que vi, na verdade, apareceu-me em sonho. Talvez para dizer-me que encontrou novos caminhos e que continua vivendo feliz no espaço indefinido.

sexta-feira, 1 de março de 2024

ESSA MÚSICA (Hélio Cervelin), (28 fev. 2024)

  







Autor: Hélio Cervelin


Essa música que ouço agora, reaviva minhas lembranças, embora não muito claras, de fatos acontecidos, situações que ficaram marcadas, provocando em mim sensações inexplicáveis. 

 

O que minha memória esconde ou tenta me mostrar com essas reminiscências? Por que nos acontecem esses lapsos de memória? Quantos anos já vivi e o que posso afirmar que já aprendi? Terei aprendido a amar o amor verdadeiro ou estarei no meio do caminho? Terei sabido aproveitar as oportunidades que se apresentaram, para tirar delas o maior proveito - no sentido do aprimoramento - das minhas relações com o mundo que me cerca em cada situação? 

 

Muito em breve chegará a minha hora de ir embora. Então surgem os questionamentos sobre se de fato cumpri o que vim fazer neste planeta chamado Terra. Sinto saudade de pessoas que aparentemente desconheço, mas que sei - algo me diz - que as amo muito e quero e preciso muito revê-las! E elas também sentem a minha falta. Como explicar isso? 

 

Estou aqui, estabelecendo e cumprindo metas que podem, - não sei se será lícito - ser interrompidas a qualquer momento em virtude da viagem que irei empreender, da qual “não sei o dia nem a hora”, dizem os textos bíblicos. 

 

Há momentos em que tudo parece claro sobre quem sou, de onde vim, para onde vou. Porém, em outros, o meu pensamento se embaralha em questionamentos, e já não tenho “certeza” de mais nada. São aquelas situações em que somos assaltados pelas dúvidas que tentam abalar antigas convicções. 

 

Como nos livrarmos desse desconforto? Através do bom é velho pensamento positivo, que procura nos convencer de que o melhor irá nos acontecer, e de que ainda há muitas coisas para serem feitas.  

 

É preciso ter calma e buscar informações sobre o que nos cerca.  

 

Após muitos anos de vivência, sofrimentos, gozos e experiências, chego à conclusão de que todos temos uma missão a cumprir. O que não podemos é ficar parados, porque “vida é movimento”.  

 

Pode-se deduzir daí que “ócio é tormento”, por gerar em nós angústia e sentimento de inutilidade, ou, no mínimo, a frustração pelo desperdício de nossas habilidades.  

A exemplo da Parábola dos Talentos, não devemos jamais “enterrar” nossos talentos, nem mesmo subaplicá-los, situação em que, devido ao excesso de cautela estão sujeitos a não render nada no primeiro caso e quase nada no segundo. 

 

O que o Pai que nos criou e nos deu esses talentos quer é que os apliquemos em todas as situações que se apresentam, e quando estas não se apresentam devemos utilizar os talentos para procurá-las e aplicá-los nelas. Nada de ficar parado! Nada de conservadorismo! Excesso de cautela (conservadorismo) leva à estagnação, e esta leva à rotina, à mesmice, ao tédio, à doença e à morte! 

 

É através de nossa ação que conseguiremos alcançar a tão propalada e desejada felicidade. Ganhar e perder fazem parte da vida! É preciso saber viver sem dar golpes baixos, pois tudo o que plantarmos colheremos. Para o bem ou para o mal. 

 

Música, Maestro!