Autor: Hélio Cervelin
Como uma semente que se rasga e desabrocha
Nasci da Mãe-Terra, pleno de possibilidades e planos
Ainda era cedo para descobrir que esta vida
É cheia de promessas, frustrações e desenganos
A vida começa seu giro, tal qual o arco da bailarina
Partindo da dependência total do ventre da mãe
Soltando-se, aos poucos, em busca de liberdade
Dependente dos cuidados carinhosos e humanos
Após nascer, a cada dia é um crescimento
Um aprendizado constante, de ouvir e imitar
Até conseguirmos a tão sonhada independência
De movimentar-nos sozinhos, andar, brincar e falar
O tempo vai passando, crescemos e aprendemos
E vamos adquirindo relativa independência
Que até das fraldas e papinhas nos esquecemos
Queremos possuir o mundo sem qualquer interferência
Enquanto subimos a curva do arco da vida
Percebemos que temos cada vez mais independência
E quando atingirmos a metade da esfera na subida
Ultrapassaremos a metade da circunferência
Metade de nossa vida é aprendizado e subida
Até atingirmos a estável maturidade
É hora de precaver-se para a outra metade que falta
Pois, doravante, começa uma nova verdade
Começamos a percorrer a outra metade do círculo
Do qual partimos ao nascer, crescer e subir
Da metade para frente começa a deterioração física
E desceremos para nunca mais subir
E tudo o que abandonamos nessa viagem
Tomamos de volta, a começar pela imobilidade
Que aos poucos se impõe, tolhendo nossos passos
É a hora dos filhos aliviarem nossa dificuldade
Completa-se o ciclo, é um círculo que se fecha
Aos idosos, aos poucos se esvai a dentição
Lembrando a infância tão bela das papinhas
Mudança completa na força da mastigação
E as fraldas que outrora usamos com charme e elegância
Reaparecem, causando-nos estranheza
Aquilo que aprendemos, engatinhando e caminhando
Desaparece agora, minando nossa destreza
O círculo se fecha, impiedoso e fatal
A caminhada se completa impondo um silêncio atroz
Demoramos para falar, num processo gradual
Mas o tempo impiedoso irá calar a nossa voz
A roda gigante nos levou lá para o alto
Fez o seu giro, e contemplamos a paisagem
O longe ficou perto, mas o chão se aproximou
Com a volta completa, se acaba nossa viagem
Nenhum comentário:
Postar um comentário