terça-feira, 21 de outubro de 2025

O DIA EM QUE TUDO ACONTECEU Hélio Cervelin (*) (20 Out 25)

  

 



 






Autor: Hélio Cervelin

Frederico dormiu preocupado em sua residência no centro de Florianópolis: teria que acordar antes das 7 horas da manhã para comparecer a uma clínica fonoaudiológica, no bairro Campeche, distante 15 quilômetros dali.

Conseguiu levantar-se  da cama na hora certa, sonolento, tomou um banho, se arrumou, preparou e tomou seu café com ovos cozidos e pão, e partiu para o compromisso, dirigindo o próprio carro, na direção do aeroporto, o Floripa Airport. Já estivera inúmeras vezes nessa clínica, e nunca esteve tão atrasado como hoje. Logo ele, que se diz “mais pontual que um britânico”.

Preocupado em não se atrasar, afundou o pé no acelerador. No trajeto foi “fechado” por um motorista apressado e, a seguir, quase foi abalroado por um motoboy voador. Contudo, teve o tempo cravado de 28 minutos para vencer os 25 quilômetros e chegar lá faltando dois minutos para as 9 horas. Justo o momento em que desligou o carro no estacionamento da clínica, feliz com o seu desempenho de pontual. Mas, nesse momento lhe ocorreu algo que o estarreceu: a constatação de que todo o esforço fora inútil, uma vez que estava antecipado no horário em “apenas” sete horas, pois nesse dia,  uma segunda-feira, o seu horário de fono era às 16 horas. Precisou de alguns instantes para processar a informação sobre a realidade nua e crua.

 Passado o estupor e, diante da mancada fenomenal, só lhe restou tomar o rumo de volta, pegar a estrada, superar os obstáculos e ir para casa e esperar. Sentindo-se um otário, e sabendo que havia Fisioterapia a ser feita às 11 horas, no Bairro Santa Mônica. Perto das 11h (mais perto do normal, mas hoje o dia estava sendo atípico) já estava na clínica fisioterápica para realizar exercícios com bike e outros mais cansativos.

Ao meio-dia, ainda passaria em quatro lojas de eletrônicos, buscando uma pequena pilha de um controle remoto, sendo que só encontrou atendimento depois de passar na primeira loja fechada e um bilhete “retorno  às 13h”; a segunda, duas quadras adiante, com o letreiro: FECHADO; a terceira, depois de mais duas quadras, com um bilhete: “Não atenderemos mais esta semana”; e a última, aberta, finalmente!

Agora ir para casa, almoçar e dar um tempo até às 15 horas para sair em direção ao Campeche, para a fatídica fonoaudiologia. Mas, desta vez, no horário correto. Ou não?

Então, outra situação “inesperada” aconteceu: A ex-namorada ligou para tirar satisfações de desancá-lo e culpá-lo pela separação dos dois. Após saraivada de xingamentos, ficou o convite para se encontrarem, mais tarde,  para um “café com roupa suja”. Chamado também de D.R. (discussão da relação).

Repetindo o caminho do aeroporto, retornou à clínica do Campeche, a tempo de esperar dez minutos pelo atendimento da fonoaudióloga.

Mas, eis que outro fato surgiu: o que será, meu Deus?!

Havia esquecido que marcara uma consulta com a Gerontóloga, na mesma clínica, às ... l5h30!  Espanto e   perplexidade! Perdera o horário de uma consulta QUADRIMESTRAL. Haveria chance de remanejar?  E outra coisa grave: não levara um exame sequer dos solicitados pela profissional. Ficaram em casa!! Que dia! Que dia!

Após algumas negociações, Frederico fez fono na hora certa (16h) e faria a outra consulta, a seguir. Antes de descer, o sujeito atrapalhado, guardou seu celular na mochila que levara e, e estava convencido de que o bendito aparelho estava na mochila. Vasculhou todos os departamentos e quem disse que encontrava o tal celular? Precisou esvaziar a mochila duas vezes, para enfim localizar o danado. Chegou a pensar em bruxaria.

Finalmente, fez a consulta com a geriatra. Conseguiu convencer a médica a realizar a consulta, e que sua filha lhe mandasse alguns laudos pelo smartphone. Prometeu trazer os exames na próxima semana, para serem vistos e anotados no seu prontuário.

Antes de viajar de volta para casa, foi ao banheiro e ...(tcham, tcham, tcham, tcham!) descobriu a causa daqueles transtornos todos havidos nesse dia fatídico: havia vestido as cuecas pelo lado avesso!

E a D.R.? Foi trágica também. Mas isso pode ser matéria para outro texto.

 

(*) Hélio Cervelin é cronista, escritor e poeta. Colabora com o sítio Notibras (BSB) e coordena o grupo Náufragos Literários Floripa (https://aufragosliterarios@blogspot.com)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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