
Autora:
Mara Lúcia Bedin
Nestes últimos dias percebi-me bisolhando minhas memórias de infância, quantas lembranças! Por momentos vieram-me as lágrimas, embora os sentimentos fossem amenos.
Quando criança tinha uma voz bonita para o canto, afirmava quem entendia do assunto, e eu gostava de cantar. Pensando na possibilidade de vir a ter uma filha cantora, minha mãe investiu em aulas de canto orfeônico, onde aprendi também a cognição das partituras. Eu trocava alegremente as minhas horas de ócio infantil pelas aulas de canto. Cantava no coro da igreja. No mês de maio fazia solo na festa de coroação da Virgem. Lembranças tão nítidas me vieram que senti o cheiro da mirra e das velas na catedral lotada de fieis e revi a imagem estilizada da madona, que aos meus olhos infantis, não se parecia com um ser humano.
Mas abruptamente minha relação com o canto foi interrompida, a família mudou-se de cidade por questões de negócios. Por frustração, tristeza ou simplesmente por uma questão hormonal própria da puberdade, minha voz mudou de timbre e já não conseguia mais cantar... A vida seguiu. No entanto nunca consegui desapega-me do anelo de retornar ao canto um dia. Para a minha alegria este dia chegou na última semana.
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