
Autor: Hélio Cervelin
Florianópolis, SC, 28 de março de 2018.
Como
a liberdade nos faz bem! Como é bom sentir-se livre!
Mas,
afinal, o que é a liberdade?
Podemos
definir liberdade como um conjunto de direitos reconhecidos ao individuo,
isoladamente ou em grupo. É um instrumento social maravilhoso que costuma
desaparecer em regimes ditatoriais. "Liberdade significa
o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria
vontade..." consta na Internet.
Como
é bom transitar por nosso país, com suas dimensões continentais, repleto de
belezas naturais e culturas diversificadas espalhadas de norte a sul, leste a
oeste. Como é bom admirar as serras do Sul e do Sudeste do Brasil! As ilhas do
litoral de São Paulo: Ilha Bela e Ilha Anchieta; do Rio de Janeiro: Ilha Grande e Ilha do Farol;
e do Espírito Santo: Ilha de Vitória. E, é claro, a Ilha de Santa Catarina (a
antiga Nossa Senhora do Desterro, hoje conhecida como Floripa ou Ilha da
Magia), onde se situa a capital do estado de Santa Catarina, cantada em verso e
prosa desde o seu descobrimento pelos portugueses, no Século XVII, em 23 de
março de 1673. Somemos a tudo isso as numerosas e encantadoras praias brasileiras
em seus mais de 8,5 mil quilômetros de costa, do Sul ao Norte do País. Já no
Centro-Oeste localiza-se o imenso cerrado do Planalto Central; no Norte estão os monumentais
rios da Amazônia (Negro, Solimões, Amazonas, Araguaia, Tocantins, dentre
outros).
Viajar
pelas estradas, conhecer pessoas com as quais nunca se fez contato ou se as
conhece apenas através das mídias sociais, conversar com elas, descobrir o que
fazem, como vivem, o que pensam, do que gostam.
Passar-lhes nossos sentimentos e anseios, nossa cultura, nossos ideais, oferecer
nossa amizade, numa via de duas mãos. Isso não tem preço!
E
a liberdade de expressão? Como é maravilhoso para qualquer pessoa poder
expressar-se, emitindo o seu parecer sobre qualquer assunto ou comunicar-se
através da arte (cinema, música, literatura, palestras, encontros), votar nas
eleições de seu sindicato, de sua entidade de classe, dos seus representantes aos
poderes públicos. Enfim, qualquer manifestação de vontade que possa ser
expressa nos valoriza como seres humanos e cidadãos conscientes.
Mas,
nem tudo são flores! Às vezes, surgem complicadores que podem retardar - ou até
mesmo inviabilizar - esses deslocamentos ou contatos. Especialmente quando a
política partidária, carregada de ranço autoritário, ou mesmo uma crença
religiosa ou filosófica, se interpõem entre o viajante e sua pretensa liberdade
de ir e vir.
Proibir
alguém de entrar em uma cidade porque é comunista, capitalista, socialista, fascista,
vigarista, entreguista, liberal demais, ou porque está sendo julgado pela
justiça, nos parece algo fora de propósito. Outras vezes o fator impeditivo
pode ser a cor da pele ou a opção sexual do visitante, fazendo com que surja,
de um lado, a intolerância, e de outro lado o desconforto e a opressão.
Nas
últimas semanas, dois ex-presidentes da República Federativa do Brasil, Luís
Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, viajando juntos em caravana e visitando
algumas cidades do Sul do país, foram hostilizados e agredidos verbalmente,
sendo que alguns acompanhantes foram agredidos até fisicamente. "Aqui em
nossa cidade vocês não entram" bradava a turba enfurecida, atirando pedras
e ovos.
Quase
no final do trajeto da caravana, em determinada cidade do oeste Paraná, dois
ônibus do comboio foram alvejados com projéteis de arma de fogo, pondo em risco
a vida de seus ocupantes. Sistematicamente, pedras foram arremessadas contra os
veículos, e artefatos foram colocados nas estradas para furar os pneus dos
veículos. Isso sem falar nos tratores colocados para bloquear as estradas,
ainda no Rio Grande do Sul, com queima de pneus, estando a turba incentivada
por palavras de ordem de cunho preconceituoso, retardando a viagem e trazendo apreensão
aos seus realizadores. Tais atitudes jogaram por terra o conceito de
"liberdade de ir e vir", prerrogativa de qualquer cidadão brasileiro,
garantida pela Constituição Federal.
Os
brasileiros em geral, e os políticos, especialmente, gostam muito de falar em
democracia e todos se julgam perfeitos democratas. Mas, na prática, o que eles
esperam é que os democratas sejam sempre os outros, pois suas atitudes
geralmente são as dos mais refinados ditadores, impondo pela força suas
vontades. O que deixou o povo brasileiro
mais perplexo e abismado foi constatar que uma parlamentar gaúcha ocupou a
tribuna do Senado para parabenizar os vândalos pelos atos violentos praticados
no interior do seu estado, o Rio Grande do Sul.
Certo
dito popular nos diz que "cada cabeça é uma sentença", ou seja, cada
um de nós tem o seu ponto de vista, e para viver em sociedade é preciso que
exista a tolerância dos contrários, em que cada um respeite o espaço do outro.
As leis são feitas também para normatizar essa característica. No entanto, em
certos momentos, as atitudes práticas nos passam uma mensagem que sinaliza: "Dane-se
a lei! Tem que ser como eu quero, e ponto final!".
Quando
se constata que alguma pessoa está sendo perseguida ou maltratada, à revelia da
lei, é sempre um sinal de alerta, um indicativo de que as próximas vítimas poderemos
ser nós mesmos. Se uma norma for descumprida sem a pronta intervenção das
autoridades, todo o sistema de segurança pode estar em risco, ameaçando as
relações interpessoais e, em última análise, a democracia.
É
imprescindível que cada instituição que compõe o Estado cumpra fielmente o seu
papel, e faça com que as normas sejam cumpridas em nome da segurança, da boa convivência e do
bem-estar da população. Por tudo isso, a ética nas relações deve ser a tônica
que regulará a sociedade, não permitindo que abusos contra qualquer cidadão,
especialmente pessoas ilustres - por serem as mais visadas - sejam cometidos.
Diante
desses fatos e pelos tantos outros acontecimentos registrados no dia a dia da
política, da economia, do Judiciário e da polícia nacionais, percebe-se que
Brasil está muito longe do que se entende como sendo um país democrático.
Revela-se urgente uma mudança de atitudes de muitos brasileiros e das
autoridades constituídas, que têm a obrigação constitucional de comandar com
justiça e ética as nossas instituições.

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