terça-feira, 23 de outubro de 2018

SÓ O AMOR CONSTRÓI (Áurea Wolff)



 
Autora: Áurea Wolff

Não precisamos falar dos estragos que a escravidão trouxe e ainda traz para a humanidade. Isso todos já o sabemos. Temos que falar da paz que o amor nos traz.
Por que frei Beto não fala dos benefícios que um governo democrático faz? A democracia traz a liberdade de expressão, o direito de ir e vir, o direito de decidir sobre a minha vida, o direito de amar.
Traz o dever de ajudar-nos uns aos outros; o dever de cuidar da natureza; o dever de cuidar de si mesmo, de crescer e de se tornar um cidadão útil à sociedade. O direito a dar seu voto, democraticamente.
O Brasil é um país jovem. A Europa é antiga e já passou por catástrofes terríveis, injustiças e crueldades contra o povo. O Brasil  está aprendendo a ser um país de todos. Um país onde o amor é o mais importante na nossa vida. Temos dificuldades, mas todos queremos o bem  de todos os nossos irmãos.
Um país onde os mais afortunados olhem com doçura para os que não tiveram as mesmas oportunidades e os amem do jeito que são.  E lutem, não pelo poder ou pela ganância, mas pelo bem-estar  de todos.
Um país onde nossas crianças possam aprender na escola a ler e escrever, e onde possam ter nas famílias o aconchego, a comida, o conforto, não só material, mas a direção para suas vidas em desenvolvimento.
Muitos erros todos os governos cometeram e ainda cometem. Nada é perfeito. Perdoar os erros dos outros  e perdoar os próprios erros é dar um passo para o caminho certo da vida. Quem nunca errou que atire a primeira pedra. Mas em tudo o que fazemos nada é mais importante do que o amor.
Ser livre para amar, pois o amor traz  paz no coração.  Será que aquele que cometeu um erro, um crime, não precisa de amor?  Amor misericórdia,  amor bondade, amor doação? 
Só o amor pode dar um rumo para o nosso querido Brasil. Um amor com sabedoria, amor como o dos pais por seus filhos. Somos todos irmãos, nascidos no mesmo país, um país onde há terra para todos, riqueza para todos. Cada um de nós tem sangue de todo  o mundo que construiu nossa geração. Somos irmãos, não somos inimigos uns dos outros. 
Quantas famílias, que têm filhos na  prisão, sofrem e querem ver seus filhos livres e vivendo suas próprias vidas, fazendo suas próprias escolhas.  A liberdade que conseguimos até hoje, que tem um grande espaço para crescer e se aperfeiçoar, é o caminho para o amor e para a vida.
Quero para o povo brasileiro, para a nossa gente, os mais humildes, pobres, discriminados, os mais privilegiados os que acertaram e os que erraram,  que escolham o caminho da vida e do amor porque só o amor constrói.
Tenho dito!

domingo, 21 de outubro de 2018

CANTIGAS DE PAPAI (Delva Robles)


Autora: Delva Robles


Era uma vez:  Uma cantiga
Iracema
Lá em cima daquele morro,
tinha uma bela morena,
que morreu envenenada,
se chamava Iracema.
Coitadinha da Iracema,
não tinha o que comer,
Coitadinha da Iracema
acaba de falecer

Papai era assim, toda noite antes de dormir, nós, as crianças menores deitávamos com ele na cama e ele cantava algumas cantigas para nós. Geralmente eram tragédias.  Eu dormia com essa da Iracema no cérebro ou outra pior ainda, que era assim:
 “Antonino  vai à escola
Não vou, mamãe, papai
Matei o pavão do mestre
Ele agora vai me matar”

Essa ultima estrofe desta canção me atormentava. Como assim, eu pensava!  Como ele (sujeito da oração), matou o pavão? E por que  matou o pavão? Um bicho tão lindo. Imaginava ele (ou seria eu?) correndo atrás do pavão com um pau ou cabo de uma enxada ou vassoura.  E agora? O diretor da escola vai me matar.  Não posso ir à aula de jeito nenhum meu Deus!  De que forma que ele quer me matar? Com o mesmo pau? Tinha pesadelos eu correndo e o mestre me perseguindo.
E a Bela Morena? a Iracema? Como será que morreu? Eu sempre achei que ela tivesse tomado formicida  tatu.  Isso acontecia muito quando uma moça solteira engravidava e o parceiro não assumia. De vergonha e para não sujar o nome da família a criatura tomava este veneno mortal.
Foi então que resolvi pesquisar na internet e nada achei da Iracema, mas  de Antonino e o Pavão do Mestre achei  e fiquei surpresa ao descobrir que esta era uma cantiga ensinada e cantada em brincadeiras de rodas infantis  nas escolas do Brasil  na década de 1940. Trata-se de uma narrativa portuguesa originária de Santiago do Cacém, região do Alentejo possivelmente surgida de uma história real. Eu havia me esquecido que  Antonino realmente é morto pelo professor, por isso todo meu pavor ao ouvir esta história antes de dormir. Existem diversas versões para esta música, compartilho a que melhor se adaptou à que eu ouvia de meu pai.
  
Antonino e o Pavão do Mestre
 Antoninho vinha da aula
com quatro pedras na mão
Atirou no passarinho e pegou foi no pavão
Atirou no passarinho e pegou foi no pavão
Mamãe eu não te conto, papai vou te contar.
Matei o pavão do mestre o senhor é que vai pagar
Matei o pavão do mestre o senhor é que vai pagar
Antoninho meu filhinho como matou o pavão
Brincando com minhas pedras quando o pavão voou
Encruzei minhas pedrinhas,
Sentou no pavão matou
Encruzei minhas pedrinhas,
Sentou no pavão matou

Mamãe eu não te conto, papai vou te contar.
Matei o pavão do mestre o senhor é que vai pagar
Matei o pavão do mestre o senhor é que vai pagar
Bom dia senhor mestre como vai como passou
Vim pagar o seu pavão que Antonino matou
Vim pagar o seu pavão que Antonino matou

O pavão não é nada não é nada não senhor
Quero que diga a Antonino amanhã venha estudar
Quero que diga a Antonino amanhã venha estudar
Papai eu não vou não
Papai eu não vou lá
Matei o pavão do mestre
O mestre vai me matar
Matei o pavão do mestre
O mestre vai me matar

Mamãe eu não te digo, mamãe vou te dizer.
Amanhã eu vou pra aula sabendo que vou morrer
Amanhã eu vou pra aula sabendo que vou morrer

Bom dia senhor mestre
- Bom dia senhor ladrão
Hoje vou fazer contigo o que fez com meu pavão
Hoje vou fazer contigo o que fez com meu pavão

O mestre matou Antoninho, pois embaixo do colchão.
A vida de Antoninho vale mais que a do pavão?
A vida de Antoninho vale mais que a do pavão? 

  
Saudades eternas de meu pai. Ouça a canção no link, abaixo.

https://youtu.be/hvcD5yvv3Cc

terça-feira, 16 de outubro de 2018

PLENITUDE E FELICIDADE (Hélio Cervelin)


 
Autor: Hélio Cervelin
Será possível ser feliz e alcançar a plenitude em nossas vidas?
Dia a após dia, ano após ano, trabalhamos e estudamos para sobreviver em uma sociedade competitiva, ao mesmo tempo em que nos esforçamos para manter a saúde, as amizades, o bom conceito perante as pessoas do nosso relacionamento, tentando ser felizes todos os dias.
Já é consenso geral o conceito de que não existe a felicidade completa, mas, sim, apenas momentos felizes, que podem ser mais ou menos prolongados. Afinal, em um mundo cheio de falhas e fraquezas como o nosso, os choques e frustrações são uma constante.
Quando as contrariedades não atingem a nós ou nossas famílias, elas podem ocorrer na empresa em que trabalhamos - através da  demissão de colegas - ou da falência da empresa de amigos nossos, por exemplo. Também podemos enfrentar alguma contrariedade ou sentir muita tristeza ao andar nas ruas, quando um motociclista se acidenta e morre, um ciclista ou pedestre é atropelado ou, ainda, quando algum conhecido que estava doente vai a óbito.
Nossa vida é uma espera diária do porvir. A pergunta que nos fazemos amiúde é: "como será o amanhã?" ou "o que acontecerá, amanhã?" E, normalmente, torcemos para que as coisas desagradáveis não aconteçam conosco ou com a nossa família. Se tiver que acontecer, pensamos - e é difícil admitir isso - "que aconteça  com os outros". No entanto, é preciso lembrar que, para os outros, nós é que somos "os outros" deles.
Todos os seres humanos ambicionam o melhor para si, (excetuados os depressivos, os masoquistas e os suicidas): o homem/mulher mais bonita, o melhor emprego, o carro mais luxuoso, a casa mais vistosa, a cidade mais interessante para morar, a profissão mais destacada, as melhores viagens... Todavia, dificilmente alguém consegue ser contemplado com todas essas premissas ao mesmo tempo. Existem alguns poucos que são abençoados pela sorte e podem comemorar isso, mas são raros.  Dá até pra lembrar o típico dito popular que estabelece: "azar no jogo, sorte no amor", cabendo aí um vice-versa e também algumas variações do tema.
E assim a vida vai  passando, com cada um de nós lançando suas fichas diárias, tentando direcionar o nosso futuro para obter o maior conforto e felicidade possíveis.
Talvez seja essa incerteza que faça a vida valer a pena, pois nos traz uma incógnita constante. E, inspirados por um teimoso otimismo, a cada dia podemos repetir a mesma pergunta: "como será o amanhã"?

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O MENINO DOS OLHOS DE ESMERALDA (Hélio Cervelin)


Autor: Hélio Cervelin

Era uma vez um menino muito lindo e muito amoroso. Ele tinha a pele morena queimada pelo sol. Seus cabelos eram dourados e longos, e seus olhos eram verdes, parecendo duas esmeraldas. O nome dele era Sol Dourado, mas era chamado por todos simplesmente de Sol.
Sol Dourado vivia muito feliz em um sítio com seus pais. Eles eram agricultores e plantavam cereais (trigo, milho, feijão e arroz) para sustentar a família. Naquele sítio havia muitas frutas, e ele se deliciava subindo nas árvores para apanhá-las, comendo-as ali mesmo. Às vezes nem dava tempo para elas amadurecerem e o menino, afoito, já as apanhava para comer, chegando a fazer caretas, pois ainda não estavam doces. As uvas, então, nem tinham tempo para ficarem vermelhinhas e ele já as atacava.
Sol Dourado gostava de andar na horta, entre os legumes que sua mãe plantava, ao lado da casa. Lá ele apanhava vagens de ervilhas cruas e as  comia no mesmo instante. Também colhia cenouras, arrancando-as do chão para comê-las, sem mesmo lavá-las. Quando não havia água por perto ele as limpava na roupa, mordia-as com gosto, fazendo muito barulho. Mas achava-as deliciosas.
Feliz mesmo ficava quando chegava o domingo, pois era dia de descanso da família dos trabalhos no campo e ele e seus irmãos se embrenhavam nas campinas em busca de aventuras. Gostava de observar os animais pastando, os pássaros voando, e de pescar na lagoa, onde havia muitos peixes dos grandes. Também gostava de ouvir as histórias que sua mãe lhe contava sobre índios, fadas, anjos e Saci Pererê.
Às vezes ele ia ao curral para acariciar os cavalinhos recém-nascidos e notava que alguns cavalos que viviam soltos amanheciam suados e com as crinas trançadas com belas tranças. Ao perguntar à sua mãe quem fizera aquilo ela lhe respondia que, durante a noite, o Saci Pererê gostava de andar a cavalo  pelas campinas próximas, galopando a noite toda. E enquanto o cavalo se movimentava ele o enfeitava com belas tranças.
Para Sol Dourado tudo era maravilhoso: o sítio para brincar, o amor de seus pais e irmãos, a companhia do seu cãozinho preto chamado Bisbin. Havia também porcos, vacas, galinhas, coelhos, ovelhas, muitos animais e muitos pássaros coloridos, que cantavam sem parar.
O menino também gostava de cantar enquanto brincava nas águas dos riachos, que transbordavam em melodias sempre que a chuva parava de cair. Nesses dias ele fazia barquinhos de  papel e soltava-os na correnteza, acompanhando-os córrego abaixo, fazendo festa. Ele amava seus brinquedos, e em dias de sol se divertia muito com o carrinho de rolimã que seu pai havia construído para ele e seus irmãos deslizarem ladeira abaixo.  Às vezes levavam tombos fenomenais!
Sol Dourado sentia-se um menino muito feliz, e não tinha pressa em crescer. Então, certo dia olhou para o céu e fez um pedido: não queria jamais crescer, mas sim continuar vivendo da mesma forma: como uma criança feliz, para sempre.
E alguém lá do céu atendeu ao seu pedido. E ele nunca mais cresceu, e então viveu assim feliz para sempre.

ERA UMA VEZ UMA LUA (Hans Wiedemann)


Autor: Hans Wiedemann

Toda partícula era uma vez,
Por se alterar sempre,
Criando novas expectativas,
Procurando a satisfação,
Ampliando sua dimensão.

A procura da felicidade,
Vai tendo suas aventuras,
Desenvolvendo seu Ego,
Mostrando sua grandeza,
Procurando ser importante.

Na medida que observamos a Lua,
Aumentamos nossa energia,
Criando mais amor,
Distribuindo carinho,
Ajudando os irmãos.

Assim as uniões eram uma vez,
Por estarem sempre evoluindo,
Mostrando o belo ao mundo,
Desenvolvemos amizades,
Cedendo sua Lua interna.

A Lua reflete a Luz,
Que recebe do Sol,
Iluminando o planeta,
Permitindo a vida,
Deixando-nos felizes

VÁ, VOCÊ PODE! Querubina Ribas (Desterro, 1º out 2018)

Está armando um temporal. Adoro temporais!
Quando meus filhos eram pequenos, eu os chamava sempre, dizendo: "corram, venham ver que temporal lindo está se armando no mar, na Joaquina!"
Meu segundo filho - sempre foi bem humorado e com umas tiradas ótimas - gritava mais alto que eu para os irmãos: "venham, a Maga Patológica está chamando!"
A chuva é algo que me atraía desde que eu me conheço como gente. Em Joaçaba, meus pais moravam perto da igreja Santa Terezinha, num morro. Quando caíam aqueles temporais de verão eu preparava barquinhos de papel, soltava-os na enxurrada e corria, descalça, na chuva forte, para ver se eles chegavam até o Rio do Tigre. Quase sempre eles paravam ao lado da igreja, pois a rua não tinha caimento. Às vezes, chegavam ao rio, e eu me sentia feliz como se estivesse em uma festa.
Quando eu chegava em casa, molhada, pingando água por todo lado, seguidamente levava palmadas. O que não impedia que no temporal seguinte eu preparasse minha corrida solitária com o meu barco de papel.
A chuva sempre foi minha companheira de brincadeiras. Só tive uma boneca. Ela tinha uma linda cabeça de louça. Ganhei-a num Natal. E ela durou um dia, apenas. Minha irmã menor pegou-a e deixou-a cair no chão. A cabeça ficou em múltiplos pedaços.  Não senti muito. Não tive outras bonecas compradas. Só as de pano, que eram feitas de velhos lençóis, com os olhos e a boca bordados com ponto atrás. Outros tempos! Um mundo tão distante que parece que não fui eu que vivi.
Hoje pela manhã, recebi pelo Whatsapp um vídeo de Mário Sérgio Cortella em que ele diz que "não existe o imponderável". Entre as várias histórias, exemplos que ele narrou, uma me emocionou muito. A de Barack Obama. Não pela história de vida dele, mas por um exemplo sobre ele, que Cortella contou. Quando Obama era pequeno, criado pela avó, ele chegou a dizer: "Vó, eu vou ser presidente dos Estados Unidos".  A avó, em vez de enumerar tudo o que haveria contra ele para chegar lá, afrodescendente, com um nome árabe, disse as palavras mais sábias: "Vá, que você pode!"
Nunca ouvi nada que me estimulasse, que me fizesse acreditar que "eu podia". E que podia seguir os mais difíceis e inexplicáveis sonhos. Será que se alguém me dissesse "vá, que você pode!" eu teria seguido um caminho diferente? Sei lá.
A chuva bate forte na janela. Me contive para não sair lá fora e deixar ela sobre o meu corpo. Às vezes faço isso.  Deito na grama e deixo a chuva cair.l Me transformo numa árvore, numa planta, não sou mais  um banal ser humano. Sou a frondosa árvore Garapuvu! Com trinta metros de altura, com flores que se espalham pelo chão, formando um lindo tapete amarelo.