
Autora: Delva Robles
Era uma vez: Uma
cantiga
Iracema
Lá em cima
daquele morro,
tinha uma
bela morena,
que morreu
envenenada,
se chamava
Iracema.
Coitadinha
da Iracema,
não tinha
o que comer,
Coitadinha
da Iracema
acaba de falecer
Papai era
assim, toda noite antes de dormir, nós, as crianças menores deitávamos com ele
na cama e ele cantava algumas cantigas para nós. Geralmente eram
tragédias. Eu dormia com essa da Iracema no cérebro ou outra pior
ainda, que era assim:
“Antonino vai
à escola
Não vou,
mamãe, papai
Matei o
pavão do mestre
Ele agora
vai me matar”
Essa
ultima estrofe desta canção me atormentava. Como assim, eu
pensava! Como ele (sujeito da oração), matou o pavão? E por que matou
o pavão? Um bicho tão lindo. Imaginava ele (ou seria eu?) correndo atrás do
pavão com um pau ou cabo de uma enxada ou vassoura. E agora? O
diretor da escola vai me matar. Não posso ir à aula de jeito nenhum
meu Deus! De que forma que ele quer me matar? Com o mesmo pau? Tinha
pesadelos eu correndo e o mestre me perseguindo.
E a Bela
Morena? a Iracema? Como será que morreu? Eu sempre achei que ela tivesse tomado
formicida tatu. Isso acontecia muito quando uma moça
solteira engravidava e o parceiro não assumia. De vergonha e para não sujar o nome
da família a criatura tomava este veneno mortal.
Foi então
que resolvi pesquisar na internet e nada achei da Iracema, mas de
Antonino e o Pavão do Mestre achei e fiquei surpresa ao
descobrir que esta era uma cantiga ensinada e cantada em brincadeiras de rodas
infantis nas escolas do Brasil na década de 1940.
Trata-se de uma narrativa portuguesa originária de Santiago do Cacém, região do
Alentejo possivelmente surgida de uma história real. Eu havia me esquecido
que Antonino realmente é morto pelo professor, por isso todo meu
pavor ao ouvir esta história antes de dormir. Existem diversas versões para
esta música, compartilho a que melhor se adaptou à que eu ouvia de meu pai.
Antonino e o Pavão do Mestre
Antoninho vinha da aula
com quatro pedras na mão
Atirou no passarinho e pegou
foi no pavão
Atirou no passarinho e pegou
foi no pavão
Mamãe eu não te conto, papai
vou te contar.
Matei o pavão do mestre o
senhor é que vai pagar
Matei o pavão do mestre o
senhor é que vai pagar
Antoninho meu filhinho como
matou o pavão
Brincando com minhas pedras
quando o pavão voou
Encruzei minhas pedrinhas,
Sentou no pavão matou
Encruzei minhas pedrinhas,
Sentou no pavão matou
Mamãe eu não te conto, papai
vou te contar.
Matei o pavão do mestre o
senhor é que vai pagar
Matei o pavão do mestre o
senhor é que vai pagar
Bom dia senhor mestre como vai
como passou
Vim pagar o seu pavão que
Antonino matou
Vim pagar o seu pavão que
Antonino matou
O pavão não é nada não é nada não
senhor
Quero que diga a Antonino
amanhã venha estudar
Quero que diga a Antonino
amanhã venha estudar
Papai eu não vou não
Papai eu não vou lá
Matei o pavão do mestre
O mestre vai me matar
Matei o pavão do mestre
O mestre vai me matar
Mamãe eu não te digo, mamãe vou
te dizer.
Amanhã eu vou pra aula sabendo
que vou morrer
Amanhã eu vou pra aula sabendo
que vou morrer
Bom dia senhor mestre
- Bom dia senhor ladrão
Hoje vou fazer contigo o que
fez com meu pavão
Hoje vou fazer contigo o que
fez com meu pavão
O mestre matou Antoninho, pois
embaixo do colchão.
A vida de Antoninho vale mais
que a do pavão?
A vida de Antoninho vale mais
que a do pavão?
Saudades
eternas de meu pai. Ouça a canção no link, abaixo.
https://youtu.be/hvcD5yvv3Cc
Havia um certo sadismo, e os antigos se divertiam vendo as crianças com medo.
ResponderExcluirParabéns pelo texto Delva!