
Autor: Hélio Cervelin
Como
esquecer aquelas noites de lua cheia, prateada, iluminando as montanhas e
campinas de uma região do Oeste de Santa Catarina, em um município chamado Ouro?
Lua que clareava as pastagens
perto de minha casa, onde as sombras dos bois que descansavam os transformavam
em seres estranhos, balançando suas cabeças para se livrarem de algum inseto enxerido.
Era extasiante olhar para aquele pé de
Ipê Amarelo, majestoso, enfeitado por suas belas flores amarelas, cujo dourado
se acentuava pela ação dos raios da lua.
Olhar pela janela de
madrugada em uma noite de lua cheia era
contemplar o silêncio. Silêncio que, hoje,
nestes dias tão corridos e perturbados, se revela tão raro e precioso. Não
há nada que se compare a uma noite enluarada, em um sítio distante e
silencioso. O mundo parecia ter parado, à espera de contemplação. Assim fica
fácil entender por que tantas e tão belas canções foram inspiradas nas áreas
rurais do interior deste imenso país.
Entretanto as épocas
mudaram. Muitas dessas imagens, outrora tão bucólicas, deram lugar às monoculturas, e essas terras foram subjugadas
pelas potentes e barulhentas máquinas agrícolas, que as rasgaram sem dó. O
gemido das pererecas nas lagoas agora deu lugar ao pipocar dos motores a
explosão, inundando as vargens e vales adjacentes, processando cereais,
refrigerando ambientes. A energia elétrica invadiu também o campo. O chamado
progresso chegou à roça!
Aquelas vaquinhas que se
aproximavam do estábulo todos os domingos para lamber o sal, estrategicamente colocado
para elas, já não aparecem mais. Os pássaros coloridos que costumavam pousar
nas imediações para aproveitar os restos de cereais caídos ao chão, já não estão
mais. Os sítios mudaram, a vida no campo mudou!
O rangido dos carros de
boi e o canto dos pássaros e dos galos nas madrugadas desapareceram. E com eles
também desapareceu a inspiração para criar modas de viola e lindas canções
caipiras, típicas do interior. Em seu lugar surgiu o ronco dos tratores, quebrando
o silêncio das campinas e inundando os ouvidos dos últimos caipiras. Os poucos pássaros que ainda restam, povoando as
poucas árvores, distribuídas aqui e acolá, emudeceram. Os cavalos marchadores
foram praticamente dispensados da lida do campo, dando lugar ás motocicletas e aos
automóveis.
E a palavra que mais
nos vem à mente é "saudade". Ou, como diria o velho caipira:
"Sodade". Sim, saudade, nostalgia daquela simplicidade que nos
bastava a todos e nos trazia paz e alegria. Éramos simples, e nos satisfazíamos
com coisas simples, naturais, tais como o leite tirado da vaca todos os dias; o
queijo e a nata feitos pelas nossas avós, com carinho e dedicação; os pães
sovados em casa, na base do esforço físico e assados em enormes fornos fora da
casa; as geleias das frutas colhidas no quintal; as frutas, apanhadas e
degustadas na hora.
O mundo mudou. Mudou
para melhor em muitos aspectos, mas em outros tivemos perdas. Como fazer para
usufruir de cada coisa, cada situação, cada momento apenas o seu melhor? Será
isso possível?
Música: LUAR DO SERTÃO ( Tonico e Tinoco)
Música: LUAR DO SERTÃO ( Tonico e Tinoco)