Autor: Hélio Cervelin
Alcançar
um patamar próximo do ideal em nossa comunicação não é uma
tarefa nada fácil, uma vez que se trata da manifestação de nossa
personalidade na forma de sons, gestos e atitudes, envolvendo
linguagem verbal e não verbal, tendo como base a espontaneidade.
Assim
sendo, qual seria o diálogo ideal?
Imagina-se
como sendo o diálogo ideal aquele em que os envolvidos são
ponderados e se expressam claramente, em tom de voz agradável,
emitindo frases pausadas e moderadas, com começo, meio e fim, e
adotando alternância no tempo de argumentação entre um e outro
interlocutor. A manifestação de cada parte deve ser breve, e o
ouvinte precisa ter a paciência e a fineza de aguardar o seu momento
de falar, de modo a evitar a interrupção da fala do outro.
No
campo da entonação a fala pode assumir nuances que variam conforme
nosso momento psicológico. Entretanto, existe uma característica
que é marcante em cada pessoa, conforme se pode analisar nas
ponderações, a seguir.
Dentre
os diversos tipos característicos de falantes há os que adotam uma
fala mansa, serena e agradável aos ouvidos dos seus interlocutores,
todavia falam demais e monopolizam totalmente a conversa. O esperado
diálogo, na verdade, acaba se transformando rapidamente em um
monólogo, o que leva o ouvinte a fazer o papel de um verdadeiro
"microfone", com espaço apenas para ouvir e nenhuma chance
para falar.
Em
outro tipo característico de falante, pode acontecer que em certos
momentos, embora se fale pouco, carrega-se a nossa conversa com
termos ferinos ou contundentes em demasia, mediante a utilização de
verbos ou adjetivos inadequados, o que torna nossa conversa eivada de
críticas e conceitos deselegantes para quem nos ouve.
Há
momentos em que assumimos um tom de voz impositivo e autoritário,
como que a demonstrar que somos os legítimos donos da verdade, e ao
nosso interlocutor só lhe restará aceitar a própria "pequenez".
E, para agravar, deixamos bem claro que nosso ponto de vista jamais
deverá ser contestado, uma vez que "a razão está conosco".
Ofender-se e reagir à altura para encerrar o colóquio dependerá da
fleuma de cada ouvinte. Entretanto, essa reação – se acontecer -
poderá gerar confronto e violência.
Às
vezes somos excessivamente prolixos em nossos argumentos e, sem nos
apercebermos, ficamos “rodando” em torno do mesmo tema,
reforçando desnecessária e repetidamente nossas definições,
apesar de sua assimilação já estar mais do que configurada por
quem nos ouve. Uma situação típica de “disco arranhado”, que
fica trazendo de volta o mesmo trecho a todo o momento, destruindo a
beleza da mensagem e gerando enfado e aborrecimento.
Em
outras ocasiões, nossa fala é por demais rebuscada, recheada de
termos técnicos ou conceituais, que deixam nosso interlocutor
"vagando no espaço". Mas ele acabará concordando conosco
por desconhecer boa parte desses termos. Mais uma vez, o ouvinte faz
um papel passivo, sem argumentos para dialogar.
Um
tom de voz enfadonho e arrastado, proporcionado por uma voz muito
baixa ou uma dicção deficiente, poderá ser a tônica de nossa
comunicação em outras oportunidades, exigindo de quem nos ouve um
esforço redobrado para tentar entender a nossa mensagem. A
tendência, neste caso, será a dispersão e o alheamento do nosso
ouvinte, o qual se manterá atento apenas por uma questão de
respeito. Normalmente, ele evitará emitir opiniões, pelo simples
fato de ter ouvido ou assimilado não mais que a metade da nossa
conversa.
A
ironia também poderá ser a tônica de nossa manifestação, podendo
ofender a quem nos ouve, mas disso também não nos apercebemos, pois
cremos ser esse o nosso "estilo". Se questionados, é bem
possível que cheguemos a ponderar: "sempre falei dessa forma, e
não será agora que irei mudar".
Ouvidos
mais sensíveis tendem a sofrer muito quando são submetidos ao nosso
tom exagerado, em que damos a impressão de falar às multidões,
devido ao tom "gritado" de dezenas de decibéis acima,
mesmo quando nosso ouvinte é apenas e simplesmente uma pessoa
postada a menos de um metro de distância.
Em
outras conversas, podemos carregar e repassar nosso carrossel de
mágoas para o nosso ouvinte, desarmonizando-o e constrangendo-o por
completo. Dane-se a sua sensibilidade! Só o que sabemos é que
precisamos extravasar! Além do mais, as mágoas precisam ser
"divididas" com os amigos, pensamos. No fim das contas, sem
perceber, inundamos o ambiente com uma torrente de contrariedades,
deixando a todos com os nervos à flor da pele. Nosso ouvinte faz de
tudo para não nos contrariar, e se esforça para buscar um modo de
concordar conosco e nos consolar. Tolerância máxima!
Há,
ainda, os que não conseguem conversar sem nos cutucar, beliscar
nossos braços ou bater em nosso peito, querendo o máximo da nossa
atenção. Não conseguem falar sem nos estapear o tempo todo,
deixando-nos quase com hematomas. Um jeito estranho de
comunicação,
que deixa o interlocutor literalmente dolorido.
Se
tomarmos consciência de nossa deficiência, certamente ficará a
esperança de que um dia haveremos de atingir a perfeição tão
almejada. O ponto principal será nos convencermos de que nossos
deslizes são verdadeiros. Difícil será descobrirmos como nos
livrarmos dos nossos defeitos.
É
inquestionável nosso desejo de, em um futuro próximo, termos nossas
conversas em tom suave, firme, claro e encantador, como quem se
dirige amorosamente a um jardim florido, agradecendo-lhe pela sua
beleza, suavidade e perfume.
Quem
sabe nossas conversas possam vir a ser plenas de proposições
agradáveis e informações aceitáveis; o nosso tom ser vibrante e
atraente, tal qual mantras
inefáveis; nossa voz ser o bálsamo curador para os ouvidos mais
sensíveis, que de nós se aproximarão para acalmar o espírito,
preencher seus vazios, alentar sofrimentos, atenuar decepções e
inebriar a alma?
Essa,
então, será a comunicação ideal.