quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

VIA LÁCTEA (Hélio Cervelin, 28Nov2022)

 










Autor: Hélio Cervelin


Ela busca os meus pontos mais sensíveis

E sempre sabe muito bem aonde estão

E observa as minhas reações, com carinho

Esperando sempre um sim, nunca esperando um não


Olha no fundo dos meus olhos inquietos

Com seu olhar de brilho penetrante

Pergunta, docemente, se sinto dor

A espera do meu gemido destoante


Às vezes entrelaça minhas pernas

Com suas pernas roliças e morenas

Para ajudarem no seu nobre objetivo

Que é fazer nosso encontro valer a pena


A todo instante muda as suas posições

Colocando-se muitas vezes sobre mim

Seu rosto em frente ao meu, me encara com ternura

Com seus olhos verdes que a fazem tão linda assim


Observo suas grossas sobrancelhas

E seus cílios bem delineados

Acentuando seus traços suaves e belos

E seus lábios carnudos e avermelhados


Seus cabelos caídos no meu peito

Permitem-me sentir o seu perfume

Estou na busca da cura dos sofrimentos


O meu olhar já se perde no espaço

Vejo estrelas, buracos negros e galáxias se fim

Povoando os céus do meus pensamentos


Sem seu carinho, o que seria de mim?

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O OUTRO LADO DA VIDA (Hélio Cervelin, 23 Out 2022)

 


Autor: Hélio Cervelin

Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. (João 14:2)


Quando chegar a nossa hora de passar para o “outro lado”, a nossa “morte”, como se costuma falar, o que será que encontraremos?

Tudo depende da nossa vibração durante nossa vivência, o modo de levar a vida, de encarar as situações que se apresentam; se a nossa vibração for boa, encontraremos um planeta, um local de vibração boa, combinando com a nossa personalidade. Se a nossa vibração for baixa, com pensamentos de inconformismo, maldade, egoísmo, vingança, encontraremos um planeta ruim, uma morada de vibração desarmônica, combinando com nosso estado de espírito, e sem podermos escolher.

Como existem duzentos bilhões de galáxias, e cada galáxia contendo dezenas ou centenas de planetas, haverá muitos lugares em que podemos nos enquadrar. Desse modo, acreditamos que será assim, sem céu nem inferno. Ou existirá um ou outro, a depender de nossa vibração.

O que é ser portador de uma boa vibração? É ser cordato, gentil, saber resolver os problemas sem perder a calma, sem gritar; não ser violento e não prejudicar ninguém, pedir desculpas quando errarmos e estarmos dispostos a perdoar a quem erra conosco. É ir levando a vida, sabendo que aqui é uma passagem, uma viagem, um estágio, apenas.

Assim sendo, acreditamos que se pode ser até mesmo um assassino, desde que o fato tenha acontecido num momento de descontrole total, e nos tenhamos arrependido profundamente do mal praticado. Certamente seremos submetidos à justiça dos homens, e teremos que nos conformar com isso. Pelo arrependimento sincero, o restante de nossas vidas poderá gozar de uma boa vibração. Acreditamos que isso tem mais valor do que aquele que nunca matou ninguém, mas vive agredindo os outros, é ríspido, faz comentários desairosos sobre as outras pessoas, espalha inverdades, fofocas. E se acha superior aos demais, demonstrando vibrar no mal, na maldade.

O próprio Jesus Cristo falou isso no Novo Testamento:

E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.

(Marcos, 2:17)

Ao lermos a bíblia sagrada é preciso atentar para as suas imperfeições advindas das interpretações de seus autores (Jesus não deixou nada escrito), bem como as dificuldades que sempre se apresentam ao traduzir qualquer texto. Os textos bíblicos são passíveis de interferência da parte das autoridades eclesiásticas ou mesmo de reis e imperadores. 

Sabe-se que o Império Romano, para atender às suas conveniências e pacificar conflitos entre o povo fez diversas intervenções nos textos cristãos, tais como alterar o dia do descanso semanal do sábado para o domingo, para evitar conflitos com os pagãos. 

No Concílio de Niceia, realizado no ano de 325 (d.C.), liderado pelo imperador romano Constantino, entre outras providências, ficou determinada a divindade de Jesus, para dirimir conflitos entre os próprios cristãos, os quais divergiam nesse quesito.

Até então, Jesus era venerado como um Mestre. Um Mestre sábio, de inteligência superior, inspirado, pacifista, amoroso, mas apenas um Mestre, filho de Deus como todos nós. Assim também o acreditavam (e ainda acreditam até hoje) os judeus.




quinta-feira, 6 de outubro de 2022

TUDO O QUE UM HOMEM QUER (Hélio Cervelin, 12mar2018)

 









Autor: Hélio Cervelin


Você é minha água benta

Minha vassoura ungida

Meu calmante salvador

A pomada na ferida

A minha lente de aumento

O mais curativo unguento

A água fresca bem sorvida


Você é o meu banho quente

O meu melhor bicarbonato

O suave aroma do mato

O alívio da minha azia

A naftalina do armário

As contas do meu rosário

O abraço amoroso da tia


Você é meu incenso queimando

A dor de dente parando

O meu salário aumentando

O meu lenço umedecido

O bebê adormecido

O consolo do lamento

A gota pra dor de ouvido


Você é a minha luz acesa

O farol da minha estrada

O alimento sobre a mesa

Minha muleta ajustada

O meu gesso removido

O meu jardim colorido

Meu corte cicatrizado


Você é o meu enxaguante

Meu melhor creme hidratante

O meu creme esfoliante

Minha alfazema cheirosa

O meu melhor desodorante

O meu perfume inebriante

Minha ducha mais gostosa


Você é o meu xampu de canela

A minha tampa da panela

O meu colírio pra remela

Meu pecado perdoado

O meu pé de laranjeira

Alívio da minha coceira

O meu feijão bem temperado


Você é a massagem no pé

O melhor adstringente

O desodorante mais potente

A cura do meu chulé

A massagem no ciático

A unha desencravada

O mais quente escalda pé


Você é a força em pessoa

A cascata que ecoa

A melhor brisa dos ventos

O corrimão do caminho

Uma grande e linda mulher

Ser dono do seu carinho

É tudo o que um homem quer












domingo, 10 de julho de 2022

O TOM E O SOM NA COMUNICAÇÃO (Hélio Cervelin, 2019)

 


Autor: Hélio Cervelin

Alcançar um patamar próximo do ideal em nossa comunicação não é uma tarefa nada fácil, uma vez que se trata da manifestação de nossa personalidade na forma de sons, gestos e atitudes, envolvendo linguagem verbal e não verbal, tendo como base a espontaneidade.

Assim sendo, qual seria o diálogo ideal?

Imagina-se como sendo o diálogo ideal aquele em que os envolvidos são ponderados e se expressam claramente, em tom de voz agradável, emitindo frases pausadas e moderadas, com começo, meio e fim, e adotando alternância no tempo de argumentação entre um e outro interlocutor. A manifestação de cada parte deve ser breve, e o ouvinte precisa ter a paciência e a fineza de aguardar o seu momento de falar, de modo a evitar a interrupção da fala do outro.

No campo da entonação a fala pode assumir nuances que variam conforme nosso momento psicológico. Entretanto, existe uma característica que é marcante em cada pessoa, conforme se pode analisar nas ponderações, a seguir.

Dentre os diversos tipos característicos de falantes há os que adotam uma fala mansa, serena e agradável aos ouvidos dos seus interlocutores, todavia falam demais e monopolizam totalmente a conversa. O esperado diálogo, na verdade, acaba se transformando rapidamente em um monólogo, o que leva o ouvinte a fazer o papel de um verdadeiro "microfone", com espaço apenas para ouvir e nenhuma chance para falar.

Em outro tipo característico de falante, pode acontecer que em certos momentos, embora se fale pouco, carrega-se a nossa conversa com termos ferinos ou contundentes em demasia, mediante a utilização de verbos ou adjetivos inadequados, o que torna nossa conversa eivada de críticas e conceitos deselegantes para quem nos ouve.

Há momentos em que assumimos um tom de voz impositivo e autoritário, como que a demonstrar que somos os legítimos donos da verdade, e ao nosso interlocutor só lhe restará aceitar a própria "pequenez". E, para agravar, deixamos bem claro que nosso ponto de vista jamais deverá ser contestado, uma vez que "a razão está conosco". Ofender-se e reagir à altura para encerrar o colóquio dependerá da fleuma de cada ouvinte. Entretanto, essa reação – se acontecer - poderá gerar confronto e violência.

Às vezes somos excessivamente prolixos em nossos argumentos e, sem nos apercebermos, ficamos “rodando” em torno do mesmo tema, reforçando desnecessária e repetidamente nossas definições, apesar de sua assimilação já estar mais do que configurada por quem nos ouve. Uma situação típica de “disco arranhado”, que fica trazendo de volta o mesmo trecho a todo o momento, destruindo a beleza da mensagem e gerando enfado e aborrecimento.

Em outras ocasiões, nossa fala é por demais rebuscada, recheada de termos técnicos ou conceituais, que deixam nosso interlocutor "vagando no espaço". Mas ele acabará concordando conosco por desconhecer boa parte desses termos. Mais uma vez, o ouvinte faz um papel passivo, sem argumentos para dialogar.

Um tom de voz enfadonho e arrastado, proporcionado por uma voz muito baixa ou uma dicção deficiente, poderá ser a tônica de nossa comunicação em outras oportunidades, exigindo de quem nos ouve um esforço redobrado para tentar entender a nossa mensagem. A tendência, neste caso, será a dispersão e o alheamento do nosso ouvinte, o qual se manterá atento apenas por uma questão de respeito. Normalmente, ele evitará emitir opiniões, pelo simples fato de ter ouvido ou assimilado não mais que a metade da nossa conversa.

A ironia também poderá ser a tônica de nossa manifestação, podendo ofender a quem nos ouve, mas disso também não nos apercebemos, pois cremos ser esse o nosso "estilo". Se questionados, é bem possível que cheguemos a ponderar: "sempre falei dessa forma, e não será agora que irei mudar".

Ouvidos mais sensíveis tendem a sofrer muito quando são submetidos ao nosso tom exagerado, em que damos a impressão de falar às multidões, devido ao tom "gritado" de dezenas de decibéis acima, mesmo quando nosso ouvinte é apenas e simplesmente uma pessoa postada a menos de um metro de distância.

Em outras conversas, podemos carregar e repassar nosso carrossel de mágoas para o nosso ouvinte, desarmonizando-o e constrangendo-o por completo. Dane-se a sua sensibilidade! Só o que sabemos é que precisamos extravasar! Além do mais, as mágoas precisam ser "divididas" com os amigos, pensamos. No fim das contas, sem perceber, inundamos o ambiente com uma torrente de contrariedades, deixando a todos com os nervos à flor da pele. Nosso ouvinte faz de tudo para não nos contrariar, e se esforça para buscar um modo de concordar conosco e nos consolar. Tolerância máxima!

Há, ainda, os que não conseguem conversar sem nos cutucar, beliscar nossos braços ou bater em nosso peito, querendo o máximo da nossa atenção. Não conseguem falar sem nos estapear o tempo todo, deixando-nos quase com hematomas. Um jeito estranho de comunicação, que deixa o interlocutor literalmente dolorido.

Se tomarmos consciência de nossa deficiência, certamente ficará a esperança de que um dia haveremos de atingir a perfeição tão almejada. O ponto principal será nos convencermos de que nossos deslizes são verdadeiros. Difícil será descobrirmos como nos livrarmos dos nossos defeitos.

É inquestionável nosso desejo de, em um futuro próximo, termos nossas conversas em tom suave, firme, claro e encantador, como quem se dirige amorosamente a um jardim florido, agradecendo-lhe pela sua beleza, suavidade e perfume.

Quem sabe nossas conversas possam vir a ser plenas de proposições agradáveis e informações aceitáveis; o nosso tom ser vibrante e atraente, tal qual mantras inefáveis; nossa voz ser o bálsamo curador para os ouvidos mais sensíveis, que de nós se aproximarão para acalmar o espírito, preencher seus vazios, alentar sofrimentos, atenuar decepções e inebriar a alma?

Essa, então, será a comunicação ideal.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

ALGUMAS REGRAS DE BEM VIVER (Para uma mãe solteira_ (a) Hélio Cervelin, 2007)

 



  1. Deitarei todos os dias antes da meia-noite, levando comigo o meu filho (caso ele ainda não esteja dormindo);

  2. Levantarei cedo e, após o nosso banho, lhe darei café, verificarei sua agenda e materiais escolares e tomarei suas lições;

  3. Prepararei seu uniforme, deixando-o pronto para vestir;

  4. Enquanto ele brinca e toma sol, providenciarei a limpeza e a arrumação de seu quarto;

  5. Colocarei nossas roupas para lavar, estendendo-as, depois;

  6. Darei o almoço a ele, ajudando-o a escovar os dentes e a vestir seu uniforme do colégio;

  7. Após o meu expediente profissional, frequentarei com assiduidade e pontualidade cursos de aperfeiçoamento, línguas e outros que possam melhorar a minha empregabilidade;

  8. Prestarei ajuda financeira a meus pais para a manutenção da casa e a educação de meu filho;

  9. Serei disciplinada em todos os sentidos, de modo a passar ao meu filho os conceitos de disciplina, ordem e trabalho;

10 A higiene será prioritária em minha vida, ajudando a manter a saúde perfeita e melhorar o nosso bem-estar, evitando doenças;

11 As minhas atitudes serão sempre orientadas pelo princípio da boa educação, respeito e ética, visando à estabilidade de meus relacionamentos;

12 O pai de meu filho terá sempre o meu respeito e o diálogo necessário a uma convivência pacífica e ao melhor desenvolvimento de meu filho;

13 Minha alimentação será sadia; evitarei os alimentos inadequados;

14 Bebidas alcoólicas, cigarros e afins nunca serão um vício para mim;

15 Serei moderada em meus gastos e procurarei poupar meus recursos financeiros, pois serão necessários a eventualidades e investimentos;

16 O meu lado espiritual será sempre lembrado, e minhas reflexões espirituais serão exercitadas todas as semanas;

17 Boas leituras e atividades físicas regulares me ajudarão a manter em alta a minha autoestima e a de meus familiares;

18 Estarei sempre consciente de que, apesar de possuir inúmeras carências não atendidas, muitas outras pessoas têm necessidades mais prementes que eu, daí a urgência em praticar a caridade.





Autor: Hélio Cervelin


quinta-feira, 2 de junho de 2022

QUEM FOI ALBINO CERVELIN? Texto de Hélio Cervelin (Em 31 Mai 2022)

 











Autor: Hélio Cervelin

Albino Cervelin, meu pai, seu avô, bisavô.

Albino nasceu em abril de mil novecentos e quatorze, de uma família numerosa, descendente de italianos, em Guaporé (RS) e faleceu em 16 de outubro de mil novecentos e sessenta e três, no então distrito de Ouro, município de Capinzal, SC, com quarenta e seis anos de idade, vitimado por um AVC.

Era agricultor, trabalhava de sol a sol, e tinha muitas habilidades profissionais. Além de trabalhar na roça plantando feijão, trigo, milho, arroz e criando ovelhas, porcos, galinhas em seu sítio adquirido com muito sacrifício, ele também tinha parreiral, onde produzia uvas e elaborava vinhos. Cultivava cana-de-açúcar e produzia melado e açúcar mascavo para o consumo da família. Tinha um enorme pomar com diversos tipos de frutas.

Quando jovem e recém-casado, com mais de 20 anos de idade, foi convocado a servir ao exército em Curitiba, e lá ficou doente do Tifo, o que impediu sua convocação para o front da Segunda Guerra Mundial. Permaneceu no quartel durante 18 meses, depois obteve baixa e retornou para a casa de seu pai, o nono Vitório, em Linha Vitória, hoje município de Ouro, estado de Santa Catarina, onde minha mãe, Otília, já havia dado à luz ao primogênito Valdir.

Ele tinha habilidades como ferreiro, carpinteiro; sabia aplicar injeções nos animais, atuando como veterinário; fazia castrações de porcos e bois, tosquiava ovelhas, domava cavalos; sabia fazer salame, torresmo, banha e outros produtos oriundos do abate de suínos; era treinado no uso de armas de fogo. Possuía vários tipos de ferramentas. Também atendia as pessoas, aplicando injeções.

Era o líder da comunidade e do coral de igreja da vila. Era ele quem rezava o rosário de todos os domingos e quem fazia o enterro dos mortos, rezando o Réquiem em latim. Ainda sobrava espaço para ser o Inspetor de Quarteirão, uma espécie de investigador policial local, sendo chamado quando havia desavenças entre vizinhos. Também foi líder político, chegando a ser candidato a vereador pelo PTB, partido de Getúlio Vargas.

No final de sua vida, meu pai adquiriu a doença do Alcoolismo, o que tirou um pouco do brilho de sua trabalhosa e vitoriosa caminhada.

Albino foi um polivalente, uma pessoa atuante em seu meio, criou e encaminhou todos os filhos. Tenho orgulho da memória do meu querido pai. Reverenciemos sua memória.

terça-feira, 17 de maio de 2022

VIDEOTEIPE (Hélio Cervelin, 25 ago 1983)

 



Autor: Hélio Cervelin

E quando chegar a "hora final" você estará preparado para suportar o videoteipe?

Sem conseguir entender como chegou lá, você se percebe na presença do Senhor Todo-Poderoso, um imponente homem de vestes brancas e longas barbas, ao lado de um trono cintilante e defronte a uma tela. Ele tem um projetor ligado, interruptor em punho, régua fina e longa na mão, apontando para a tela, tocando-a com ruídos secos, característicos do trabalho de um professor compenetrado.

E com olhar grave e expressão acusadora, argumenta o Senhor:

- Erraste aqui, aqui e aqui!

Você balança, estremece, começa a ficar gelado...

- Te omitiste aqui, aqui e aqui!

Você começa a baixar a cabeça...

- Vacilaste aqui, aqui e aqui...

E, inclinando-se - constrangido - você exclama, mais para si mesmo: - Eu fiz isso?!

E os teus erros continuam sendo apontados, um após outro, perante um tribunal anciães sóbrios e de semblante impenetrável.

- Prejudicaste o teu colega, aqui. (E continua apontando os eventos gravados)

A essa altura a tua cabeça começa a se inclinar para frente. A exposição inconteste dos fatos pretéritos é tão impiedosamente avivada que o seu queixo já está tocando o teu peito.

- E tem mais isto - aponta o Senhor para outro trecho do vídeo.

E então você começa a sentir um tremor nas pernas, uma fraqueza crescente, e a sentir o seu corpo irá desabar, pois que está começando a prostrar-se.

- E como se não bastasse.... - continua a ladainha do Pai Celestial, sempre apontando para novos fatos desabonadores. E você desaba. Sua testa cola no chão. Você está literalmente arrasado. Humilhação pura! Prostração total! Aí você pensa: "Estou condenado ao fogo do inferno".

- Todavia... Balbucia o Senhor.

Alerta Geral! "Será que haverá alguma misericórdia para mim?"- pensa.

- Ajudaste a este pobre homem em um momento crucial... (É o Senhor, continuando, sempre apontando para a tela e identificando os envolvidos).

Sua testa começa a descolar do chão.

- Suportaste calado, aqui, aquela repressão interminável. (O teu nariz começa a sentir certo alívio).

- Sofreste quase duas décadas estudando, frequentando escolas todos os dias, levantando cedo, fazendo as lições de casa, pesquisando, lendo...

Neste momento você já começa a recompor-se. Senta no chão.

- Resististe, bravamente, às cantadas destas mulheres (aponta para uma linda mulher loura), destas morenas (aponta para lindas morenas) e desta ruiva...

A essa altura a tua posição já começa a ficar menos desconfortável, o teu moral começa a elevar-se, e você também começa a soerguer-se.

E Ele continua:

- Conseguiste suportar o teu chefe durante trinta e cinco longos anos, cumprindo suas ordens, executando tarefas, aguentando o seu mau humor, rindo de suas piadas sem graça. Também suportaste com bravura os maus humores de tua esposa, especialmente em períodos de TPM, durante quarenta e três anos, ajudando-a a criar, alimentar, vestir e educar essas seis crianças, que hoje são jovens saudáveis e preparados para a vida, apesar do alto custo da educação no país. Além disso, ainda conseguiste sobreviver à pressão econômica do FMI e às políticas salariais e tributárias por ele impostas através dos teus governantes.

A essa altura você já está em pé, e os aplausos começam a aparecer. Primeiro tímidos, e em seguida estrepitosos. Ao teu redor senhores de longas barbas grisalhas sorriem e lhe aplaudem freneticamente.

Diante da reviravolta da situação você já está quase se arriscando a um palpite e se perguntando:

- Será que consegui um superávit no meu balanço do pagamentos?















quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

BRUNA (Hélio Cervelin)











Autor: Hélio Cervelin

Bruna,
Brumas de uma potente onda que açoita o rochedo

Sem medo

É a sua força que vence minha dor

Que forja o meu amor por ela.

Bruna,
Leves brumas


Que, com suavidade, contornam as nuances, saliências, deficiências
Do meu corpo imperfeito, mal cuidado, maltratado

Trazendo-me a esperança


De ser feliz ao seu lado.