terça-feira, 31 de outubro de 2017

PRIMAVERA (Nídia Maria de Leon Nobrega)


















Autora: 

Nídia Maria de Leon Nóbrega

Sentada naquela pilha de tijolos quebrados, encurvada, olha com atenção aquele pé de inço que tem as pontas dos pequenos galhos cheias de pequenas flores vermelhas.

Na quietude se seu mundo, delimitado pelo rancho de tábuas comidas, coberto de zinco e do outro lado pelo muro sujo e intimidante, fica pensando na sua primavera atual representada por uma erva daninha em flores. Uma ironia da vida que um dia teve glamour, poder e jardins bem cuidados. Ah... Como amava seus jardins recheados de flores e cores que na primavera e, até mesmo em outras estações, floravam e inspiravam alegria, prazer, satisfação e plenitude. Nem lamenta as outras perdas que foram acontecendo aos poucos, como uma doença que come a vida sem se fazer notar. Nem as ausências dos seus amores levados por ventos e tempestades emocionais ocupam espaço na sua mente perdida em lacunas senis ou esquecimentos provocados. Mas as flores fazem falta, assim como o zumbido das abelhas, o cantar dos pássaros e o barulho das cigarras nos pés das árvores do quintal que um dia foi parte de seu mundo. E fica lá enlevada com sua erva florida que recebe a água da bacia do banho improvisado no quartinho da patente com cheiro de sabonete barato deixado pela mulher de uma das igrejas que a visitam esperando sua conversão quando ela apenas que ouvir alguém falando com ela.

Mas essa flor tão delicadinha, frágil quase, tímida pela insignificância dentro dos tratados da botânica, tem sido o motivo de levantar, abrir a porta e olhar o dia.
Tem medo de tocá-la com seus dedos carcomidos pela idade, artrose e abandono. Mas ela é seu universo de encantamento, consolo e resignação. Uma flor – ao menos uma pequena flor, lhe oportuniza sentimentos menos piores nessa primavera que alivia sua vida estéril de tudo.





GRACIAS A LA VIDA - GRATIDÃO PELO MEU FILHO (Elizete Menezes )







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Autora: Elizete Menezes 





Sinto gratidão a Deus por ter me concedido a graça de ser mãe de três meninos...! Infelizmente, por uma fatalidade  um de meus filhos faleceu em 2009.

Em 13 /03/1987, nasceu Diogo, um bebê prematuro de saúde frágil. Com muita luta e fé, superou todos os obstáculos de sua fragilidade de bebê,  tornou-se uma criança forte e saudável, "levado", cheio de vontades... Passaram-se os anos e se tornou garoto lindo, imperativo, adorador de aventuras, jogador de futebol,  fazia coisas exóticas como "capoeira", tinha muita energia. 

No entanto, meu garoto se tornou um adolescente tímido, falava pouco,  era mais de observar do que falar, ( "prefiro ficar quieto do que falar o que não sei", dizia ) ou ("se não vou poder ajudar, então prefiro não perguntar"). Nós ríamos, debochando de sua sinceridade absoluta. Era sempre muito direto, tinha um coração enorme, estava sempre disposto!

Meu adolescente se tornou um jovem lindo amável. Um bom filho, um ótimo irmão... em pouco tempo se transformou num tio e  padrinho excelente,  namorado apaixonado, um grande amigo... Só posso dizer que tinha gratidão por ele ter me escolhido como mãe. 

Meu Diogo, aos 21 anos de idade,  na sua mais bela fase já vivida até então,  correndo contra o tempo,  um jovem guerreiro trabalhador , com todo seu vigor, em um fatídico dia foi acometido por um acidente fatal. Tiraram-lhe a vida ...!  Naquele dia faltou-me o chão!

Meu filho, Diogo, sou imensamente grata por ter tido você em minha vida. Por ter conhecido seus defeitos e suas qualidades, por ter aprendido com você o dom da vida , por ter aprendido a não jugar o outro, por ter aprendido a ser solidário a quem precisar;  e ser amigo de verdade de quem é meu amigo... 

Ho, Deus, como foi difícil, sim! Como foi difícil saber que nunca mas iria te ver, te tocar, ouvir tua voz , ouvir você me chamar de mãe, sentir teu cheiro!  Mas, naquele dia 14/02/2009,  eu fui agraciada com o Espírito Santo.   Eu consegui te entregar a Deus ...

Aqui, minhas palavras de despedida: 

"Senhor,  aqui está teu filho, aquele que me destes de presente, para eu cuidar no tempo que escolhestes. Se este foi o meu tempo, espero ter dado o meu melhor, perdoe-me se não o fiz.  Receba, ó pai, o teu filho, que aqui te entrego em teus braços. Vá com Deus filho. Eu  sempre irei te amar." 





REFLEXÕES, exercício de criação literária (Hélio Cervelin)

















Autor:
Hélio Cervelin


EXERCÍCIO DE CRIAÇÃO LITERÁRIA PROPOSTO 


A partir das palavras propostas, abaixo, elabore um texto livre, contemplando a ideia que elas representam para você.

COGNIÇÃO - percepção, conhecimento; conjunto de processos mentais conscientes;
APRENDER - Assimilar ou reter conhecimentos; adquirir habilidade prática;
ANELO - Desejo ardente; um intenso querer;
AMENO - Suave; moderado; delicado; aprazível; terno;
RELAÇÃO - Vínculo; ligação; contato; correspondência; lista de nomes;
semelhança;
BISOLHAR - Olhar duas vezes (neologismo);
HUMANO - Relativo ao homem (humanidade); que denota compaixão;
MEMÓRIA - Faculdade de reter conhecimentos e impressões; monumento;
DESAPEGO - Despojamento; livrar-se de certos sentimentos;
SAUDADE - Sentimento de ausência, de falta; lembrança de algo triste ou feliz;
ÓCIO - Fazer nada; desocupação; qualquer ocupação agradável;
LÁGRIMA - Gota d'água vertida dos olhos;
LEMBRANÇAS - Ato ou efeito de lembrar (se); recordação de eventos passados.

REFLEXÕES:

Esta manhã nublada e chuvosa nos traz à lembrança os dias vividos até aqui, volvendo nossa memória aos muitos momentos captados por nossa cognição e que podem encher nossos olhos de lágrimas de saudade ou nostalgia.

Vivemos esta vida com o intuito de aprender cada vez mais, burilando nossos sentimentos e atitudes de seres humanos, em nossa relação com o meio em que vivemos. Faz-nos lembrar de que somos finitos, portanto isso exige que exercitemos o ócio e também o desapego das coisas materiais e dos sentimentos menos nobres, em nome de uma vida saudável.

As lembranças dos melhores dias vividos traz-nos à memória nosso anelo, nosso anseio, consubstanciado na busca incessante pelo bem-estar e pela felicidade. Todo dia é dia de "bisolhar" nosso passado e reviver emoções, sejam elas intensas ou amenas. O importante é ser feliz, desapegado, e viver a vida com simplicidade e alegria.




OZZY (Mara Lúcia Bedin)











Autora: MARA LÚCIA BEDIN








Em dias de  primavera, quando a chuvarada e o vento sul passam, a atmosfera fica limpa, o céu de anil, o jardim lavado, as flores esticam suas hastes e exibem as cores mais vibrantes, e a grama?  Daquele verde, que não se consegue reproduzir... Dias assim, parecem sonhos reincidentes.

Foi num destes dias, que admirando o jardim, chamou-me a atenção um montinho de alguma coisa, sobre a grama. Em um primeiro momento pareciam folhas de árvores amontoadas, mas ao firmar o olhar, observei que aquele montinho fazia um movimento intermitente. Aproximei-me mais e descobri que era um filhote de passarinho. Havia algumas penugens naquele corpinho com os olhinhos ainda fechados. Que fazer com ele? Assim tão frágil! Procurei entre a árvore para ver se encontrava o ninho. Como se eu pudesse devolvê-lo.  Fiquei em silêncio para ver se ouvia o piado de alguma mãe desesperada. Nada. Decidi, não vou deixar este passarinho aqui para servir de alimento para algum cão ou gato que perambulam pelo bairro. Já que ele vai morrer, pensei, então vai morrer no conforto, no quentinho.  Eu o peguei com todo cuidado.  Fiz da minha blusa uma conchinha para servir de ninho e o transportei. Já em casa, fiz com paninhos de flanela o que julguei seria uma cama mortuária confortável.

Na manhã seguinte, acordei acelerada. Tenho que me apressar, resolver o que vou fazer com o meu hóspede morto na área de serviço. Não vou colocá-lo na cesta do lixo. Vou embrulhar o corpinho? Não, vou colocar numa caixinha, e vou enterrar lá no jardim. Tenho que me apressar para não chegar atrasada no trabalho. Assim, depois do banho matinal fui rapidamente para área de serviço, levando nas mãos uma caixinha de papelão estampada com flores coloridas em tons pastéis para preparar o funeral. Mas, quando chego frente ao ninho... Onde está o meu hóspede? Começo rapidamente a procurá-lo. Acabo encontrando-o no vão entre o armário e o assoalho. Era uma figura meio bizarra, o filhote já ficava em pé sobre as pernas, as penugens eram raras espalhadas pelo corpo. Bem feinho, coitadinho, eu pensei na hora. Os olhinhos estavam abertos e quando me viram, abriu imediatamente o bico. A boca era imensa, desproporcional, diria. Nesta primeira troca de olhares deu se o print,  passei a ser a mãe do meu amigo. Preciso alimentá-lo. Com que? Abençoadas bananas na fruteira ao lado. Ele vai ser vegetariano! Deu certo. Colocava pedacinhos pequenos de banana amassada, na boca, que aberta daquele jeito, era fácil acertar.  A cada vez que eu passava em frente ao ninho de flanela, ele abria bocão e recebia mais uma porção pequenina de banana amassada.

Ele, agora batizado com o nome de Ozzy em homenagem a Ozzy Osbourne, compositor e vocalista da banda britânica Black Sabbalt, pois a essa altura ele já fazia piados musicais. Ozzy não poderia ficar só em casa, pois iria precisar de alimento. Então fomos trabalhar, eu, meu amigo, o ninho, e a banana. Fomos de carro. Lá o conjunto, ocupou uma cadeira na minha sala de trabalho. Em intervalos de tempos, devido à insistência  dos piados de Ozzy, interrompia  o que estava fazendo para alimentar este filhote.  E assim  aconteceu até  a metade da tarde. Um colega de trabalho entrou em minha sala e espantado comenta: ‒ "Estou ouvindo um canto forte de sabiá aqui, vocês estão ouvindo?"

‒Sim, ele está ali naquela cadeira, só não sabia que era um sabiá! Respondi. "Um sabiá, não, uma sabiá, pois é uma fêmea. Cantora!"  Completou meu amigo, depois de observar aquele o passarinho. Pensei, mas não ousei comentar: Então é uma fêmea, por isso tão forte e resistente. Diante da confirmação do gênero mudamos o nome da criaturinha para Elis.

Meu amigo, um ornitólogo, levou nossa cantora, pois entendia como cuidar de passarinhos nesta situação. A Elis, por sua vez, teve uma chance de sobreviver e voltar um dia, livre para a sua casa, a natureza. A mim, coube o ninho vazio e o print ao reverso.

No final da tarde, ao retornar para casa, entro no carro, ligo o rádio e ouço a música que toca: ”Mama I’m coming home, Mama I’m coming home, I could be right, I could be wrong...” composição e interpretação de Ozzy Osbourne. Passo os olhos rapidamente sobre o banco do carona e meus olhos encontram somente uma cestinha e duas flanelinhas coloridas.












PRIMAVERA DE ELIZETE (Elizete Menezes)














Autora: Elizete Menezes



Como passar por ela e não se lembrar do tempo de infância, onde acordava todas as manhãs numa cidadezinha do interior, embalada pelo canto dos pássaros?
Eu saía correndo pra rua e avistava as borboletas, cada uma com seu colorido particular que encantava os meus olhos! Os beija-flores saltando de flor em flor, o jardim com suas flores lindas: rosas, girassóis, jasmins, margaridas, copos de leite... As que mais me encantavam eram as onze horas, que  se abriam  às onze  horas, justificando o seu nome. Eu ficava ali a esperar o seu desabrochar, admirando suas variadas cores.
Ó, linda primavera, que  desde criança eu me encantava com a tua chegada, e hoje, mesmo vivendo entre arranha-céus, ainda me encanta por onde passo, entre um muro e outro, e avisto  tua beleza! Ó, linda primavera, tu que me encantas entre o mar e o céu azul, tens o sol a se pôr e as estrelas que brilham juto à lua que nos clareia  ao anoitecer! Primavera, os teus dias e anoiteceres são os mais belos e  encantadores para o meu ver encantado de criança interior.
Primavera, tu hoje representas o meu sentimento de saudades de um pássaro, um beija-flor que se nutre com amor em uma linda flor entre todas da estação,  por entre os arranha-céus da cidade de pedra.


domingo, 29 de outubro de 2017

PEDRAS NO CAMINHO (Wander Costa)

Autor: Wander Costa

Com as pedras que encontrei no caminho fiz um castelo. Sonho realizado , prosperidade e abundância vividas em pares de anos, mas .... Sempre ele, mediador e fator desequilibrante, me desvendou como vivia perversamente no ócio , na sombra sorrateira do comodismo. Dores, amores, passavam e sequer me arranhavam. Um dia numa atitude voluntariosa resolvi remover uma pedrinha , Hummm, o alicerce balançou. A calma estática , tal qual uma mortalha, se agitou, e eu pude , após anos de preguiça conquistada , rever os campos , agora áridos , através dos olhos de quem eu havia deixado para trás . Ajuda eu pedi, e com ela os muros e o fosso foram removidos, pedra por pedra. O castelo hoje habita quem busca a alegria , a paz de um sol nascente, sempre em convívio justo e compartilhado. Agora olho  pelo alto da torre os verdes campos através do sorriso dos meus iguais.


CUENTOS DE LA FRONTERA (Laércio de Melo Duarte)







Autor: 
Laércio de Melo Duarte 


Estávamos os dois naquele final de tarde a beber whisky na varanda da Hosteria del Lagono tempo que a tríplice fronteira de Foz do Iguaçu ainda não se tinha convertido na central de contrabandos e drogas que é hoje.    Ainda era o tempo dos agradáveis restaurantes sob a sombra de frondosas árvores da mata Atlântica. Na toalha impecavelmente branca repousava o litro de Dimple, mais uma geleira e a água gasosa que chamávamos de soda, que adicionávamos ao precioso líquido amarelo para não ficar bêbado muito rápido. Volta e meia a cozinheira guarani mandava mais um pratinho com delicioso aipim frito, ao qual chamávamos mandioca.  



Meu cunhado falava de modo 
calmo, mas olhando diretamente nos meus olhos.


---- “Luchin, a noite foi feita para o prazer. Os bons cidadãos descansam para a jornada do dia seguinte, o que não deixa de ser até necessário, mas, nós, profissionais da noite, a aproveitamos para ganhar dinheiro e conquistar novos amores. Não pense que a vida de jogador de cartas seja fácil, mas, eu não a trocaria por nenhum cargo de gerente de banco ou coisa assim. Você tem muita experiência com mulheres?”

O atrevimento da pergunta repentina e seu estilo direto me irritaram, a ponto de atrapalhar-me ao tentar completar mais bebida no copo ainda cheio, enquanto respondia qualquer coisa sem sentido. Depois de um minuto de silêncio constrangedor, ele se explicou, retomando o controle da conversa.

---- “Digo isso por que é muito importante saber aproveitar as mulheres, caro cunhado Luchin. Elas podem te levar ao céu ou ao inferno, dependendo de como você as trata e conduz. O segredo é fazer com que elas se apaixonem por você. E isso se consegue com sexo e dinheiro. Primeiro, quando você vai para a cama pela primeira vez com uma mulher, deve se dedicar a ela de corpo e alma. Esqueça de você mesmo e concentre-se apenas na satisfação dos desejos dela. Gaste o que for necessário num jantar fino e romântico que nenhum homem anterior tenha lhe proporcionado. Na segunda vez, capriche mais ainda no sexo. Só comece a aproveitar lá pela quarta vez, quando então você pode começar a reclamar dos negócios, a dizer que falta dinheiro, que não está muito satisfeito como sua vida tem andado, coisas assim. Ela vai tentar protegê-lo, aí você poderá tirar dela o que quiser. Prazer, dinheiro, favores, tudo.”  

Eu ia ficando cada vez mais perplexo e furioso com aquelas idéias bizarras para mim, mas nada podia contra aquele conselheiro vinte anos mais velho, talvez chegando na faixa dos cinquenta, quando eu mal acabava de passar pelos vinte e cinco. Ele me dizia para aparecer no cassino, preferencialmente na alta madrugada, pois tinha muitas amigas interessantes para me apresentar.  O fato de eu ser casado com a irmã dele, pelo jeito não tinha qualquer importância. Dizia que gostava de mim e que eu era um bom cunhado, por isso me ensinava sua vasta experiência mundana de garoto nascido na margem direita do Rio Paraná, bem defronte ao  afamado encontro com as águas barrentas do Rio Iguaçu. Já era de meu conhecimento que sua vida de guri do mato fora bem animada. Mal surgia a alvorada e já saia com os demais mitaís  de sua idade, navegando precárias canoas sobre as profundezas abissais da foz ou entrando nos pequenos e calmos rios que gentilmente doavam suas águas ao colosso fluvial. Se apontasse a proa para o norte, cruzava para o Brasil, senão, para a Argentina. Às vezes entrava Iguaçu adentro, a levar pessoas e mercadorias desconhecidas a lugares ermos para onde as polícias não tinham coragem ou motivação de chegar. Não raro, atingiam as cataratas que o aventureiro Cabeza de Vaca foi o primeiro homem branco a apreciar, depois de naufragar no sul da Ilha de Florianópolis e mudar sua rota da fracassada cruzada terrestre em busca do El Dorado, em 1540. Esse Cabeza de Vaca de  quem a professorinha falava na escolinha de pau a pique era seu único herói, pois detestava os chefes militares paraguaios que mandaram seu pai lutar no Chaco boliviano, de onde voltou um pouco perturbado da cabeça e sem a mesma força nos braços. Apesar de ser um aventureiro internacional, o crupier Rojas mantinha profundo respeito e admiração pelas coisas paraguaias. 

O cenário da selva foi sua escola até que Juscelino Kubichecky, o presidente do Brasil, foi lá para inaugurar a Ponte da Amizade. Ao lado da ponte, o cassino de mesmo nome, para o qual o jovem canoeiro foi selecionado antes dos outros paraguaios, graças aos seus jeitos calmos e sua pele clara, que denunciava a origem espanhola de sua mãe, contra a herança guarani do pai. Hábil com as cartas, logo tornou-se crupier de primeira, chamado para as melhores e mais endinheiradas mesas, onde também pontificavam as mulheres mais calientes da noite fronteiriça.   


---- Bueno, cunhado,  chegou minha carona, tengo que ir me. Adiós ...

Embarcou num automóvel dirigido por bela senhora, tomando destino ignorado, porém presumível. O que foram fazer também não era difícil adivinhar e certamente não seria a primeira vez que o faziam. 

Enquanto a noite ia caindo sorrateira em meio aos relâmpagos na mata verde ao redor,  as primeiras luzes se ascendiam no ambiente familiar do restaurante. O garçom teve que perguntar uma segunda vez se eu queria o cardápio do jantar, imerso estava eu em meus pensamentos.

----- Haaaa, no, gracias, traga-me apenas a conta.
----- Yá está paga, señor.  

E saí noite adentro, de volta a cruzar a imensa ponte, pensando no que faria de minha vida.

PRIMAVERA DE ÁUREA (Áurea Ávila Wolff)




Autora: ÁUREA WOLFF

Não consigo escrever sobre a primavera. Os que fizeram esta tarefa foram  brilhantes e poéticos. Então começo como nos tempos de escola  dizendo que a primavera é uma estação do ano entre o inverno  e o verão.  Muito interessante. Saímos do verão e vamos para a primavera   saímos da primavera e vamos para o verão. Este tempo  separa as duas épocas do ano mais quentes e as mais frias. Separa ou une? A primavera fica entre o frio e o quente. É o tempo que faz a mente esquecer o desconforto  dos dias cinzentos, escuros e gelados do inverno e traz a esperança do calor do sol, da luminosidade que anima e dá vida aos seres humanos, aos animais e a toda a natureza. Também na nossa vida sempre vivemos muitas primaveras, muito tempo em que o inverno faz morada em nós trazendo dias frios  e escuros  em que a primavera aparece em forma de esperança e nos acena para dias claros de calor e de luz.  E quando as primaveras chegam na nossa vida assumindo variadas formas são coloridas, perfumadas, repletas de emoções de lágrimas e de encantos. Estamos agora vivendo a primavera deste hemisfério onde as árvores florescem e enfeitam nosso mundo com suas flores, seus botos nos dando esperança de calor e luz para o verão. Também no nosso grupo estamos vivendo a primavera.  Depois de um frio e tempestuoso inverno  e de um desastroso naufrágio, a primavera surge num envólucro de colorida surpresa, de sonhos e de esperança  e promete dias lindos de sol e calor para a nossa próxima estação. A estação do amor.




CANTO DOS IPÊS AMARELOS (Mara Lúcia Bedin)










Autora:
Mara Lúcia Bedin



Nestes últimos dias percebi-me bisolhando minhas memórias de infância, quantas lembranças! Por momentos vieram-me as lágrimas, embora os sentimentos fossem amenos.
Quando criança tinha uma voz bonita para o canto, afirmava quem entendia do assunto, e eu gostava de cantar. Pensando na possibilidade de vir a ter uma filha cantora, minha mãe investiu em aulas de canto orfeônico, onde aprendi também a cognição das partituras. Eu trocava alegremente as minhas horas de ócio infantil pelas aulas de canto. Cantava no coro da igreja. No mês de maio fazia solo na festa de coroação da Virgem. Lembranças tão nítidas me vieram que senti o cheiro da mirra e das velas na catedral lotada de fieis e revi a imagem estilizada da madona, que aos meus olhos infantis, não se parecia com um ser humano.
Mas abruptamente minha relação com o canto foi interrompida, a família mudou-se de cidade por questões de negócios. Por frustração, tristeza ou simplesmente por uma questão hormonal própria da puberdade, minha voz mudou de timbre e já não conseguia mais cantar... A vida seguiu. No entanto nunca consegui desapega-me do anelo de retornar ao canto um dia. Para a minha alegria este dia chegou na última semana.


MANUEL, O AUDAZ (Laércio de Melo Duarte)






Autor:
Laércio de Melo Duarte




Manuel era um velho jeep whillys da segunda guerra mundial. Por alguma razão, foi parar na BH nos anos setenta do século passado. Levava a turma do Clube da Esquina a passear nos finais de semana. 


Fernando Brandt fez o poema maravilhoso. Toninho Horta fez a música, com o auxílio luxuoso de Lô, o mais novo dos Borges, que aqui também canta de forma magistral. 



Mas, o destaque dessa gravação ficou por conta do norte americano Pat Metheny, considerado o mais importante  guitarrista de jazz da era moderna. O seu solo impressionante é uma das coisas mais brilhantes da música ocidental nos últimos 50 anos, pelo menos, comparável aos momentos mais inspirados do jazz em escala mundial. 


Ouçam: 




                       

NÁUFRAGOS LITERÁRIOS (apresentação do grupo)


GRUPO NÁUFRAGOS LITERÁRIOS FLORIPA (Junho/2018)

Era uma vez um grupo de marinheiros de primeira viagem que se reuniu para fazer uma incursão marítima, praticamente sem nada conhecer dos mares literários. Eis que todos se engajaram nas primeiras lições passadas pelo comandante, o qual incentivou a todos a navegarem firmes as águas da criação. Aos poucos, esse grupo de grumetes, em número de quinze, começou a sentir-se estimulado a velejar, e já havia aprendido a obedecer às ordens, conseguindo realizar várias tarefas primárias em alto mar. Realizava a manutenção dos equipamentos, providenciava os suprimentos necessários, bem como atuava diariamente para elevar o moral do grupo, o qual era muito unido. A ideia era dar uma volta completa ao planeta Terra, singrando os mares, enquanto assimilavam novos conhecimentos. Durante a viagem, após uma terrível tempestade, o grupo se deu conta de que o barco estava à deriva e sem comando. Passada a perplexidade, constataram que estavam diante de duas opções: entregar-se ao naufrágio e perecer, ou somar seus esforços e aptidões individuais para sobreviver e concretizar seu sonho.

COMPONENTES DO GRUPO:


Áurea Ávila nasceu em  Biguaçu, em 1935. Formou-se professora normalista  pelo Instituto Estadual de Educação Dias Velho de Florianópolis.  Foi professora  em Biguaçu,  Barreiros e  no Território Federal de Roraima. Participou na formação da Acojar - Associação Comunitária Jardim Santa Mônica -  e da construção de sua sede.  Tem 6 filhos e nove netos.  Gosta de ler e escrever, e por esta razão acompanha os Náufragos Literários, grupo no qual encontra enorme solidariedade.




Auri Tamino Silva nasceu em 1946. trazendo a paz ao mundo, com o final da segunda guerra mundial. É bancário aposentado da Caixa Econômica Federal. Foi atleta do AVAÍ. Auri se diz gratificado e feliz por participar do coletivo Náufragos Literários, onde conheceu "pessoas e ideais muito promissores". 






Delva Robles, nasceu em Tupã-SP em setembro de 1954. Mudou-se  com sua família para o Noroeste do Paraná, em 1960. Formou-se pela FAFIPA  no curso de Licenciatura em Ciências para o primeiro grau, em Paranavaí-PR. Casou-se em 1978 e tem três filhos e uma neta. Aposentou-se como bancária no Banestado. Vegetariana  convicta, atualmente mora em Florianópolis.






Eliana Haesbaert


Eliana Haesbaert (Lili, para quem preferir) é gaúcha, nascida no coração central de Porto Alegre, em agosto de 1948.
Formou-se na FAMECOS – Faculdade dos Meios de Comunicação Social (PUC/RS), especializando-se em Propaganda.
Começou na Standard Propaganda e logo depois mudou-se para a legendária e célebre MPM Propaganda, onde permaneceu por 10 anos. Casada, mudou-se para São Paulo, onde viveu por 16 anos, sempre trabalhando em agências de publicidade. Em 1993, por opção e amor adquirido, mudou-se para Florianópolis, reativando a ACP – Associação Catarinense de Propaganda, que dirigiu por 10 anos, quando se aposentou. Hoje, viúva, dedica-se à realização de cursos no NETI – Núcleo de Estudos da Terceira Idade (UFSC), faz parte do grupo Náufragos Literários Floripa, com foco na escrita, e já publicou dois romances solo.  

Elizete Menezes nasceu em Imbituba (SC), em 1963. Teve uma infância tranquila, entre animais domésticos e muitos arbustos. Aos 10 anos de idade mudou-se com a família para Florianópolis, onde vive até hoje. Estudou em escolas públicas. Casou-se aos 19 anos, teve 3 filhos. Retomou os estudos em 2006, formando-se Técnica em Enfermagem. É avó de uma menina e um menino. Ela, que sempre gostou de relatar todos os acontecimentos de sua vida, começou a frequentar, em 2017, uma Oficina Literária no NETI-UFSC e ali foi coautora do livro Memórias Compartilhadas, lançado em agosto do mesmo ano. Hoje participa do grupo Náufragos Literários e está encantada com a literatura e animada com a conquista de novos amigos.






Hans Christian Wiedemann

Nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de maio de 1943 e é         
formado em Engenharia Mecânica em 1967. Viveu um na ano na Alemanha e, durante sete anos, na Escócia.  Escreveu os primeiros textos, agora perdidos, aos 18 anos. "Nessa época eu já me perguntava o que estava fazendo no Planeta."
Somente mais tarde, aos 35 de idade, voltou a escrever algo,  agora na linha de filosofia. Depois de idoso, ao se aposentar, "se encontrou" na escrita, sempre sobre os temas: o que somos? O que fazemos na Terra? Quais percalços vamos encontrar? e Como podemos vencer nós mesmos?
"Hoje escrever faz parte do meu respirar, procurando ajudar a desenvolver os meus irmãos de caminhada."







Hélio Cervelin, reside em Florianópolis; é bancário aposentado, licenciado em Letras - Português; cronista, poeta e escritor; produziu crônicas para a revista O Economiário (CEF) nas décadas de 1980/90 e teve o poema “O Tropeço da Manhã”  classificado em 1º lugar em nível estadual no Concurso SIPAT 2000, da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL; possui mais de 100 poemas e inúmeras crônicas inéditas; participou da coletânea de poesias Os Bruxos (APCEF/SC, 1990); foi o orientador e revisor do livro A História de um Flanelinha, lançado pelo ex-flanelinha Clécio David Manoel, em Florianópolis, em 2015; é coautor do livro Memórias Compartilhadas (NETI-UFSC, 2017).




João Alvaro nasceu em Santana do Livramento (RS) no ano de 1949. Formado em Medicina Veterinária na UFRGS em Porto Alegre, estabeleceu-se na cidade de Paranavaí (PR), atuando em extensão rural, na EMATER-Paraná, por 30 anos e  em docência no ensino superior, na UNIPAR, por 7 anos.  Atualmente é corretor de imóveis em Florianópolis (SC). Casado há 39 anos, tem três filhos e  uma neta "maravilhosa", nascida no início desta primavera. João Alvaro passou a conviver com esta expressão artística, a Literatura,  de uma língua apaixonante, a Língua Portuguesa.



Laércio de Melo Duarte nasceu no norte do Paraná e cresceu entre violeiros e contadores de causos, além dos caboclos que trabalhavam pesado nas lavouras de café. Só conheceu o mar aos 18 anos de idade. Era pouco provável que um dia olhasse para trás e visse uma história de vida morando à beira da praia. Mas, como certas coisas são imprevisíveis e mágicas, aconteceu.   Agora, quando pensa em voltar para casa, não é mais a Maringá dos "pés vermelhos" que lhe vem à memória. É uma terra estranha de areias brancas e mar azul.



Lucila Mônica Fontana nasceu em 1957 em Capela Nossa Senhora da Conceição, localizada no município de Esmeralda (RS). Filha de Mario João Fontana e Tereza Bizotto Fontana. Só fez a primeira viagem para uma "cidade grande" em 1974: Caxias do Sul, na serra gaúcha. Na véspera do Natal de 2003, veio conhecer Florianópolis (SC), e disse para si mesma: "É aqui que vou morar". Até hoje mora na capital catarinense, onde atua como chefe de cozinha há 11 anos no mesmo restaurante. Integra o coletivo Náufragos Literários e diz "aqui voltei a sonhar".  



Mara Lúcia Bedin é original de Chapecó (SC), que naquele tempo era uma pequena cidade planejada no "fim do mundo". Hoje, o trajeto em avião para a capital do estado é feito em menos de uma hora. Mara é especialmente sensível para com as coisas da natureza e demonstra isso na beleza interior de sua personalidade marcante. Está fortemente interessada no próprio crescimento espiritual e artístico.




Maria Leonilda Scherner Rossi  nasceu em outubro de 1948 em  São José dos Pinhais , município da região metropolitana de Curitiba. É professora aposentada, licenciada em Letras Português / Inglês pela UFPR. Reside em Florianópolis há quase 40 anos, desde a transferência do marido. Ama os livros e a Língua Portuguesa desde pequenininha. Presente para os netos? Livros!



Nídia Maria de Leon Nobrega, fez Jornalismo na UFSM, é aposentada e não sabe fazer mais nada na vida a não ser escrever. Trabalhou no Jornal Santa Catarina, A Notícia e outros jornais e emissoras de rádio e TV do Alto Vale do Itajaí. Lecionou História e Geografia na rede pública e ministrou a disciplina de Técnica de Redação para acadêmicos do curso de Jornalismo da UNIDAVI. Também atuou na área de comunicação organizacional e, após pendurar as chuteiras, resolveu se aventurar na literatura. O texto não adjetivado do jornalismo ainda a limita nas licenças poéticas para transformar em crônicas e contos as histórias que colheu nos seus 45 anos de reportagem. É aprendiz e meio rebelde, mas, que se encanta com novas experiências e amizades.


 
 
Querubina Ribas nasceu em Herciliópolis (SC), em 1940, numa fazenda chamada Arvoredo. É mestre em Engenharia Sanitária Ambiental, pela UFSC; Especialista em Fundamentos da Educação  Brasileira pela UDESC; professora aposentada de Língua e Literatura Brasileira do Colégio de Aplicação da UFSC.  Participou do livro "O Professor é Poeta" , editado pela UFSC;  autora dos manuais metodológicos "Educação Sanitária e Ambiental" , e, "Inserção da Educação Sanitária e Ambiental em Sala de Aula"; coautora dos livros: "Santa Catarina a Origem de seu  Nome", e, "Santa Catarina a Jovem Princesa de Alexandria"; Organizadora do livro de alunos de Água Branca/Alagoas, "Um Guarda –Sol Verde ao Meio Dia."


Valda de Andrade nasceu em Florianópolis (SC) no ano de 1940. Aos quinze anos de idade, convenceu-se que deveria ser enfermeira e fez dessa sua profissão por toda a vida. Todas as manhãs, ao nascer do sol, Valda medita e faz sua oração, ouvindo sua voz interior e as batidas lentas de seu coração. E começa mais um dia, cheia de fé! 



O paulistano Wander Costa nasceu em 1957 e mora em Floripa há dez anos. Formado em administração de empresas, com mestrado em gestão de Recursos Humanos, também teve formação em técnicas terapêuticas como Renascimento, Jogo da Transformação, Do-In, entre outras. Seus hobbies preferidos são cantar, estar com amigos e viajar.