
Autora: Delvani Silveira
Chegamos ao aeroporto de Ushuaia
às 8 horas da manhã. Viemos de um
voo que saiu de Buenos Aires e durou
cerca de 3 horas e 30 minutos. O Avião
estava lotado. Encontramos um
aeroporto bem movimentado. É o aeroporto
internacional mais ao sul do mundo, que está situado na cidade mais austral do
mundo como dizem os argentinos. Tivemos
a sorte de pegar um taxista que gostava
de conversar e foi nos mostrando e contando um pouco da história do lugar que
estamos curiosos para conhecer. O clima
frio já nos mostra sua inconstância logo na chegada. Frio sempre, embora fosse janeiro: 5°C foi a temperatura média que pegamos por
lá. Chuva fina, sol ou tempo nublado com
muitas nuvens e tudo pode mudar de uma hora para outra. A calefação em todos os
ambientes encanta os brasileiros que lotam as cafeterias e restaurantes da cidade.
Ushuaia está localizada no extremo sul
das Américas e é de onde partem as expedições para a
Antártica que fica à 1000 km de distância. Possui uma população de
aproximadamente 60.000 habitantes. O nome provém do idioma indígena Yagan, USHU
+AIA que significa Fundo + baia, ou seja, Baia profunda. O primeiro registro
escrito da existência de Ushuaia é de
1520, e foi feito pelo navegador português Fernão
Magalhães, que buscava um novo
caminho para as Índias que não o obrigasse a contornar a África.
Chamou a sua atenção as
inúmeras fogueiras acessas nas margens do estreito e por
isso a batizou de TERRA DE FOGO. Pouco depois se constatou que eram nativos da ilha que viviam nus e as fogueiras era o método que usavam para
se manterem aquecidos. A viagem obteve o sucesso desejado, pois comprovou a
existência de um canal que ligava o
Pacífico ao Atlântico e foi batizado com seu nome (estreito de Magalhães). Até 1914, quando foi construído o canal do
Panamá, esta foi a principal rota de
navegação entre os oceanos.
Em 1902, na tentativa de povoar esta região, o governo Argentino
começou a construção de um
presídio. Os próprios presos
construíram o presídio. As dificuldades logísticas eram imensas. O frio e a neve eram
companheiros permanentes. Para a
extração de lenha de um bosque que ficava a
cerca de 25km de distância foi
construído um trilho de madeira onde pequenos vagões com tração animal carregavam pedra, areia e especialmente
madeira. Somente em 1909 os presos
puderam usufruir desse transporte,
quando os trilhos foram adaptados e uma locomotiva seria usada para levar e
trazer os encarcerados. Para este presídio seriam enviados
presos condenados por crimes brutais que eram reincidentes. Nos anos finais de seu funcionamento, recebeu
também presos políticos.
Havia um programa de alfabetização dos presos, pois a grande maioria era
analfabeta e também recebiam um salário
pelo trabalho que faziam na
construção do próprio presídio, nas
oficinas fabricando sapatos, roupas,
artesanatos ou cortando lenha no agora
denominado parque Nacional Terra do
Fogo.
Com a construção do presídio
vieram algumas empresas necessárias para a própria manutenção do
presídio como uma alfaiataria, uma sapataria, um ateliê de fotografia, uma
farmácia e mais tarde um pouco, vieram os bancos e os hotéis. Assim começou a colonização deste
ponto distante no mapa.
As fugas frustradas fazem parte
da história de Ushuaia. Muitos tentavam fugir, mas voltavam ou eram
encontrados pelos soldados, quase
mortos de frio e fome. Eram duramente
castigados. O pior de todos os castigos era ficarem sem sair do presídio para
trabalhar, pois tinham que permanecer na
pequena cela gelada sem comunicação com o mundo lá fora. Após cumprir sua pena os presos, sem terem
para onde ir, acabavam ficando por lá. Há relatos de muito sofrimento, maus
tratos e tortura. Em 1947 um decreto presidencial assinado por Juan
Domingo Perón fechava o presídio,
alegando razões humanitárias.
Toda a estrutura do presídio foi então transformada em Base Naval. Hoje,
há um museu marítimo que está inserido no antigo presídio e conta a história do
próprio presídio e da cidade.
Trem do Fim do Mundo - os
trilhos que antes os encarcerados percorriam para cortar lenha, hoje foi
reconstruído e reconstituído como era naquela época, e com uma réplica do trem
fazendo os últimos 07 km do percurso, os milhares de turistas podem fazer este
passeio na locomotiva que solta muita
fumaça e conta muita história.
A Navegação no canal do Beagle
é um passeio obrigatório. Tem
inúmeras opções de passeios como, por exemplo, ir até a
pingüinera e caminhar entre os
animais, podendo tirar fotos com eles ou navegar até o farol passando por inúmeros habitat
de animais. Além disso, pode-se
mergulhar com guia no canal gelado ou dar uma volta de helicóptero.
Depois de Ushuaia fomos até El
Calafate para visitar a maior geleira em
extensão horizontal do mundo: o glaciar Perito Moreno, que se encontra
constantemente em evolução. Para visitar
o glaciar é necessário ir de ônibus, ou de
carro, partindo da cidade de El
Calafate, que dista 80km do
glaciar. O Parque Nacional dos
Glaciares conta com inúmeras geleiras, entre
elas estão Perito Moreno, Upsala,
O`Nelli entre outras, formando a 3ª maior reserva de água doce do mundo, atrás
somente da Antártica e da Groenlândia.
El Calafate era, a princípio, um ponto perdido no meio do gelo, que
negociantes de lã de ovelhas deixavam depositados ali
seus produtos. A origem do nome é
em homenagem a um pequeno fruto que dá na região, de nome calafate. Trata-se de
um arbusto perene, sempre verde, que floresce de outubro a janeiro, dando um pequeno fruto doce e escuro, que serve
de alimento e abrigo para os pássaros no
rigor do inverno.
El Calafate possui um aeroporto moderno e inúmeras empresas de turismo.
A cidade conta com 21.000 habitantes.
Lugar lindo, cidadezinha encantadora cravada no meio de montanhas de
pedras com pouquíssima vegetação rasteira.
No meio do nada surge esta cidadezinha organizada, limpa, moderna, que
irradia luz. Estivemos lá em janeiro e o
sol brilhava até às 10 horas da
noite.
O que não gostei em Ushuaia? Bom... Sendo eu vegetariana, fiquei
horrorizada com um dos pratos típicos de
lá que é a Centolla. Trata-se de um caranguejo gigante, que é
encontrado nas águas gélidas daquele lugar e que pode pesar até 4 quilos. Inúmeros restaurantes mantêm enormes aquários
com esses animais vivos para o
cliente escolher qual será a vítima.
Há filas de espera nos restaurantes.
Outro prato típico é o Cordeiro
Patagônico, que, depois de abatido e
preparado, é assado aberto e amarrado em varas próximo de uma
grande fogueira, que geralmente fica exposta ao público. Há também a Merluza negra, conhecida também como bacalhau da profundidade e é
encontrada especialmente nas águas geladas da Antártica. É um peixe que pode ter até dois metros de comprimento
e pesar
mais de 100 quilos.
Para finalizar, de Ushuaia, ficou a lembrança do Canal Beagle, que
ficava em frente ao meu hotel, com seus navios e barcos atracados, de seu clima
inesperadamente surpreendente, do trem do fim
do mundo e das muitas histórias
do presídio, que foi o impulso para o nascimento de Ushuaia. De El Calafate ficou a emoção de andar pelas
passarelas do Perito Moreno e da
navegação para chegar ainda mais perto
daquele paredão de gelo. Foi uma emoção indescritível.
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