
Autora: Eliana Haesbaert
Há alguns anos, criei o hábito de ouvir às sextas-feiras, no final da tarde,
agora às 18h30, o programa “Fim de Expediente”, pela Rádio CBN, feito pelo trio
Dan Stubalch, José Godoy e Luiz Gustavo Medina, o Teco.
Algumas vezes eles fazem programa sem convidados e antes da Pandemia,
às vezes em auditórios em qualquer capital brasileira que tenha uma emissora
filiada à rádio. Caso o convidado seja alguém ligado aos Esportes, desligo o
rádio. Claro que se o assunto me interessa, ouço o programa inteiro, até as
20h00.
Na sexta-feira da semana passada, quando foi anunciado que o entrevistado
seria o Miguel Fallabela, imaginei ouvir uma entrevista inteligente, ágil, bem
humorada e relevante, pela intelectualidade
criativa amplamente conhecida do Miguel, que além de excelente ator é
criador e diretor de programas de TV, filmes longa-metragem e peças de teatro.
Qual minha surpresa, quando o programa se encerrou, o entrevistado foi
o tempo todo sério, reflexivo, deprimido e deprimente, quase transmitindo um
sentimento de angústia e tristeza. Totalmente contrário de tudo aquilo que eu
esperava ouvir.
Dias depois fiquei sabendo que ele deixara a Rede Globo.
Lembrei-me de quando jantei ao lado de Chico Anísio, nos anos 70, durante
uma Convenção Anual de revendedores da Distribuidora de Produtos de Petróleo
Ipiranga, na cidade de Rio Grande, sede do
Grupo de Petróleo Ipiranga.
Ele, Chico Anísio, havia sido contratado para fazer o show após o jantar
de encerramento da Convenção para a plateia de cerca de 400 pessoas entre
dirigentes e alguns funcionários da Ipiranga e da
MPM Propaganda e cerca de 200 casais de proprietários de postos Ipiranga
do RS e SC que lotavam o salão do principal clube social da Praia do Cassino. Tenho
uma foto da mesa de jantar de algumas pessoas, em que
estou sentada ao lado do Chico Anísio, na época o mais brilhante e famoso
comediante do país, todos circunspectos e com ar tristonho, num momento em que
imaginávamos todos risonhos e felizes, pois acabávamos de assistir ao show
monólogo em que todos quase desfaleceram de tanto rir ininterruptamente.
Pois a entrevista do Miguel Fallabela no programa Fim de Expediente
foi assim, pra baixo.
Em contrapartida ontem, sexta-feira, dia 05 de junho de 2020, em plena
e sufocante pandemia da Covid-19, o entrevistado foi o ícone e adorável NELSON
MOTTA, jornalista e cronista brilhante,
compositor de letras-poemas de lindíssimas canções clássicas e imortais
da melhor fase da MPB com inúmeros parceiros dos mais importantes (“Como uma
onda”, com Lulu Santos, “Coisas do Brasil”, com Guilherme Arantes. “Saveiro” e
“O Cantador”, com Dory Caymmi e mais de outras cerca de 200 músicas
inesquecíveis.
E o Nelson Motta escritor? Esplêndido!
Li e tenho “O Som e a Fúria de Tim Maia”, uma biografia apaixonada e particularmente
hilariante do artista, suas histórias de memórias musicais em “Noites
Tropicais”, assim como “As Sete Vidas de Nelson Motta, com aquela foto
histórica, em que ele, nos seus 20 anos, um copo de uísque na mão, junto de Tom
Jobim,
Vinícius de Moraes, Edu Lobo, Francis Hime, Paulinho da Viola, Chico
Buarque e outras tantas feras musicais daquela época.
Li, mas não possuo, o livro “Força Estranha”, com ótimos contos. E ele
anunciou que quando começou o isolamento físico social da pandemia, estava pela
página 50 do seu novo livro, e aproveitou o confinamento para concluir sua
autobiografia, revisar e que está em produção
na editora para lançamento previsto em Novembro deste ano. Contou que escreveu
na terceira pessoa para se sentir mais livre para falar do seu personagem
Nelsinho, que sempre teve muita boa sorte na vida, desde a infância. O título
do livro é “CÚ PARA A LUA”, subtítulo mais ou menos assim “Fatos, Peripécias de
um Sortudo” . Conta que vários acontecimentos marcantes da sua vida foi devido
à sua boa sorte e não fala, nem escreve aquela palavra contrária à boa sorte,
com 4 letras, nem sob tortura.
Aos 75 anos, Nelson Motta, sempre jovial, alegre e muito bem humorado,
falando sobre a política atual comparada a tudo que enfrentou e passou durante
a Ditadura Militar, disse ser um otimista, sempre com esperança. “Sou
literalmente o pai da Esperança”, nome da sua filha com Marília Pêra.
Contou, naturalmente, que fuma maconha há 55 anos e nunca cometeu
crime algum, sempre pagou seus impostos , sempre foi um cidadão trabalhador,
correto e honesto. Hoje, pela idade avançada, é um baseado aqui e um acolá. Eu
ficaria horas ouvindo toda aquela espontaneidade autêntica, leve
e solta..
Agora, fico aguardando a autobiografia do personagem Nelsinho, que nasceu
com “aquilo virado para a lua”.
Afinal, ele é um patrimônio da nossa geração.
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