segunda-feira, 22 de junho de 2020

PARTILHAR O PÃO (Hélio Cervelin, (17Jun20)


Autor: Hélio Cervelin

Pão sagrado e abençoado
Que enfeita a mesa do rico
E sacia a fome do pobre
Infeliz e abandonado

Pão buscado dia após dia
Por rostos exaustos, molhados
de sangue, suor e dor
Componentes primordiais
deste pão acompanhado
De sacrifício, persistência e labor

Pão que resulta da terra
Cultivada sob o sol
Fortaleza da germinação
Semente que não brota sozinha
Mas é fruto de mãos calejadas
Que a regam com obstinação.

Partir o pão, partilhar o amor
Amenizar o sofrimento
Aplacar a dor
Abrir nosso coração
Perceber o faminto ao nosso lado
Pela sociedade, excluído
Pela sorte abandonado

Mãos que clamam aos céus, suplicantes
Buscando a ajuda de Deus
Desejando ser lembrado

Oferecendo-se em sacrifício
Fazendo preces e promessas
Pra ver seu pecado perdoado 





terça-feira, 16 de junho de 2020

BELEZA DA DUALIDADE (Hans Christian Wiedemann)




Autor: Hans Christian Wiedemann

O Belo é existir
Sendo o princípio
Podendo olhar
Precisando da dualidade
Tendo dois pontos.

Dualidade
Nunca são opostos
Mas sim complementos
Inexistindo independentes
Por serem os dois lados.

Para haver o belo
Deve haver outro
Procurando ver
Sentindo o oposto
Olhando o primeiro.

A unidade é ficção
Por inexistir
Sem um Meio
Como referência
Da sua existência.

Se tudo for o Uno
Será o Infinito
Sendo o Tudo
Inexistindo a Parte
Como a espiritualidade.


SEGREDOS (Áurea Ávila Wolff)



Autora: Áurea Wolff

Dentro de mim, bem guardados
A sete chaves, estão
Segredos que não são revelados
E permanecem no coração.

Uma peraltice de criança….
Uma descoberta de adolescente….
Um pecado de adulto…..
Num recanto da mente

Escondidos de mim mesma
Da vergonha  trazem lembranças.
Dos questionamentos dúvidas
De vulcões a águas mansas.

São os recantos do meu ser
Bonitos ou feios são só meus
Ninguém entre neste espaço
São meus e os conhece apenas Deus.

Três  Riachos, 15 de junho de 2020.    
Em isolamento     








quinta-feira, 11 de junho de 2020

SENIORIDADE (Hans Christian Wiedemann)



Autor: Hans Christian Wiedemann

O tempo é criação humana
Para sua satisfação
Usando benefícios
Que nós mesmos criamos
Para nossa reposição.

A senioridade
É parte do ciclo
Sendo o aprendizado
Da evolução
Para nossa inteligência.

Na realidade
O que chamamos
De inteligência
É somente aprendizado
Permitindo a satisfação.

O Homem cria doenças
Por pouco aprender
Na sua existência
Querendo viver
Deixando de respeitar.

Ficamos mais experientes
Criando artificialismos
Dizendo ser tecnologia
Que o Ser tem consumido
Precisando de Consciência

quarta-feira, 10 de junho de 2020

SUA HISTÓRIA (Elizete Menezes)



Autora: Elizete Menezes

O que acontece na sua historia, no entardecer de sua vida?
Muitas vezes você nem percebe, mas sua vida passou e sua história está inacabada. Isso acontece quando você deixa a vida passar por você. Se você não passar pela vida de nada adiantará ter vivido.
Sua história tem começo meio e fim.  Não deixe chegar ao final o que apenas começou, sem nem mesmo  saber o seu meio. Às vezes, no meio do caminho você encontra novas amizades, novas realizações, um novo amor. O meio  de sua historia muitas vezes é a descoberta de grandes emoções, grandes alegrias, e a melhor parte é de onde temos recordações, saudades pra chegar ao fim.
O fim, qual será e quando será? 
Então vamos fazer um bom começo, e no caminho, com certeza, vamos ter decepções, desilusões, tristezas, perdas, saudades... Mas podemos também ter alegrias, conquistas, felicidades, amores. Isso faz parte da sua história, da  história de cada um.
A vida não vem com manual de instruções. Você tem que aprender para saber conduzi-la. Você é aprendiz. E a vida te ensina, mas você precisa querer aprender a fazer.
A sua história você mesmo a conduz.



terça-feira, 9 de junho de 2020

QUASE AMOR, QUASE FELICIDADE ( Hélio Cervelin, 08 jun 2020)



Autor: Hélio Cervelin

Atitudes hostis nos afastam mais e mais
Gestos bruscos constroem em nós densas barreiras
E assim, aos poucos, diluem-se os sentimentos
E o carinho esvai-se de todas as maneiras

Dúvidas me assaltam, diuturnamente
Terá existido essa intensa atração?
Encanto efêmero que se desfaz num repente
O nosso amor foi como bolha de sabão

Sinto que foi uma relação de conveniência
É triste amar sem ser amado realmente
O nosso amor ensaiou uma linda peça
Que jamais conseguiu apresentar-se longamente

No palco de nossas vidas essa peça terminou
Fecham-se as cortinas, o elenco foi embora
O que se pensava ser amor era uma amizade tolerante
O amor não se apresentou e não será encenado agora

Olho para os lados e vejo casais felizes
Transbordando amor em seus olhares de ternura
Pergunto: por que nós dois não tivemos a mesma sorte?
Nossa relação foi palco de desventura

Décadas perdidas, sentimentos mal-encenados
Sensação de quase amor, clima de pré-temporada
Será que algum dia seremos felizes como os outros?
Existirão casais apaixonados na outra vida sonhada?







FIM DE EXPEDIENTE (ELIANA HAESBAERT)



 

Autora: Eliana Haesbaert

Há alguns anos, criei o hábito de ouvir às sextas-feiras, no final da tarde, agora às 18h30, o programa “Fim de Expediente”, pela Rádio CBN, feito pelo trio Dan Stubalch, José Godoy e Luiz Gustavo Medina, o Teco.
Algumas vezes eles fazem programa sem convidados e antes da Pandemia, às vezes em auditórios em qualquer capital brasileira que tenha uma emissora filiada à rádio. Caso o convidado seja alguém ligado aos Esportes, desligo o rádio. Claro que se o assunto me interessa, ouço o programa inteiro, até as 20h00.
Na sexta-feira da semana passada, quando foi anunciado que o entrevistado seria o Miguel Fallabela, imaginei ouvir uma entrevista inteligente, ágil, bem humorada e relevante, pela intelectualidade
criativa amplamente conhecida do Miguel, que além de excelente ator é criador e diretor de programas de TV, filmes longa-metragem e peças de teatro.
Qual minha surpresa, quando o programa se encerrou, o entrevistado foi o tempo todo sério, reflexivo, deprimido e deprimente, quase transmitindo um sentimento de angústia e tristeza. Totalmente contrário de tudo aquilo que eu esperava ouvir.
Dias depois fiquei sabendo que ele deixara a Rede Globo.
Lembrei-me de quando jantei ao lado de Chico Anísio, nos anos 70, durante uma Convenção Anual de revendedores da Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga, na cidade de Rio Grande, sede do
Grupo de Petróleo Ipiranga.

Ele, Chico Anísio, havia sido contratado para fazer o show após o jantar de encerramento da Convenção para a plateia de cerca de 400 pessoas entre dirigentes e alguns funcionários da Ipiranga e da
MPM Propaganda e cerca de 200 casais de proprietários de postos Ipiranga do RS e SC que lotavam o salão do principal clube social da Praia do Cassino. Tenho uma foto da mesa de jantar de algumas pessoas, em que
estou sentada ao lado do Chico Anísio, na época o mais brilhante e famoso comediante do país, todos circunspectos e com ar tristonho, num momento em que imaginávamos todos risonhos e felizes, pois acabávamos de assistir ao show monólogo em que todos quase desfaleceram de tanto rir ininterruptamente.
Pois a entrevista do Miguel Fallabela no programa Fim de Expediente foi assim, pra baixo.

Em contrapartida ontem, sexta-feira, dia 05 de junho de 2020, em plena e sufocante pandemia da Covid-19, o entrevistado foi o ícone e adorável NELSON MOTTA, jornalista e cronista brilhante,
compositor de letras-poemas de lindíssimas canções clássicas e imortais da melhor fase da MPB com inúmeros parceiros dos mais importantes (“Como uma onda”, com Lulu Santos, “Coisas do Brasil”, com Guilherme Arantes. “Saveiro” e “O Cantador”, com Dory Caymmi e mais de outras cerca de 200 músicas inesquecíveis.
E o Nelson Motta escritor? Esplêndido!
Li e tenho “O Som e a Fúria de Tim Maia”, uma biografia apaixonada e particularmente hilariante do artista, suas histórias de memórias musicais em “Noites Tropicais”, assim como “As Sete Vidas de Nelson Motta, com aquela foto histórica, em que ele, nos seus 20 anos, um copo de uísque na mão, junto de Tom Jobim,
Vinícius de Moraes, Edu Lobo, Francis Hime, Paulinho da Viola, Chico Buarque e outras tantas feras musicais daquela época.
Li, mas não possuo, o livro “Força Estranha”, com ótimos contos. E ele anunciou que quando começou o isolamento físico social da pandemia, estava pela página 50 do seu novo livro, e aproveitou o confinamento para concluir sua autobiografia, revisar e que está em  produção na editora para lançamento previsto em Novembro deste ano. Contou que escreveu na terceira pessoa para se sentir mais livre para falar do seu personagem Nelsinho, que sempre teve muita boa sorte na vida, desde a infância. O título do livro é “CÚ PARA A LUA”, subtítulo mais ou menos assim “Fatos, Peripécias de um Sortudo” . Conta que vários acontecimentos marcantes da sua vida foi devido à sua boa sorte e não fala, nem escreve aquela palavra contrária à boa sorte, com 4 letras, nem sob tortura.
Aos 75 anos, Nelson Motta, sempre jovial, alegre e muito bem humorado, falando sobre a política atual comparada a tudo que enfrentou e passou durante a Ditadura Militar, disse ser um otimista, sempre com esperança. “Sou literalmente o pai da Esperança”, nome da sua filha com Marília Pêra.
Contou, naturalmente, que fuma maconha há 55 anos e nunca cometeu crime algum, sempre pagou seus impostos , sempre foi um cidadão trabalhador, correto e honesto. Hoje, pela idade avançada, é um baseado aqui e um acolá. Eu ficaria horas ouvindo toda aquela espontaneidade autêntica, leve
e solta..
Agora, fico aguardando a autobiografia do personagem Nelsinho, que nasceu com “aquilo virado para a lua”.
Afinal, ele é um patrimônio da nossa geração.


sexta-feira, 5 de junho de 2020

SINFONIAS PERDIDAS (Hélio Cervelin, 04 jun 2020)



Autor: Hélio Cervelin

 Contemplo o céu e vejo a mim mesmo
Minhas dúvidas assaz multiplicadas
O infinito é mesmo um mar sem fim?
Até aonde alcançam minhas cogitações?
Penso, logo existo!
Senões...

Minha mente reage insistentemente
O que realmente acontece?
Elucubrações sem fim brotam ao léu
E meus sentimentos desabrocham céleres
Rompendo os limites do céu

Naves interplanetárias me esperam
Desafiando as minhas percepções
Meus átomos insistem em viajar
Conhecer, desbravar
Em busca de novas emoções

Vibrações quânticas me invadem
Quando será a viagem final?
Luzes brilhantes povoam o Cosmo
Será uma quimera, esse espaço sideral?

Pássaros cintilantes revoam na estratosfera
Enquanto a bela mulher nua se deita
Anjos de  luz se postam à minha espera
E o mal por toda a Terra, à espreita

Pairam no ar as areias de um deserto dourado
Cascatas de águas puras espalham belas melodias
Gotas d'água respingam nas ramagens
Enquanto as naves cortam um espaço de magia

Desejos reprimidos se manifestam, intensamente
Na cor lilás de uma distante luz
Atraindo as energias que transmutam
E o meu pensamento ao infinito me conduz.



quarta-feira, 3 de junho de 2020

PAPAI, PARA QUE SABER SUA HISTÓRIA? (Hélio Cervelin,, 02 Junho 2020)




Autor: Hélio Cervelin

Queridas filhas,
Nossa relação paterno-filial já ultrapassou os trinta anos para a caçula, beirando os quarenta anos para as duas que nasceram antes. E essa constatação me leva a  imaginar ou perguntar o quanto vocês conhecem ou desconhecem sobre seu próprio pai. A impressão que tenho é a de que me conhecem muito pouco ou quase nada.
Quase septuagenário, posso afirmar que já vivi muitíssimas e variadas situações ao longo do tempo, e tenho muitas histórias para contar  para quem estiver disposto a me  ouvir. Nesses quase quarenta anos, tenho a impressão de  que vocês sempre se "bastaram" e nunca sentiram a necessidade de conhecer melhor o seu agora "velho" pai: sua infância, suas dores e angústias, erros e acertos, desafios enfrentados e superados, e derrotas sofridas e atuais  preocupações.
Diante  da loucura frenética do mundo moderno, as pessoas, de um modo geral, aí incluídos pais e filhos, quase nunca têm tempo para melhor se conhecerem. Antes era a "bendita" TV que nos tomava toda a atenção. Depois, vieram outros instrumentos de alienação e lazer, até chegarmos ao poderoso smartphone, com seus torpedos, Whatsapp, Instagram, Facebook e os infindáveis games, além de dezenas de outros entretenimentos, suficientes para eliminar de vez o diálogo familiar. Assim, neste mundo de desvarios, as atenções e  interesses dos jovens estão voltados, exclusiva e preferencialmente para suas "tribos", para o tênis da melhor marca, as roupas da moda, as publicações diárias no Instagram, a última live, as baladas regadas a energéticos misturados ao álcool, completadas com sexo, drogas e noitadas sem dormir, trocando a noite pelo dia e o dia pela noite. Mas, e o futuro? Quem está pensando no futuro?
Vocês não sabem - e provavelmente não têm interesse em lembrar ou ficar sabendo - que seu pai fez parte da geração de 1968, em que a juventude saiu, literalmente, às ruas para protestar contra a ditadura militar, em manifestos por mais liberdade, exigindo a volta para casa dos jovens presos e torturados e dos líderes  políticos desaparecidos, e pedindo o fim do regime de arbítrio na sociedade brasileira, correndo todos os riscos que essa luta oferecia.
Vocês também não sabem que, restauradas parcialmente essas liberdades democráticas após 21 anos de silêncio, e após a perda de amigos, professores e outras personalidades, no início da década de 1980, seu pai e sua geração ainda tiveram que sair às ruas para exigir a restauração das eleições diretas para Presidente da República, intento só concretizado cinco anos depois, nas eleições de 1989, ainda com um pleito viciado pelo poder da mídia, com ranços da ditadura e da censura, desacostumada das relações éticas e democráticas.
Não devem se lembrar, pois eram crianças na época, que a geração de seus pais, ajudada pelos jovens de então, se rebelou contra os desmandos do primeiro presidente eleito por eleições diretas após a ditadura, Fernando Collor de Mello, o qual fez por merecer o seu  impedimento (impeachment), em 1992, após muitas manifestações nas ruas pelos chamados "Caras Pintadas", clamando por sua destituição.
Não devem ter consciência também de que a luta política pela conquista e manutenção da cidadania, da democracia e das liberdades exige insistente vigilância e diuturna organização dos cidadãos, por meio das entidades políticas e sociais, especialmente os sindicatos, a ponto de, em nosso país - após mais de uma década de paz social - o monstro do fascismo ressurgiu, em 2013, para derrubar uma presidenta da república eleita democraticamente, e sem nenhum crime comprovado. Vale lembrar que seu vice e sucessor, o golpista e traidor Michel Temer, também foi processado (por crimes comprovados), livrando-se do  impeachment por duas vezes, em 2017, precisando, para isso, "comprar" parte dos congressistas do grupo chamado de Centrão, acostumado a fazer "qualquer negócio", como receber benesses financeiras e cargos públicos distribuídos a seus membros.
Já em 2014, havia surgido uma operação policial denominada Lava Jato (sic), liderada por um  juiz de primeira instância e pouco afeito aos estudos da língua portuguesa, treinado nos EUA, o qual, agindo seletivamente também como investigador do Ministério Público, implantou o terror do "denuncismo" a qualquer preço e bem remunerado no país, mandando encarcerar um grande número de membros do Partido dos Trabalhadores (PT),  prendendo também, sem crime comprovado, o seu líder máximo e presidente do país por oito anos consecutivos, Luiz Inácio Lula da Silva, e deixando livres diversos expoentes de outros partidos, apesar dos vários indícios de crimes não investigados, a exemplo do ex-presidente FHC, este por ser "nosso aliado".
Vocês ignoram que o seu pai, já cansado das lutas, precisou voltar à batalha, agora, a partir do governo golpista de Temer, e continuado na eleição de Bolsonaro em 2018, para tentar impedir o retorno dos dias sombrios do passado, retorno este consubstanciado na perseguição às minorias, na anulação dos Direitos Humanos e na entrega a países estrangeiros dos bens pertencentes ao povo brasileiro. Em seu projeto de privatização estavam desde o petróleo do subsolo e suas refinarias, passando por tecnologias da aeronáutica e da indústria da construção civil, e pelo desmonte de estatais e das empresas privadas nacionais mais importantes. Tudo isso praticamente concretizado com a anuência dos demais poderes da República, sob o olhar perplexo da sociedade civil.
Vocês  ainda não tomaram consciência de que, a continuar esta situação, muito em breve nosso país terá desnacionalizado todas as suas riquezas, e nosso povo será despojado dos seus poucos bens e transformado em escravo das transnacionais, tornando-se uma simples colônia rural, dependente das tecnologias estrangeiras, e pagando caro por elas. Sem contar que, no ritmo em que as tecnologias estão evoluindo, muito em breve as máquinas altamente tecnológicas estarão realizando todas (ou quase todas) as tarefas que os humano desempenham até aqui.
Não bastassem todos os problemas relatados, a sociedade brasileira está contaminada por um movimento político de extrema-direita, liderado pelo presidente Bolsonaro, que impõe uma onda de nazi-fascismo, a qual abala nossas instituições, espalha mentiras, estabelece um "Estado Policial", pondo em risco as liberdades e pretendendo enterrar de vez nossa democracia.
Nossa economia, por sua vez, afunda mais a cada dia. E para agravar a situação, estamos sendo invadidos por uma pandemia de proporções planetárias, a COVID 19, que já dizimou mais de cem mil vidas humanas só nos Estados Unidos, mais de trinta mil aqui em nosso  país, sem falar da Europa e das demais regiões do planeta. Enquanto isso, nosso Presidente da República quase nada faz para minimizar o grave problema, chegando a chamar essa tragédia de "gripezinha" que não precisa de maiores cuidados. Já demitiu dois ministros da saúde, e no momento atua com um nome interino, que nem da área é, pois se trata de um militar de alta patente.
Por isso, minhas filhas, ouçam o que o seu pai tem a dizer. Não são apenas histórias políticas que tenho para contar. Minha família é numerosa, de imigrantes, que têm muitas histórias que valem ser ouvidas. Conheçam um pouco sobre seus antepassados e tentem aprender com suas vivências de sofrimentos, de lutas e superação. Ouçam os conselhos dos que chegaram antes. Eles  são vivência pura, uma experiência ávida por trocar de mãos, de pensamento e de coração. E não sabemos quanto tempo ainda teremos para isso.


terça-feira, 2 de junho de 2020

PLENITUDE E FELICIDADE (Hélio Cervelin, 15Out2018)



Autor: Hélio Cervelin

Será possível ser feliz e alcançar a plenitude em nossas vidas?
Dia após dia, ano após ano, trabalhamos e estudamos para sobreviver em uma sociedade competitiva, ao mesmo tempo em que nos esforçamos para manter a saúde, as amizades, o bom conceito perante as pessoas do nosso relacionamento, tentando ser felizes todos os dias.
Já é consenso o conceito de que não existe a felicidade completa, mas, sim, apenas momentos felizes, que podem ser mais ou menos prolongados. Afinal, em um mundo cheio de falhas e fraquezas como o nosso, os choques e as frustrações são uma constante.
Quando as contrariedades não atingem a nós ou nossas famílias, elas podem ocorrer na empresa em que trabalhamos - através da  demissão de colegas - ou da falência da empresa de amigos nossos, por exemplo. Também podemos enfrentar alguma contrariedade ou sentir muita tristeza ao andar nas ruas, quando um motociclista se acidenta e morre, um ciclista ou pedestre é atropelado ou, ainda, quando algum conhecido que estava doente vai a óbito.
Nossa vida é uma espera diária do porvir. A pergunta que nos fazemos amiúde é: "Como será o amanhã?" ou "O que acontecerá, amanhã?" E, normalmente, torcemos para que as coisas desagradáveis não aconteçam conosco ou com a nossa família. Se tiver que acontecer, pensamos - e é difícil admitir isso - que aconteça  com "os outros". No entanto, é preciso lembrar que, para os outros, nós é que somos "os outros" deles.
Todos os seres humanos ambicionam o melhor para si, (excetuados os depressivos, os masoquistas e os suicidas): o homem/mulher mais bonito(a), o melhor emprego, o carro mais luxuoso, a casa mais vistosa, a cidade mais interessante para morar, a profissão mais destacada, as melhores viagens... Todavia, dificilmente alguém consegue ser contemplado com todas essas premissas ao mesmo tempo. Existem alguns poucos que são abençoados pela sorte e podem comemorar isso, mas são raros.  Dá até pra lembrar o típico dito popular que estabelece: "azar no jogo, sorte no amor", cabendo aí um vice-versa e, também, algumas variações de tema.
E assim a vida vai  passando, com cada um de nós lançando suas fichas diárias, tentando direcionar o nosso futuro para obter o maior conforto e felicidade possíveis.
Talvez seja essa incerteza que faça a vida valer a pena, pois nos traz uma incógnita constante. E, inspirados por um teimoso otimismo, a cada dia podemos repetir a mesma pergunta: "Como será o amanhã?"

segunda-feira, 1 de junho de 2020

SER PAI, ENTENDER UM PAI (Hélio Cervelin, 12 ago 2019)



Autor: Hélio Cervelin

A vida humana contém muitos  paradoxos, sendo um deles o de somente conseguirmos reunir as condições para entender o que é ser pai depois que nos tornamos pais, ou até mesmo depois de nos tornarmos avôs.
O meu pai era um brasileiro de origem italiana, alto, forte e corajoso, que teve morte prematura causada por um AVC, em 1963, aos quarenta e seis anos de idade. Não tinha ainda nenhum neto, e partiu antes que eu completasse os meus treze anos de idade, início de minha adolescência. Era um agricultor, mas tinha diversas outras habilidades ou profissões. Tenho muitas lembranças boas de nossa vida no sítio.
Um dos  momentos inesquecíveis da nossa convivência foi quando ele me levou para a floresta de sua propriedade, no alto de uma colina, situada além das roças já plantadas,  onde me deixou passar o dia com ele, fazendo-lhe companhia.  Naquele dia, à força de golpes de machado, ele derrubava árvores de madeira de lei e as esquadrejava para transformá-las em troncos retos, destinados a serem os pilares da nova casa de madeira que ele mandaria construir.
As casas dos descendentes de italianos - principalmente - não  poderiam prescindir jamais do porão, que era o local em que se armazenava, em enormes pipas (barricas) de madeira,  o vinho produzido no próprio sítio. Lá também era o local utilizado  pela família para destrinchar os suínos e fazer toucinho, banha, salame e linguiças, e também para a produção de queijos artesanais com o leite tirado das vacas leiteiras do sítio. O trabalho era feito sobre fortes mesas de madeira maciça, todos munidos de afiadas facas e apoiados por estranhas máquinas de moer carne e embalar as linguiças.
Lembro-me de que ele, com o intuito de me distrair e não ficar exposto ao perigo de algum acidente enquanto realizava sua tarefa, cortou a base de um longo cipó que pendia de uma alta árvore não muito distante, transformando-o num belo balanço. Assim, agarrando com as duas mãos aquele cipó, pude ficar  me balançando,  indo e voltando, tal qual um jovem Tarzan das selvas africanas, personagem este que eu só conheceria mais tarde, ao frequentar um cinema.
Aquele dia foi para mim de uma grande emoção de uma enorme realização. Só não consigo lembrar o porquê dentre tantos irmãos que eu possuía - um total de dez -  só eu tive o privilégio de estar com ele naquele dia, já que, quando nasci, a família dos meus pais já era numerosa: seis filhos. Com certeza, os meus irmãos estavam em outras atividades, adultos que já eram.  
O nome do meu pai era Albino, e quando foi convocado  para as Forças Armadas, em 1941, aos vinte e poucos anos, já era casado com minha mãe, Otilia. Lembro-me de ter lido algumas cartas de amor que eles trocaram durante a permanência dele num quartel do Exército em Curitiba, onde ficou por quase dois anos, tendo contraído febre tifoide, o que  impediu que fosse convocado para o front da Segunda Grande Guerra Mundial.
Sua permanência nas Forças Armadas permitiu-lhe adquirir muitas habilidades, a  ponto de tornar-se líder em nossa comunidade denominada Linha Vitória, no então município de Capinzal, neste estado de Santa Catarina. Era ele o presidente da comissão de diáconos da capela católica e também coordenador do coral da igreja. Era ele também quem comandava a reza do rosário aos domingos nos quais não havia celebração de missa. Padres, naquela comunidade e época, eram raros, e só vinham ao local para batizar ou realizar casamentos. Era ele, também, quem realizava o sepultamento dos mortos com exéquias celebradas em latim. Ele também organizava as quermesses da comunidade.
Meu pai tinha noções de primeiros socorros, aplicando injeções nos doentes, ao mesmo tempo em que atuava como Veterinário, aplicando vacinas nos animais da vizinhança, além de tratar das doenças do gado, realizando também castrações em bois e porcos, e aferramento de cavalos. Chegou a atuar como ferreiro e marceneiro. Também era produtor de vinhos, melado, açúcar e mel. Ele possuía uma gama de ferramentas para as suas mais variadas atividades.
Não bastassem todas essas ocupações, ainda exercia o cargo de "Inspetor de Quarteirão", uma espécie de subdelegado distrital (comunitário) de polícia. Todos os conflitos entre vizinhos acabavam parando em suas mãos. Talvez por isso mesmo, pela liderança exercida, tenha sido candidato a  vereador pela coligação PSD/PTB, na década de 1950/60. Foi uma espécie de Super-Homem, multidisciplinar.
Era um homem de ética rígida, temente a Deus e austero em sua conduta, mas de  "pavio curto".  Passou por muitos sofrimentos no difícil trabalho da lavoura, uma vez que o solo era  pedregoso e íngreme e o clima adverso, fazendo muito frio naquela região, cujas intempéries chegavam a comprometer as safras de trigo, milho e feijão. Normalmente, quando o clima ajudava e a safra era boa, os preços caíam. Não havia preços mínimos regulados pelo governo naquela época. Muito menos o "seguro-safra", como  é hoje em dia.
Perdeu dois filhos de dois anos e meio de idade devido à difteria (conhecida na época por crupe), uma doença nefasta, que trancava as vias respiratórias, e para a qual não havia vacinas na época. Situações traumáticas, só absorvidas devido à ação da religião católica, que para tudo tinha uma explicação: a vontade de Deus.
Comparando o mundo daquela época com as facilidades de hoje, trazidas pela tecnologia, posso afirmar que o meu pai e todos os pais agricultores da época foram grandes heróis, magníficos heróis! E também escravos do trabalho braçal. Uma época de angústias causadas por doenças e acidentes no trabalho só compreendida por quem viveu naqueles dias.  
Muito obrigado, meu querido pai! A cada dia que passa te entendo, te amo e te respeito mais e mais.

"Aprendemos a ser filhos depois que somos pais. Só aprendemos a ser pais depois que somos avós..."                                               (Afonso Romano de Sant'Anna in Para quem é pai).