
Autor: Hélio Cervelin
Ultrapassei a barreira
dos sessenta anos de idade. E agora? Ouço dizer que entrei para a "melhor
idade". E aí eu pergunto: melhor
idade em relação a quê ou para quê?
Sob determinado aspecto
isso até pode ser verdade. Talvez seja a melhor idade para pararmos e refletirmos
sobre nossas vidas, as burradas que fizemos até aqui, o que aprendemos ou
deixamos de aprender. Ou sobre o que realizamos vivendo tantos anos, um
privilégio negado a muitos, especialmente nos dias de hoje, em que ocorrem
tantos acidentes e assassinatos, ceifando a vida de jovens e de pessoas de meia
idade, diariamente.
Olho para os lados e
vejo idosos com semblantes neutros, às vezes demonstrando alguma serenidade, mas,
em sua maioria, parecendo sentirem algum desconforto ou alguma dor. Vejo um número
significativo deles amparados por muletas ou ajudados a movimentar-se pelo
apoio de algum familiar, especialmente os de idade mais avançada.
Então eu pergunto: será essa a melhor idade? Essa denominação
"melhor idade" não seria uma ironia fina para nos dizerem que devemos
aproveitar o agora, pois daqui pra
frente tudo vai piorar? Ou para nos alertarem de que foi o melhor que pudemos atingir, uma vez que nosso organismo
é frágil e finito e tenderá à decadência, à limitação da mobilidade e às dores,
dia após dia, a uma velocidade espantosa?
Existem alguns aspectos
positivos que podem ser apontados ao se ultrapassar os sessenta anos. A
Constituição Federal de 1988 prevê algumas prerrogativas de cidadania,
estabelecendo proteção jurídica para que
os idosos possam usufruir de direitos sem depender de favores ou sofrer
humilhações, permitindo-nos viver com relativa dignidade.
A lei federal n.º
10.741/2003, denominada Estatuto do Idoso, ao longo de seus 118 artigos, trata
de questões fundamentais, desde garantias prioritárias ao idoso até aspectos
relativos a transporte (mobilidade),
passando pelos direitos à liberdade, à respeitabilidade, à vida, além de prever
cultura, esporte e lazer.
É notório que a
situação do idoso neste início do Século XXI melhorou consideravelmente através
do amparo da lei e da conscientização da população em geral e dos familiares em particular, em relação ao aspecto "respeito e
gratidão" àqueles que nos deram a vida e o apoio educacional e financeiro
de que qualquer ser humano necessita para crescer e evoluir espiritual e
materialmente. Mas, sinceramente, chamar de "melhor idade" parece
mais um exagero.
De qualquer forma,
diante dos mistérios da vida, é sempre interessante viver mais e poder acompanhar o surgimento das novas tecnologias,
inimagináveis há poucas décadas, e ao mesmo tempo podermos ter a oportunidade
de conhecer nossos filhos, netos e até bisnetos. E, além de tudo, também termos
a chance de nos sentirmos uma "metamorfose ambulante". Tudo isso tem
o seu encanto, não há a menor dúvida.
Envelhecemos desde o nascimento. É inevitável. Aceitar é o desafio. Romper barreiras e desfazer mitos é uma possibilidade para se viver com mais leveza e plenitude.
ResponderExcluirTexto sensível e instigante.
Pura verdade, amiga Maria Gobbi! Abraço!
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