terça-feira, 4 de dezembro de 2018

QUAL É A MELHOR IDADE? (Hélio Cervelin)



Autor: Hélio Cervelin

Ultrapassei a barreira dos sessenta anos de idade. E agora? Ouço dizer que entrei para a "melhor idade". E aí eu  pergunto: melhor idade em relação a quê ou para quê?
Sob determinado aspecto isso até pode ser verdade. Talvez seja a melhor idade para pararmos e refletirmos sobre nossas vidas, as burradas que fizemos até aqui, o que aprendemos ou deixamos de aprender. Ou sobre o que realizamos vivendo tantos anos, um privilégio negado a muitos, especialmente nos dias de hoje, em que ocorrem tantos acidentes e assassinatos, ceifando a vida de jovens e de pessoas de meia idade, diariamente.
Olho para os lados e vejo idosos com semblantes neutros, às vezes demonstrando alguma serenidade, mas, em sua maioria, parecendo sentirem algum desconforto ou alguma dor. Vejo um número significativo deles amparados por muletas ou ajudados a movimentar-se pelo apoio de algum familiar, especialmente os de idade mais avançada.
Então eu  pergunto: será essa a melhor idade? Essa denominação "melhor idade" não seria uma ironia fina para nos dizerem que devemos aproveitar o agora,  pois daqui pra frente tudo vai piorar? Ou para nos alertarem de que foi o melhor que  pudemos atingir, uma vez que nosso organismo é frágil e finito e tenderá à decadência, à limitação da mobilidade e às dores, dia após dia, a uma velocidade espantosa?
Existem alguns aspectos positivos que podem ser apontados ao se ultrapassar os sessenta anos. A Constituição Federal de 1988 prevê algumas prerrogativas de cidadania, estabelecendo proteção jurídica  para que os idosos possam usufruir de direitos sem depender de favores ou sofrer humilhações, permitindo-nos viver com relativa dignidade.
A lei federal n.º 10.741/2003, denominada Estatuto do Idoso, ao longo de seus 118 artigos, trata de questões fundamentais, desde garantias prioritárias ao idoso até aspectos relativos a  transporte (mobilidade), passando pelos direitos à liberdade, à respeitabilidade, à vida, além de prever cultura, esporte e lazer.
É notório que a situação do idoso neste início do Século XXI melhorou consideravelmente através do amparo da lei e da conscientização da população em geral e dos familiares  em particular,  em relação ao aspecto "respeito e gratidão" àqueles que nos deram a vida e o apoio educacional e financeiro de que qualquer ser humano necessita para crescer e evoluir espiritual e materialmente. Mas, sinceramente, chamar de "melhor idade" parece mais um exagero.
De qualquer forma, diante dos mistérios da vida, é sempre interessante viver mais e  poder acompanhar o surgimento das novas tecnologias, inimagináveis há poucas décadas, e ao mesmo tempo podermos ter a oportunidade de conhecer nossos filhos, netos e até bisnetos. E, além de tudo, também termos a chance de nos sentirmos uma "metamorfose ambulante". Tudo isso tem o seu encanto, não há a menor dúvida. 

2 comentários:

  1. Envelhecemos desde o nascimento. É inevitável. Aceitar é o desafio. Romper barreiras e desfazer mitos é uma possibilidade para se viver com mais leveza e plenitude.
    Texto sensível e instigante.

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