sábado, 18 de agosto de 2018

TÃO LONGE DO MUNDO (uma história real) Delva Robles



Autora: Delva Robles
Este livro, de autoria de Tavae Raioaoa, conta a história de um  pescador, considerado um dos últimos de sua linhagem de “senhores do mar”, que, embora conhecesse o mar  e tivesse uma fé imensa no Criador, um  problema no motor de seu barco  o  deixou à  deriva.  O livro começa descrevendo o vento:

O  velho pescador  na madrugada  daquele dia percebeu que o vento que soprava era o vento do norte. Ele sabia que o vento do norte surpreende o mar, de viés, e o contraria, e o agita e o ergue incansavelmente, provocando turbilhão de espumas e isso excita os peixes.  Agradeceu ao senhor pela pesca que prometia ser excepcional naquele dia.

A região em que ele estava  é o largo da baía de Pao Pao – a  grande baía de Moore (Polinésia Francesa) que está voltada para Huahine (sua cidade ) - e ia em direção ao Taiti.   A princípio não ficou nervoso, pois desde que nascera, havia passado mais tempo no mar do que em terra.   Tentou contato com seu irmão e parceiro de tantos anos que também pescava em outra região, mas ele não respondeu.  Pensou que talvez estivesse fora do alcance, pois o vento o levava para mar adentro.
O peixe que ele busca se chama mahi-mahi. São dourados do mar que pesam em torno de dez quilos.  Ele detalha como consegue, numa caçada frenética no mar, cansar o mahi-mahi  a  ponto de ele se imobilizar por um segundo  e é aí que ele lança o arpão. Depois é só trazê-lo para dentro do barco.
Naquele primeiro dia preparou os mahi-mahi que pescou, cortando-os  em fatias finas, as quais pendurou por todo o barco para secarem.
Para que lado o vento o estaria levando? Onde estava a civilização? Quando o sol foi embora, naquela primeira noite, ele ainda estava sereno. Sabia que seria encontrado pelos pescadores ou por cargueiros que fazem a rota das ilhas Fiji, da Nova Zelândia e da Austrália. Vestia apenas um short e uma camiseta de manga curta.
E naquela primeira noite sozinho no mar ele se organizou para dormir um pouco e com os coletes salva-vidas que tinha no barco fez seu travesseiro e colchão, mas antes de se deitar decidiu lançar seu primeiro foguete luminoso, certo de que seria visto imediatamente após o lançamento. Mas isso não aconteceu.
Quatro meses se passariam até o dia em que ele veria luzes no horizonte novamente. Não haveria a menor chance de sobrevivência não fosse ele um homem do mar acostumado às intempéries do clima.
A descrição das tempestades em alto mar, ver seu barco sendo jogado  em alturas inimagináveis pela violência das ondas, sentir que seu barco poderia se desmanchar, e virar simples gravetos que boiariam no mar como ele já vira inúmeras vezes mar  afora.  A solidão, o cansaço, a fadiga e a exaustão, as longas conversas com o Senhor, com a natureza, com os peixes, faz com que a leitura desse livro seja uma rica experiência só vivida por um náufrago.
Finalmente, quando ele vê as  luzes,  tem ainda que usar todas as forças que lhe restam para levar o barco até terra firme... Um último esforço físico quase que um último suspiro para  um velho, magro e doente que outrora fora tão forte.
E desceu cambaleando até onde havia algumas pessoas. Perguntou num fio de voz: "Que lugar é esse?" Ninguém respondeu.  Continuavam falando e ele não entendia nada do que falavam. E nisso apareceu alguém que respondeu na sua língua: "Ilhas Cook ou Aitutaki, meu amigo". 
-  De onde você veio e  como?
-  Eu venho do Taiti.
- Taiti? Respondeu o homem. Mas isto é muito longe. Deve ser mais de mil quilômetros. Como vieste parar aqui? 
O velho apontou para o barco atrás do coqueiral. Já não tinha forças para conversar, e todos correram e analisaram o  barco, incrédulos. Começaram então a ajudá-lo. Um trouxe uma toalha e esfregava vigorosamente seu corpo, outro trouxe uma blusa e todos se alvoroçaram ao seu redor.  Um prato de peixe frito com banana taro, uru e regado ao leite de coco, como ele havia sonhado tantas vezes, foi-lhe servido. E ele, agradecendo ao Senhor, tentou comer, mas não conseguiu dar nem três bocadas.  Um choro estranho preso dentro de sua alma insistia em sair e o velho pescador chorou como nunca havia chorado em toda sua vida.    
O grupo de pescadores que agora acreditavam em sua história, o carregaram no colo, como se carrega um bebê , levando-o até um barco donde chegariam a um hospital.
Aí começa a ressuscitação do autor e uma história de amor com este novo lugar abençoado que o acolheu. 





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