sábado, 1 de setembro de 2018

A EMOÇÃO QUE MAIS ME IMPACTA (Diversos autores do Grupo)

A emoção é a expressão máxima na literatura – seja no conto, crônica ou poesia. Cite a emoção que mais o mobiliza (ou imobiliza) na vida e descreva-a. Dê a esta descrição a conotação exata em que ela direciona seus pensamentos, ações ou reações. Insira nesta descrição – seja ela qual for – as palavras: sentimento, lágrima, dor, riso, compensação,       paisagem, cheiro, cores e espiritualidade.

SENTIMENTO
Áurea Wolff
O sentimento que me causa mais indignação,  me faz derramar lágrimas, é  pensar na dor das pessoas que são discriminadas por serem negros, pobres ou com defeito físico, vítimas de piadas, brincadeiras, frases, palavras e até gestos, para provocarem riso ou desprezo, atitudes que tiram o valor e a dignidade do ser humano.
Em compensação quero lançar para a paisagem e tudo e todos os que nos rodeiam, meu olhar de carinho e compreensão.
Assim  como olho para as árvores floridas, que espalham o cheiro doce de suas flores, que,  com suas cores, dão colorido ao mundo e nos despertam para a espiritualidade que eleva nossa mente e nosso coração em direção  às coisas do Alto, mas no inverno perdem a sua beleza.


GRATIDÃO
Delva Robles
Gratidão é um sentimento que alimento todos os dias de minha vida, especialmente quando vou caminhar na praia perto de minha casa e me deparo com o Morro da Feiticeira.  
Não sei por que tem esse nome, mas ele realmente me enfeitiça.  Não canso de contemplar a imensidão deste morro, sua paisagem, seu cheiro, suas cores. Os pássaros se divertem, mergulhando de cabeça lá de cima, para pegar algum peixe desprevenido no costão do morro.
 espiritualidade brota em meu coração com o sentimento de gratidão.  Gratidão pelos meus pais, meus irmãos, meus avós, minha família, que são meus filhos e meu marido.  
Agradeço, olhando para este morro maravilhoso, e  sinto  que ele me responde com uma  paz imensa que inunda meu espírito.   Se eu já tive lágrimas de dor, hoje o riso e a compensação predominam.     
Agradeço por cada pessoa que cruza o meu caminho, e de alguma forma me ajuda no meu crescimento espiritual. Obrigada! Obrigada!

MANHà DE  DOMINGO
Eliane Haesbaert
Já acordei naquela manhã, vibrando com um sentimento de liberdade ao me conscientizar que era domingo, sem nenhum compromisso externo, sem ter que telefonar ou receber chamadas pelo telefone ou pela campainha da porta.
Como a felicidade assim como a dor, chegam ao longo da vida em doses homeopáticas, quero registrar aqui como minha espiritualidade, nessa singela manhã de domingo, alcançou o Nirvana.
Cumpridas as obrigações rotineiras e prosaicas de quem vive só, resolvi banhar meus cachorros.
Para que eles ficassem tranquilos, secando ao sol e sombra na frente de casa, sem as tentações da terra do quintal, que os faria virar bifes à milanesa, preferi sentar-me no sofazinho da varanda, à sombra, tomando meu indefectível gin tônica e ouvindo melodias harmoniosas da amada Bossa Nova.
Eu almoçaria qualquer coisa que não me desse trabalho, mas em compensação, dava a mim mesma aquele tempo em que minha mente se encontrava completamente vazia de qualquer expectativa, com o olhar vagabundeando pela paisagem das árvores do entorno, principalmente as pitangueira e grumixameira que plantei em frente à minha casa sete anos atrás que, mesmo sem cheiro e cores, uma vez que na época não exibem flores nem frutos, mas que têm o verde exuberante das suas folhagens na moldura daquele céu insuportavelmente azul, sem qualquer vestígio de nuvens e a brisa suave da despedida do verão, anunciando um outono promissor.
Tudo perfeito, desde o gin inglês (raridade!), o clima, o silêncio ligeiramente alterado pelas suaves canções e a mente oca, deixei-me ficar ali até o corpo entrar num torpor de relaxamento total e sentir o formigamento de um leve cochilo.
Conscientizei num riso fugaz essa paz imensa e agradeci o Cosmos pelas duas horas de felicidade autêntica, pura e simples. Tão intensa que me levou às lágrimas, pois é muito tênue o fio umbilical entre a dor e o prazer.
Foi uma manhã rara e inesquecível.


EMOÇÃO E COMPAIXÃO
Hélio Cervelin

Um dos sentimentos que mais me impacta e imobiliza é a compaixão.
Sinto-me chocado e fortemente emocionado quando me deparo com as lágrimas  de dor e sofrimento de um ser humano agredido ou o gemido de qualquer ser vivo em angústia e desolação  Isso me leva a uma forte comoção ou mesmo a uma grande revolta.
Não consigo aceitar qualquer atitude que possa gerar dor e amargura, seja contra as pessoas ou animais de qualquer espécie, e ao presenciar cenas dessa natureza, meu peito se enche de empatia e começo a sofrer juntamente com quem sofre. E me pergunto: por que este mundo tem tantas amarguras?
Nosso riso e alegrias, que são raros, tornam-se uma compensação diante de um mundo tão conturbado pelos desencontros, desentendimentos, carências dos mais variados matizes, desde alimentos até respeito, carinho e amor.  
Uma profunda reflexão poderá nos levar à conclusão de que é impossível  deixarmos de sofrer ou chorar,  pois as perdas e os choques são diários. Quando não ocorrem ao nosso redor - em nossa família, cidade ou país - chegam ao nosso conhecimento, através da TV, Internet ou jornais, as informações de que em outra parte do planeta alguém está sofrendo.
São muitas as mazelas do mundo que trazem dor e sofrimento. E a humanidade, submissa a lideranças tão frágeis e corrompidas pelo poder e pelo dinheiro, está à mercê da própria sorte. A desorientação provocada pela falta de ética deixa um cheiro desagradável no ar. Só mesmo a crença na espiritualidade será capaz de nos dar ânimo para resistir, na esperança de uma nova paisagem no futuro.
Nem todos os sofrimentos podem ser eliminados, mas nosso empenho poderá atenuar  esse quadro, trazendo de volta o perfume das flores em suas mais variadas cores, fazendo-nos vibrar e sonhar com novos horizontes, passíveis de gerar uma compensação pelos suplícios vivenciados.
Outro mundo melhor é possível? 
Não neste planeta desorientado e eivado de erros, intrigas, ganância e egoísmo. Amenizar os dissabores e trazer de volta o sorriso ao rosto dessas pessoas sofredoras deve ser a nossa meta diária, já que, no dizer do poeta, "navegar é preciso, viver não é preciso".


O MEDO
Nídia Nóbrega
O medo me mobiliza. Ou imobiliza. É meio freio ou arma de ataque.
O medo me acompanha no meio da rua, andando na passarela da rodovia, dirigindo sozinha ou enfrentando uma página em branco de um texto.
Mas o medo não me paralisa. Apenas me condiciona para sobreviver e não morrer.
Tenho medo do desamor, da violência, da opressão, da omissão, do desengano, da deslealdade.
O medo me enlouquece na injustiça, no radicalismo, na violência judiciária, na opressão dos desvalidos e dos incapazes até de ter medo.
Tenho medo da fome alheia e da minha – não só de comida, mas de amor, entendimento, solidariedade, empatia e respeito.
O medo mata meu sossego diante das ameaças diárias de quem usa inspirar medo para impedir que, diante dele, não possamos berrar, denunciar, reagir.
Mas o medo também, me inspira doces sentimentos.
Pelo medo tenho mais cuidado, compreensão e carinho. E isso me leva a descobrir mais ternura, calor para o abraço, a palavra amorosa, o gesto de amparo.
Tenho medo de lágrimas que cegam, de soluços que travam palavras, de ameaças que travam braços, pernas e pensamentos.
Tenho medo até mesmo de não ver que podem existir sorrisos e esperanças.
Mas hoje, nesse gueto por onde tenho andado, o medo tem cheiro e cor de abandono, fome, ignorância, doença, violência.
O medo está no lixo, nos biates deixados nos viadutos, nas ponteiras de cigarros fumados debaixo das pontes e nos bancos das praças para enganar a realidade que não se sabe lidar.
Tenho medo do medo que inibe a fé, que sonega certezas, que desperdiça energia com a ausência de futuro.
Tenho medo do que leio nos olhos das crianças abandonadas, dos velhos que esperam sentados ao sol a hora da morte, da menina que espera em vão o amor que se foi.
Me faz chorar o medo que esconde a esperança, a ternura, a verdade, a coragem e a ousadia de viver. Ou o medo que esconde a fé ou a obscurece diante das negações que lhe acompanham.
Tenho medo até de ter de silenciar diante dele.
Mas ainda escrevo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário