Quando
meus filhos eram pequenos, eu os chamava sempre, dizendo: "corram, venham
ver que temporal lindo está se armando no mar, na Joaquina!"
Meu
segundo filho - sempre foi bem humorado e com umas tiradas ótimas - gritava
mais alto que eu para os irmãos: "venham, a Maga Patológica está
chamando!"
A
chuva é algo que me atraía desde que eu me conheço como gente. Em Joaçaba, meus
pais moravam perto da igreja Santa Terezinha, num morro. Quando caíam aqueles
temporais de verão eu preparava barquinhos de papel, soltava-os na enxurrada e
corria, descalça, na chuva forte, para ver se eles chegavam até o Rio do Tigre.
Quase sempre eles paravam ao lado da igreja, pois a rua não tinha caimento. Às
vezes, chegavam ao rio, e eu me sentia feliz como se estivesse em uma festa.
Quando
eu chegava em casa, molhada, pingando água por todo lado, seguidamente levava
palmadas. O que não impedia que no temporal seguinte eu preparasse minha
corrida solitária com o meu barco de papel.
A
chuva sempre foi minha companheira de brincadeiras. Só tive uma boneca. Ela tinha
uma linda cabeça de louça. Ganhei-a num Natal. E ela durou um dia, apenas. Minha
irmã menor pegou-a e deixou-a cair no chão. A cabeça ficou em múltiplos
pedaços. Não senti muito. Não tive
outras bonecas compradas. Só as de pano, que eram feitas de velhos lençóis, com
os olhos e a boca bordados com ponto atrás. Outros tempos! Um mundo tão
distante que parece que não fui eu que vivi.
Hoje
pela manhã, recebi pelo Whatsapp um vídeo de Mário Sérgio Cortella em que ele
diz que "não existe o imponderável". Entre as várias histórias, exemplos
que ele narrou, uma me emocionou muito. A de Barack Obama. Não pela história de
vida dele, mas por um exemplo sobre ele, que Cortella contou. Quando Obama era
pequeno, criado pela avó, ele chegou a dizer: "Vó, eu vou ser presidente
dos Estados Unidos". A avó, em vez
de enumerar tudo o que haveria contra ele para chegar lá, afrodescendente, com
um nome árabe, disse as palavras mais sábias: "Vá, que você pode!"
Nunca
ouvi nada que me estimulasse, que me fizesse acreditar que "eu
podia". E que podia seguir os mais difíceis e inexplicáveis sonhos. Será
que se alguém me dissesse "vá, que você pode!" eu teria seguido um
caminho diferente? Sei lá.
A
chuva bate forte na janela. Me contive para não sair lá fora e deixar ela sobre
o meu corpo. Às vezes faço isso. Deito
na grama e deixo a chuva cair.l Me transformo numa árvore, numa planta, não sou
mais um banal ser humano. Sou a frondosa
árvore Garapuvu! Com trinta metros de altura, com flores que se espalham pelo chão,
formando um lindo tapete amarelo.
Que lindo, me perdoe pela boneca
ResponderExcluirÉ eu também adoro chuva. Mil beijos AMO VOCÊ
Mãe adorei seu texto como filho sou uma semente de uma linda árvore .
ResponderExcluirParabéns!!! Linda história, palavras e, definitivamente, VÁ, VOCE PODE!! Obrigada por ser um exemplo!!
ResponderExcluirLindo Ina, também nunca ouvi as sábias palavras ditas pela vó de Barack Obama, mas digo a você que uma multidão segue adormecida sem saber o poder que tem de mudar seu destino.
ResponderExcluirMaga Patológica....adorei!!!
Amei Tia! Conheci um lado teu hoje que não conhecia... A delicadeza em forma de letras.... pois a tua delicadeza... ah!!! essa é a tua marca que trago nas minhas melhores lembranças! Beijo!
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