Autora: Eliana Haesbaert
O Estatuto do Idoso foi criado para
servir como manual de comportamento que pessoas, o Poder Público, empresas
prestadoras de serviço, enfim, a sociedade em geral devem seguir ao tratar com
as pessoas ditas idosas, a partir dos 60 anos, conforme a Lei Nº 10.741 de 1º
de outubro de 2003.
Ora, uma sociedade ética preserva o
conjunto de valores morais e não precisa de leis para praticá-la, porque segue
a educação recebida.
Como vivemos num país onde a Educação
é precária, o tratar com idosos foi preciso ser transformado em Lei complexa e
punitiva.
Sabendo-se que a Lei não exerce
autoridade no campo familiar onde predominam os sentimentos e há o idoso que se
fragiliza e se deixa manipular por filhos, netos ou até bisnetos, é uma imposição incontrolável.
Portanto, usemos as benesses frugais que
a Lei nos faculta, como a preferência em filas, assentos em coletivos, meia
entradas, etc... O resto que fique por conta de cada um, conforme sua vivência
familiar ou solitária (como no meu caso), sua realidade financeira e outras
características mental e física individuais.
Escrever sobre Ser Idoso é um tema
amplo demais e preferi me ater num assunto específico: a ecologia.
Afinal, sendo uma idosa de 70 anos,
tenho vasta bagagem vivencial, desde quando se comprava os itens comestíveis no
armazém e, como não existia o plástico, o arroz, a farinha, o açúcar, tudo
enfim, era pesado na hora e colocado em sacos de papel pardo e grosso que
carregávamos nos braços ou em sacolas de
pano ou palha.
Não tivemos a menor preocupação com o
meio-ambiente, porque as estações climáticas, aqui no nosso país de clima
Temperado eram absolutamente distintas e aconteciam conforme o esperado.
Nada era descartável, tudo era
reaproveitado e não ia para o meio-ambiente, como as fraldas dos bebês que eram
sujas, depois lavadas e secas pelos sistemas eólico e solar, agora super
valorizados.
Assim como os “paninhos” que as
mulheres tinham que usar nos seus períodos menstruais antes do aparecimento do
“Modess” e que precisavam do mesmo tratamento que as fraldas. Quanto aos idosos
incontinentes de então, ninguém falava.
O leite, a Laranjinha, o Crush e a
cerveja de domingo eram em garrafas de vidro retornáveis aos fabricantes que,
após esterilizadas, eram usadas inúmeras vezes. Tomava-se cuidado, pois eram de
vidro e, portanto, não podiam ser quebradas.
Na preparação de alimentos, tinha-se
que fazer exercício, batendo e mexendo muito, até a exaustão, pois não existiam
batedeiras nem liquidificadores.
Assim como vivíamos subindo escadas,
andando de bonde, cortando grama sem aparelho elétrico nenhum.
Indo à pé ou de bicicleta para a
escola, sempre exigindo exercícios físicos, hoje feitos em academias.
Não existiam copos, pratinhos,
garrafas pet e embalagens que hoje lotam os oceanos e matam os animais
marinhos.
As famílias abastadas só tinham um
carro para todos e hoje uma casa com cinco pessoas tem cinco carros que, não
cabendo nas garagens, lotam e poluem as ruas...
Tudo isso eu queria dizer ao caixa do
BIG que me deu R$ 0,3 (TRÊS CENTAVOS) por eu ter ajudado o Planeta ao não usar
a sacolinha plástica do supermercado!
Escreveria um livro sobre a vivência
do “ser idoso”, mas o tempo e espaço são limitados.
Hoje em dia o idoso, além de se
preocupar com a ameaça do alemão impiedoso que antes era a vulgar e
prosaica caduquice, tem que fazer a
“neuróbica” (exercícios cerebrais) além dos exercício físicos para não travar a
mente e as articulações respectivamente..
Nada disso me revolta. É a lei natural
da vida em ciclos.
Mas confesso que ando me sentindo
ligeiramente deslocada nesta nova civilização digital e virtual.
Enquanto espero ir e voltar para uma
nova existência, mas da próxima vez já chegarei como um “ser” virtual e
digital, senão numa ainda mais avançada vida tecnológica.
Mas enquanto isso não acontece,
procuro ir vivendo tranquilamente.
Que passe longe de mim a doença e a
dependência,
que passe longe de mim a mentira, a
discórdia, o olho grande e intolerância e
a má sorte.
Tenho dito.