sábado, 29 de dezembro de 2018

SONETO (DES)TEMIDO (Hélio Cervelin, 26/out/1980)

 
Autor: Hélio Cervelin
Não magoes tua pele
Não maltrates teu amor
Não contenhas tuas queixas
Não escondas teu temor

Não poupes o teu carinho
Não esmoreças teu fervor
Não esvaias tua ternura
Não derrames teu calor

Fica sempre do meu lado
Este ser apaixonado
Que transborda o coração

Não fujas nunca de mim
Abraça-me forte, assim
E nunca me digas não

LIBERDADE (Áurea Wolff)

         
Autora: Áurea Wolff
         A filha me perguntou se acredito em destino
         Se temos livre arbítrio ou se tudo isso é um pepino

Fiquei pensando muito no que acredito que sejam
Estes dois conceitos, formados para que todos os vejam

         Pela minha longa existência, aprendi na caminhada
         Que muitos sonhos eu tive e a maioria deu em nada

Eram sonhos criados por mente recém-nascida
Poderosa e deslumbrada pelos encantos da vida

          Nos passos seguindo em frente, sempre tive duas escolhas
          Uma pelas vias mais claras, outra com nuvens e bolhas

E nestas dúvidas cruéis pedia ajuda divina
Força que rege o universo e que estão em mim desde menina

          As escolhas que fazia, meus sonhos não realizavam
          Mas atendiam necessidades que no momento demandavam

Em todas as escolhas que fiz, enfrentei desafios e incertezas
Sempre aprendi com todas elas, da vida os pesos e as levezas

          Sei que as escolhas que fiz, não eram minhas somente
          Uma força as conduzia e dirigia o coração e a mente

Destino? Livre arbítrio? - palavras que querem driblar a verdade
Do poder de Deus a nos dirigir para a verdadeira liberdade.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

NATAL E SUAS DORES (Nídia Nóbrega)


Autora: Nídia Nóbrega

Não me eximo das rotinas preparatórias de Natal. Da compra de presentes a organização da ceia. E isso não me incomoda ou cansa. Gosto de presentear a quem amo.
Mas o Natal sempre inspirou em mim, desde a mais tenra idade, um sentimento de exclusão.
Não falo do nascimento de Jesus, festejado pelo mundo cristão que envolve metade do planeta.
O que me dói nessa festa é saber quem em nome de Jesus se compra e se vende um conceito equivocado de amor, solidariedade, comprometimento com o outro.
Não odeio o papai Noel, figura em quem nunca acreditei e que nunca fez parte da memória afetiva de minhas filhas. Mas o excluo porque sua figura capitalista não inspira realização em todas as crianças. E metade das marginalizadas, excluídas e 'famérrimas' não satisfazem suas fantasias na bela noite em que Jesus veio para trazer novas promessas.
O Natal me inspira a triste frustração de quem sabe que, a despeito de todo o cenário, os mesmos que hoje o embalam em presépios de todos os tipos vão crucificá-lo amanhã na figura dos negros, pobres, doentes, deficientes, desempregados, índios, analfabetos e incapazes de se defender.
Me desespera saber que o bebê de hoje é o homem que amanhã será a figura que os juízes das cortes supremas irão lavar as mãos, omitindo a justiça que ele pregou em sua caminhada em favor do poder econômico, jurídico ou político. Ou quem sabe militar.
Não consigo ver no Natal a esperança que deveria pregar.
Milhões de crianças amanhã estarão sem comida sem roupa, sem escola e sem chance de uma universidade pública e gratuita porque os políticos e juízes de hoje abortarão suas possibilidades.
Penso nesses mesmos meninos que não terão natal como penso nos trabalhadores sem salário sem estabilidade, sem previdência de amanhã.
Penso que os meninos sem Natal de hoje serão os adultos desencantados, doentes, infelizes porque sem previdência privada e morrerão por conta de um sistema que defende a venda da saúde ao invés de sua prevenção.
Penso que esse Natal de hoje não garantirá aos índios, quilombolas e prisioneiros do preconceito qualquer tipo de chance a não ser o extermínio de sua cultura.
Não consigo me alegrar quando vejo que os radicalismos religiosos, políticos, econômicos que mataram Jesus – O cristo que nasceu hoje, é forte não só no poder, mas nas pessoas comuns que me abraçam.
Esse Natal será triste porque no próximo não poderei dizer ao meu neto que vai nascer que existe esperança num país injusto, hipócrita, incoerente e recheado de erros.
Fico pensando nos meninos assassinados por balas perdidas, nos jovens escravizados no tráfico, nos camponeses sem escola e sem amanhã – que Natal os convencerá de que existe esperança e justiça....
Apesar de toda a festa, nem Jesus em sua doce promessa de humanização dos errantes, conseguirá reverter tanta dor.
Uma data triste essa que me faz sentir impotência diante do desamor, do egoísmo do vazio de empatia, da ausência da solidariedade, respeito e compreensão.
Somos todos bonecos manipulados por uma cultura cristã capitalista que defende a morte, a exclusão sócia, a exploração do trabalho alheio, a injustiça e a morte da esperança de crianças e velhos por nossa omissão e covardia.
Esse será um Natal recheado de dores com gosto amargo que nem a comida boa ou o chocolate podem tirar.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

QUERIDO SOL (Elizete Menezes)


 Minha foto
Autora: Elizete Menezes

Querido Sol, 
Que brilhas no alto deste céu infinito
Tu que chegas todas as manhãs
Entre os galhos das árvores
E os arranha-céus da cidade grande. 
És o mesmo  que brilhas nas cidadezinhas do interior
Nas grandes fazendas
E nos sítios mais humildes...

E, na praia, deixas o mar da cor do ouro
Encantando os amantes da natureza
Bronzeando as meninas
Iluminando o sorriso dos idosos
E fazendo a alegria das crianças...

Todos os dias, desde o amanhecer
Até quando te escondes, no final do dia
És a energia que mobiliza a vida
E prometes um novo amanhã.

Querido sol
Estrela de todos os dias a brilhar.


domingo, 16 de dezembro de 2018

LETRAS MORTAS (Hélio Cervelin)


 
Autor: Hélio Cervelin
Trêmulo de ansiedade
Tomei nas mãos a sua carta
E percebi que as palavras
Misturavam-se em turbilhão

Atônito e muito confuso
Nada entendi, nem captei
E então, desesperado
Prostrei-me ao chão e chorei

Num repente, aquelas letras
Foram, do papel, descoladas
E umas sobre as outras caíram
Aos meus pés, amontoadas

Formavam uma massa estranha
E sua mensagem preciosa
E em uma minúscula montanha
Resultou desperdiçada

Fiquei então sem saber
Aquilo que mais desejava
Se você ainda me ama
E se comigo quer casar
Se o seu amor continua
Ou se deixou de me amar

Tentei recolher as letras
Caídas, coladas ao chão
Mas tudo virou massa estranha
Repulsiva e sem valor
Trazendo de volta ao meu ser
O vazio, o desamor

Mande-me outra carta, meu amor
Eu te imploro, por favor
Fale comigo como antes
E me declare sua  paixão
Diga que ainda sou dono
Do seu meigo coração

sábado, 8 de dezembro de 2018

A SAÚDE DO IDOSO (Hans Wiedemann)



Autor: Hans Wiedemann
 
A saúde do idoso é um desafio,
Procurando ser muito cuidadoso,
Garantindo a sua integridade,
nas suas particularidades,
Percebendo as restrições.

Em todas as atividades,
Deve ter suas oportunidades,
Podendo criar alternativas,
Permitindo sua satisfação,
Na Sociedade desenvolvida.

O Idoso tem muito a ensinar,
Considerando a sua experiência,
Por ter muito aprendido,
Ensinando às novas gerações,
Devendo lhe ser grato.

Somente parte da Lei,
Tem cumprimento integral,
Pelos conflitos de Leis,
Criando atalhos especiais,
Para aplicação das normas legais.

Toda Lei tem caráter estático,
Devendo ser sempre revista,
Procurando evitar conflitos,
Que prejudicam a sua aplicação,
De uma forma integral.

Assim permitindo brechas,
E a falta de recursos financeiros,
Impedem o pleno cumprimento,
Das disposições legais,
Sempre encontrando desculpas.


ENVELHECER COM DIGNIDADE (Elizete Menezes)


Minha foto

Autora: Elizete Menezes

Os anos se passaram e me deparo com o que mais me preocupa agora: a minha entrada para a Terceira Idade. Me pego muitas vezes pensando, e me perguntando: como nunca pensei isso antes?
Ficamos velhos e dependentes, mas, enquanto somos jovens, ainda com toda a vitalidade, não nos preocupamos com a idade. Não  paramos para pensar que iremos depender de alguém algum dia; que o tempo passa para todos; que, assim como aconteceu aos nossos pais, nós também iremos  envelhecer, a não ser que morramos antes de isso acontecer.
O tempo passou e me deparei com meus 55 anos, rumo à terceira idade, ainda com toda disposição de ir e vir, só que agora com a preocupação de como será o amanhã. Será que vou envelhecer com qualidade? Vou ser bem tratada? Vou ser respeitada? Vou ser bem cuidada?
Cuido de idosos e sei muito bem de como eles são carentes. Sentem necessidade de carinho, afeto, e nem sempre têm por perto os seus familiares. Isso me assusta, muitas vezes, porque, nem sempre, os familiares têm condições de estarem presentes junto aos seus idosos. 
E o tempo vai passando. E quando percebemos, a  infância, a juventude e a mocidade já se foram. E o caminho é um só: envelhecer e morrer. Sendo assim, sejamos dignos de nós mesmos e dedicados aos nossos idosos. 
Temos o estatuto do idoso, que estabelece valiosas regras de cuidado ao idoso, mas estes nem todos conhecem seus direitos. E as famílias, muitas delas, desconhecem os direitos de seus idosos e seus deveres para com eles. E ainda existem maus tratos e abandono por parte de familiares, a até mesmo de cuidadores...
De minha parte, trato bens os idosos e tudo o que quero é envelhecer com dignidade.  


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

SOBRE SER IDOSO (por uma idosa) Eliana Haesbaert


 

Autora: Eliana Haesbaert
  
O Estatuto do Idoso foi criado para servir como manual de comportamento que pessoas, o Poder Público, empresas prestadoras de serviço, enfim, a sociedade em geral devem seguir ao tratar com as pessoas ditas idosas, a partir dos 60 anos, conforme a Lei Nº 10.741 de 1º de outubro de 2003.
Ora, uma sociedade ética preserva o conjunto de valores morais e não precisa de leis para praticá-la, porque segue a educação recebida.
Como vivemos num país onde a Educação é precária, o tratar com idosos foi preciso ser transformado em Lei complexa e punitiva.
Sabendo-se que a Lei não exerce autoridade no campo familiar onde predominam os sentimentos e há o idoso que se fragiliza e se deixa manipular por filhos, netos ou até bisnetos, é  uma imposição incontrolável.
Portanto, usemos as benesses frugais que a Lei nos faculta, como a preferência em filas, assentos em coletivos, meia entradas, etc... O resto que fique por conta de cada um, conforme sua vivência familiar ou solitária (como no meu caso), sua realidade financeira e outras características mental e física individuais.
Escrever sobre Ser Idoso é um tema amplo demais e preferi me ater num assunto específico: a ecologia.
Afinal, sendo uma idosa de 70 anos, tenho vasta bagagem vivencial, desde quando se comprava os itens comestíveis no armazém e, como não existia o plástico, o arroz, a farinha, o açúcar, tudo enfim, era pesado na hora e colocado em sacos de papel pardo e grosso que carregávamos  nos braços ou em sacolas de pano ou palha.
Não tivemos a menor preocupação com o meio-ambiente, porque as estações climáticas, aqui no nosso país de clima Temperado eram absolutamente distintas e aconteciam conforme o esperado.
Nada era descartável, tudo era reaproveitado e não ia para o meio-ambiente, como as fraldas dos bebês que eram sujas, depois lavadas e secas pelos sistemas eólico e solar, agora super valorizados.
Assim como os “paninhos” que as mulheres tinham que usar nos seus períodos menstruais antes do aparecimento do “Modess” e que precisavam do mesmo tratamento que as fraldas. Quanto aos idosos incontinentes de então, ninguém falava.
O leite, a Laranjinha, o Crush e a cerveja de domingo eram em garrafas de vidro retornáveis aos fabricantes que, após esterilizadas, eram usadas inúmeras vezes. Tomava-se cuidado, pois eram de vidro e, portanto, não podiam ser quebradas.
Na preparação de alimentos, tinha-se que fazer exercício, batendo e mexendo muito, até a exaustão, pois não existiam batedeiras nem liquidificadores.
Assim como vivíamos subindo escadas, andando de bonde, cortando grama sem aparelho elétrico nenhum.
Indo à pé ou de bicicleta para a escola, sempre exigindo exercícios físicos, hoje feitos em academias.
Não existiam copos, pratinhos, garrafas pet e embalagens que hoje lotam os oceanos e matam os animais marinhos.
As famílias abastadas só tinham um carro para todos e hoje uma casa com cinco pessoas tem cinco carros que, não cabendo nas garagens, lotam e poluem as ruas...
Tudo isso eu queria dizer ao caixa do BIG que me deu R$ 0,3 (TRÊS CENTAVOS) por eu ter ajudado o Planeta ao não usar a sacolinha plástica do supermercado!

Escreveria um livro sobre a vivência do “ser idoso”, mas o tempo e espaço são limitados.
Hoje em dia o idoso, além de se preocupar com a ameaça do alemão impiedoso que antes era a vulgar e prosaica  caduquice, tem que fazer a “neuróbica” (exercícios cerebrais) além dos exercício físicos para não travar a mente e as articulações respectivamente..

Nada disso me revolta. É a lei natural da vida em ciclos.
Mas confesso que ando me sentindo ligeiramente deslocada nesta nova civilização digital e virtual.
Enquanto espero ir e voltar para uma nova existência, mas da próxima vez já chegarei como um “ser” virtual e digital, senão numa ainda mais avançada vida tecnológica.

Mas enquanto isso não acontece, procuro ir vivendo tranquilamente.
Que passe longe de mim a doença e a dependência,
que passe longe de mim a mentira, a discórdia, o olho grande e intolerância e  a má sorte.
Tenho dito.





terça-feira, 4 de dezembro de 2018

QUAL É A MELHOR IDADE? (Hélio Cervelin)



Autor: Hélio Cervelin

Ultrapassei a barreira dos sessenta anos de idade. E agora? Ouço dizer que entrei para a "melhor idade". E aí eu  pergunto: melhor idade em relação a quê ou para quê?
Sob determinado aspecto isso até pode ser verdade. Talvez seja a melhor idade para pararmos e refletirmos sobre nossas vidas, as burradas que fizemos até aqui, o que aprendemos ou deixamos de aprender. Ou sobre o que realizamos vivendo tantos anos, um privilégio negado a muitos, especialmente nos dias de hoje, em que ocorrem tantos acidentes e assassinatos, ceifando a vida de jovens e de pessoas de meia idade, diariamente.
Olho para os lados e vejo idosos com semblantes neutros, às vezes demonstrando alguma serenidade, mas, em sua maioria, parecendo sentirem algum desconforto ou alguma dor. Vejo um número significativo deles amparados por muletas ou ajudados a movimentar-se pelo apoio de algum familiar, especialmente os de idade mais avançada.
Então eu  pergunto: será essa a melhor idade? Essa denominação "melhor idade" não seria uma ironia fina para nos dizerem que devemos aproveitar o agora,  pois daqui pra frente tudo vai piorar? Ou para nos alertarem de que foi o melhor que  pudemos atingir, uma vez que nosso organismo é frágil e finito e tenderá à decadência, à limitação da mobilidade e às dores, dia após dia, a uma velocidade espantosa?
Existem alguns aspectos positivos que podem ser apontados ao se ultrapassar os sessenta anos. A Constituição Federal de 1988 prevê algumas prerrogativas de cidadania, estabelecendo proteção jurídica  para que os idosos possam usufruir de direitos sem depender de favores ou sofrer humilhações, permitindo-nos viver com relativa dignidade.
A lei federal n.º 10.741/2003, denominada Estatuto do Idoso, ao longo de seus 118 artigos, trata de questões fundamentais, desde garantias prioritárias ao idoso até aspectos relativos a  transporte (mobilidade), passando pelos direitos à liberdade, à respeitabilidade, à vida, além de prever cultura, esporte e lazer.
É notório que a situação do idoso neste início do Século XXI melhorou consideravelmente através do amparo da lei e da conscientização da população em geral e dos familiares  em particular,  em relação ao aspecto "respeito e gratidão" àqueles que nos deram a vida e o apoio educacional e financeiro de que qualquer ser humano necessita para crescer e evoluir espiritual e materialmente. Mas, sinceramente, chamar de "melhor idade" parece mais um exagero.
De qualquer forma, diante dos mistérios da vida, é sempre interessante viver mais e  poder acompanhar o surgimento das novas tecnologias, inimagináveis há poucas décadas, e ao mesmo tempo podermos ter a oportunidade de conhecer nossos filhos, netos e até bisnetos. E, além de tudo, também termos a chance de nos sentirmos uma "metamorfose ambulante". Tudo isso tem o seu encanto, não há a menor dúvida.