
Autora: Querubina Ribas
Na minha angústia solitária de naufragada, penso nas palavras. E lembro-me de um poema da Cecília Meireles que diz "ai palavras, ai palavras que estranha potência a vossa!”. Busco essa potência e não encontro. Que palavras escolher? Como organizá-las para ter um texto claro e atraente? Se a procura das palavras me deixou aflita, o tema criou uma barreira que, inicialmente, me pareceu intransponível. Voltei aos sete, oito, dez anos de idade quando a professora nos dava como tarefa, fazermos uma redação sobre a mãe, as férias, as estações do ano que estávamos vivendo. Aos meus olhos infantis, aqueles temas eram uma punhalada na minha imaginação e nada criativas.
Nessa busca angustiante, penso em como produzir um texto
atraente, poético e coerente que descreva uma precisa época do ano? As palavras
surgem soltas, como folhas que caem das árvores no outono.
Penso no tempo. Ele é marcado pelos segundos, minutos, horas,
semanas, meses. Ao estudar a natureza, o homem, encontrou elementos explicativos
para diferenciar os períodos do ano. Observando as transformações, criaram
nomes para as diferentes épocas.
As quatro estações, como conhecemos hoje em dia, surgiram no
século dezessete. Antes dessa época, o ano era dividido em duas estações:
“veris” o tempo bom, florido, quente e “hienus” o tempo ruim, sem flores,
frutos e frio.
Acredito que algum amante e dedicado observador da natureza,
percebeu que existiam mudanças significativas intermediárias entre a época
quente e a fria. Dessa forma, surgiu a boa estação “primo vere” e o “tempus
autumnus” que acontecia antes do “tempus de hibernus”.
O homem, como o tempo, sofre transformações durante sua breve
passagem pela Terra. Vive a inocência dos primeiros anos. Um tempo alegre,
colorido, cheio de encantamentos. Depois vem o quente período da adolescência e
juventude. Quando as loucuras cometidas são justificadas pela euforia e o calor
desse período da vida.
Quanto às árvores, elas se desfazem das folhas no outono,
porque se elas permanecessem junto aos galhos, apodreceriam e levariam a árvore
à morte. Assim, sem folhas, ela se prepara para o rigoroso inverno e para o
renascimento na primavera.
O homem, como as árvores, no outono da vida se prepara para
um tempo que pode ser mais frio que as outras fases da vida, mas, também, tem
seus encantos e belezas. É quando a juventude acaba e o que fica é o que ele
tem de mais bonito e o que o sustentou durante a caminhada: a essência.