![]() Autora: Delva Robles |
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Este blog foi criado para postagem de textos literários da lavra de seus membros, a maioria deles principiantes. Nosso objetivo é alcançar as comunidades que fazem da literatura um ato de prazer, estimulando o hábito da leitura aos nossos visitantes/leitores no Brasil e em outras partes do mundo. Ficamos agradecidos pela sua visita. Seus comentários serão sempre bem-vindos. (vide o texto Apresentação do Grupo, postado em 2017 - outubro)

sábado, 18 de agosto de 2018
TÃO LONGE DO MUNDO (uma história real) Delva Robles
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
O QUE ESTOU LENDO (Axiomas de Zurique) (João Álvaro)

Autor João Alvaro
De Max Gunther, o livro “Os axiomas de Zurique” trata de relacionar os princípios que os banqueiros suíços usaram para orientar seus investimentos financeiros após a Segunda Grande Guerra Mundial, e com eles alavancaram a economia do país, tornando a Suíça um dos países mais abastados do mundo. Além de formar um sistema bancário de alta rentabilidade, o que atrai investimentos de muitos países até os dias de hoje.
Axioma significa “verdades inquestionáveis, universalmente válidas, mesmo que não comprovadas; muitas vezes utilizadas como princípios na construção de uma teoria ou como base para uma argumentação”. Pode ser sinônimo de postulado, lei ou princípio. É uma palavra derivada do grego “axios”, que significa "digno" ou "válido".
Assim, Os Axiomas de Zurique, em número de 12 principais e 16 secundários, podem ser relacionados:
1. Do risco: Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Quem não está preocupado, não está arriscando o bastante. Arriscar e ganhar. Só aposte o que valer a pena. Apostar e ganhar. Resista à tentação das diversificações.
2. Da ganância: Realize o lucro sempre cedo demais. Entre no negócio sabendo quanto quer ganhar e, chegando lá, caia fora. Não espere a alta atingir o pico, pode haver mudanças, demora, queda,...
3. Da esperança: Quando o barco começa a afundar, não reze, abandone-o. Aceite pequenas perdas como fatos naturais enquanto espera um grande ganho. Esperanças e orações são ótimas, não há dúvida, mas não fazem parte dos instrumentos do especulador.
4. Das previsões: O comportamento humano não é previsível. Desconfie de quem afirmar que conhece uma única nesga que seja do futuro. O especulador de sucesso baseia suas jogadas no que acontece e não no que vai acontecer. Não aposte em prognósticos.
5. Dos padrões: Até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso. Cuidado com a armadilha do historiador, do grafista ou da falácia do jogador. A história não se repete. Cuidado com a ilusão de correlação e a de casualidade.
6. Da mobilidade: Evite fixar raízes, elas tolhem seus movimentos. Mobilidade é fundamental. Numa operação que não deu certo, não se deixe apanhar por sentimentos de lealdade ou saudosismo. Jamais hesite em sair de um negócio se algo mais atraente aparecer à sua frente.
7. Da intuição: Só se pode confiar num palpite que possa ser explicado. Não confundir palpite com esperança. Não ridicularizá-los nem tão pouco confiar neles indiscriminadamente.
8. Da religião e ocultismo: É improvável que entre os desígnios de Deus para o universo se inclua o de fazer você ficar rico. Se astrologia funcionasse, todos os astrólogos seriam ricos.
9. Do otimismo e pessimismo: Otimismo significa esperar o melhor, mas confiança significa saber como se lidará com o pior. Jamais faça uma jogada apenas por otimismo.
10. Do consenso: Fuja da opinião da maioria, provavelmente está errada. Especulações da moda?... a melhor hora de comprar alguma coisa é quando ninguém a quer.
11. Da teimosia: Se não deu certo da primeira vez, esqueça. Caia fora.
12. Do planejamento: Jamais levar muito a sério os seus planos em longo prazo, nem os de quem quer que seja. Fuja de investimentos de longo prazo.
Os Axiomas de Zurique, cujos títulos foram transcritos, acima, sem muitas explicações, têm seu conteúdo descrito no livro de 155 páginas da Editora Record para a Língua Portuguesa, com tradução de Issac Piltcher (21ª edição de 2008, escrito por Max Gunther, Londres, 1ª edição de 2005).
A sensação que permanece enquanto leio este livro é de falta de familiaridade com esta forma de pensar a um tempo calculista, mas, sobretudo, dura, insensível e, por fim, realista.
E vou, desta forma, desconstruindo conceitos e desaprendendo para reconstruir novo aprendizado. Desaprendo que diversificações e lucro pela média são vantajosos, mas sim risco maior no que vale a pena arriscar, ou seja, que apresenta possibilidades de grande lucro, rápido e nada de planejamento ou investimentos de longo prazo. Nunca insistir com o que não deu certo na primeira vez, e ao primeiro sinal de fracasso, cair fora do negócio.
Com certeza vou precisar reler o livro e tentar internalizar melhor algum destes axiomas, caso contrário terei que me contentar com a vida simples de proletário, longe do sucesso financeiro alcançado pelos investidores suíços.
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
AVALANCHE (Hélio Cervelin)

Autor: Hélio Cervelin
Enquanto
espero
Minha
angústia remoendo
Vejo
o meu tempo escorrendo
Numa
avalanche mortal
Repulsivos
destroços
Que
para trás vão ficando
Feito
corpos contorcidos
Quadro
de trevas, loucura
Difícil
de contemplar
E
a vida segue
Em
ritmo alucinante
Paisagem
aterradora
Imagem
do Inferno de Dante
Nesse
arrastão
Que
a tudo aniquila, destrói
Percebe-se
o quanto dói
Amar
e não ser compreendido
Tal
panorama
Faz
sumir a minha calma
Melhor
ser cego e não ver
Pois
que corrói a minha alma
Oh,
insano destino
Que
permite essa loucura
E
gera angústia ao meu viver
Lar
de tormento e amargura
Sádica
fúria
Que
me obriga a ver o mal
O
tempo todo, dia após dia
Nessa
tragédia total
Meu
Deus, eu peço
Quero
pra casa voltar
Imploro
me deixe morrer
Pra
tudo isso acabar
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
PALAVRAS ESTRANHAS (Eliana Haesbaert)
Autora: Eliana Haesbaert
A primeira vez que me confrontei com a palavra FALÁCIA foi num texto, não lembro o autor, que afirmava:
O
AMOR É UMA FALÁCIA.
Como
desde sempre tive perfeito entendimento do que AMOR, desde o “amor ao próximo”,
“amor materno”, filial, de homem/mulher e vice-versa, enfim, o amor que move o
mundo, minha percepção foi de que aquela palavra era malévola, bandida e que
estava ali posta para desqualificar o AMOR. Essa aí, nunca me enganou.
Quanto
a HERMENEUTA (que palavrão!) nunca
ouvira ou lera antes, mas agora sei que é por que nunca tive proximidade com a
linguagem dos juristas e intérpretes das escrituras legais. O advocatês
erudito.
No
meu entendimento, deveria ser HERMENAUTA,
assim, fácil, acessível, tipo: “marinheiro do deus mitológico Hermes” que
levava as mensagens por via marítima”, uma vez que Hermes era o deus Sedex do
Olimpo.
Já
a TRAQUINAGEM é o conjunto de
pacotes das bolachas
Traquinas,
não lembro a Razão Social da empresa fabricante.
PLÚMBEO é sonoro, palavra muito mais redonda
do que a cerveja Skol descendo goela abaixo num dia quente de verão.
Lembra
maciez, fofura, suavidade, como a pluma rósea com que minha mãe aplicava
pó-de-arroz.
Quem
poderia dizer que, na realidade, é chumbo grosso?
Com
relação à palavra destaque, ou seja, DEFENESTRAÇÃO,
esta, sim, é uma palavra
escrachada, escancarada, pois ela própria diz o que é.
Desde
o primeiro contato com ela, já se sabe o que significa.
Do
francês “fenêtre” que é “janela”, mais o
“s” sibilante e, pra encerrar, o sufixo AÇÃO!
A
DEFENESTRAÇÃO não deixa qualquer dúvida de que só pode
ser jogar, atirar, lançar tudo pela janela afora!
terça-feira, 7 de agosto de 2018
TODO DESEJO ARDENTE SE REALIZA! (João Álvaro)

Autor João Alvaro
No início dos anos 1980, com o
nascimento do nosso primogênito, Guilherme, no retorno do trabalho no final do
dia e também nos finais de semana, os três saíamos de carro, passeando pela
cidade, como forma de distração dele, que gostava muito de estar no carro e
acabava relaxando e adormecendo. Aliás, o carro era mesmo um sonífero muito
eficaz. Nessa época tínhamos um corcel II, sedan, branco, primeira
linha (LDO), bancos de couro, um excelente carro, e muito confortável, para
esses passeios no asfalto da cidade e também para viagens longas.
Em um determinado passeio o
assunto passou a ser a necessidade de trocarmos de casa por uma maior, já que a
família havia crescido e nossa casinha de 64m², de 5 peças mais a garagem,
já ficara pequena. Assim que passamos a olhar mais atentamente para placas de "vende-se",
e não demorou a encontrarmos uma que imediatamente nos chamou a atenção e nos
encantou. Era uma casa de alvenaria, com telhas de barro, beiral de concreto, o
que indicava que era com forro de laje e um terreno grande, todo murado com
um pomar nos fundos da casa. Foi tudo o que deu prá ver pelo lado de fora
das grades do jardim, no meio do qual estava a placa "vende-se" afixada
em uma estaca de madeira. A rua, sem asfalto, não trouxe nenhuma preocupação e
ninguém pensou na poeira ou no barro quando chovesse.
Nossa imaginação voou... Quantos
cômodos teria? E o quintal, tão grande! Talvez fazer uma horta, um pomar, um
galinheiro... Quanta coisa começou a inundar os pensamentos e a transbordar em
planos mirabolantes... O céu é o limite para quem se põe a sonhar. É uma beleza
misturar a realidade e a ilusão no mesmo pacote; é receita certa para sentir
felicidade.
Mas, o passo seguinte foi fazer
as contas, somando nada da poupança com mais nada do saldo bancário, o resultado
deu disponibilidade financeira zero. Mas, a danada da casa tinha mesmo nos
envolvido emocionalmente e nos meses seguintes, por diversas ocasiões,
continuamos a passar em frente a ela e sempre verificando se a placa
permanecia. Mais contas e nada de coragem de buscar saber o preço e as condições.
"Não dá, vamos desistir",
dizia eu, mas, sem convicção, porque o desejo permanecia. Longos meses se
passaram sem falarmos mais no assunto, mas ainda só tínhamos olhos para ela,
até que um dia, ao passar por aquela rua, não vimos a placa. Parei em frente à
grade em busca de enxergar a placa e nada vi, mas observei que o jardim estava
com mato alto, tipo meio metro de altura ou mais. A situação se repetiu em outra
ocasião com a mesma sensação de que a casa continuava desabitada, e imaginei
que o vento poderia ter derrubado a placa. Decidi pular a cerca e procurar.
Sim, a placa, caída, estava lá, encoberta pelo mato do jardim. "É o sinal",
pensei. "Esta casa está reservada prá mim." Anotei o número do
telefone da placa e deixei-a no chão, sem mexer. Nessa hora decidi, sem fazer
as contas, que era a hora de dar o primeiro passo e conversar com o
proprietário.
Mandei lavar e polir o carro
até parecer um espelho. Pensei que devia causar boa impressão à primeira vista
na conversa com o proprietário da casa. Estacionei bem na frente do número
indicado e veio me receber uma senhora de meia idade com a cuia de chimarrão na
mão. Após nos apresentarmos fui direto ao assunto: sua casa está há
muito tempo à venda, mas me interessa se puder dar um bom prazo, e preciso
colocar o carro no negócio, fui logo dizendo. Se for para ouvir um não que seja
logo, pensei. Mas, aceitei mais um chimarrão enquanto dona Iracy me
contava sobre a filha que havia passado no vestibular da Universidade Estadual
de Maringá e que parte do dinheiro da venda da casa seria para presentear com
um carro à filha. O carro de preferência seria um Corcel II, branco. Perfeito,
igual o meu. Ela viu o carro e se apaixonou. Negócio fechado, carro de entrada
e tempo... (para buscar financiamento...) com 6 parcelas mensais para eu pagar.
Foi a maior ginástica para
buscarmos dinheiro em poupança, cheques especiais de vários bancos e finalmente
um empréstimo bancário (papagaio) para as últimas parcelas e mais 3 anos
pagando, renovando, pagando e renovando e só pagando... Aliás, isso não está
escrito em livro nenhum de como comprar uma casa sem planejar e sem dinheiro,
não me dá saudade desse momento difícil, mas em fim a papagaiada terminou.
Atualmente, quando ouço minha
esposa dizer que se você realmente deseja algo, mesmo que não tenha meios
"jogue para o cosmo" ela diz, "e deixe-o conspirar a teu
favor". E neste episódio foi justamente o que aconteceu conosco.
A casa, agora com asfalto
em frente, ainda nos pertence e está alugada. Lá vivemos muitos momentos
inesquecíveis das nossas vidas, em especial o nascimento da Talita Gabriela,
nossa filha do meio. A horta nunca foi prá frente, mas o pomar cresceu e
frutificou... Amoras, goiabas, limas, limões, abacates, mangas, carambolas,
acerolas; e só o pé de jaca não produziu. Separei com tela a horta do pomar, e
por algum tempo galinhas caipiras ficaram donas desse pomar e serviam de
diversão para as crianças...
Bons tempos que permanecem
vivos em nossa memória.
quarta-feira, 1 de agosto de 2018
O DIA EM QUE MEU MARIDO INFARTOU (Delva Robles )

Autora: Delva Robles
Era um sábado
de festa para mim e minha família. Minha sobrinha e afilhada Sandra iria se
casar e seríamos padrinhos. A cidade do casamento era Maringá, que fica a
70 km de distância de onde nós morávamos.
O casamento aconteceu
no fim da tarde e início da noite, e os convidados foram recepcionados com um
belo jantar, num ambiente propício para isso. Familiares todos reunidos,
vindo dos mais diferentes lugares, cheios de saudades, se
abraçavam felizes por se encontrarem, e conversavam
alegremente.
No final do jantar,
enquanto era servida a sobremesa, abriu-se o espaço para a dança, e dançamos
muito naquela noite. Lembro-me de que havia um grande espelho que
refletia os casais que dançavam, e dava a ilusão de ser
um grande salão de baile. Eu estava usando um vestido longo de veludo de cor
vermelha, meio bordô, eu diria, e sapatos de salto alto, pretos, e
algumas joias que enriqueciam a roupa. No decorrer da noite mal eu
sabia o quão inadequada me pareceria aquela roupa.
Eram mais de duas
horas da madrugada quando decidimos nos despedir do pessoal. Antes de sair do
clube meu marido mencionou que estava sentindo muita azia. Dei
pouca importância para isso e pensei que era apenas má digestão.
Reparei que o céu estava
bonito, cheio de estrelas, era uma noite muito agradável. Subimos no carro, e
antes de pegar a estrada de volta pra casa, paramos para
deixar nosso filho mais velho, na república onde morava, perto da UEM, pois ele
estudava Engenharia Química lá em Maringá. Enquanto meu filho
levava parte de sua bagagem para o apartamento nós nos sentamos na beira da
calçada em frente ao prédio sem nos importarmos com a poeira vinda
do asfalto, a poucos metros de nós.
Quando estávamos
todos sentados no carro novamente para seguir viagem, meu marido olhou para
mim e disse: estou muito mal. Surpresa com suas palavras repentinas e
sabendo que ele nunca reclamaria se não fosse algo grave, trocamos de lugar, eu
indo para o volante do carro. Em seguida tentei me localizar para saber qual
hospital teria nas imediações onde estávamos. Por sorte estávamos muito
próximos do hospital Santa Rita de Maringá.
Naquele momento veio
à minha memória a lembrança de algo que li não
sei bem ao certo se na revista seleções ou em um livro qualquer.
Era um depoimento de uma
pessoa que teve um infarto e cujo primeiro sintoma foi a azia. Meu
marido era fumante, então logo liguei o botão do alarme.
Era o ano de 1998 e
os procedimentos cardíacos não eram tão populares como hoje. Meu marido estava
bem de saúde. Havia feito uns exames de rotina e nada apareceu que indicasse
algo no coração. Tinha 49 anos, era magro e tinha uma vida intensa de trabalho
e envolvimento comunitário.
Ao chegar ao hospital
ele relatou ao médico plantonista ter comido pouco em um casamento e depois do
jantar ter dançado bastante e que estava com muita azia e mal
estar. O médico, especialista em gastroenterologia,
que dava o plantão naquele momento foi chamado e, ao
examiná-lo, deu o diagnóstico de má digestão, receitando um
medicamento inserido no soro que estava sendo ministrado a ele naquele momento.
Quando fui autorizada
a entrar na sala de emergência e me deparei com o rosto de meu marido, olhei em
seus olhos e tive a certeza de que aquele médico estava
enganado: havia uma palidez mortal em seu rosto. Aquilo não poderia
ser somente má digestão.
Desesperada, fui até ao
balcão e pedi para chamarem um cardiologista com urgência. Tive que insistir
com a recepcionista, que alegava que o paciente já tinha sido atendido e estava
sendo medicado e eu deveria ter paciência. Ela só concordou em chamar o
cardiologista quando eu disse que pagaria uma nova consulta particular para ele,
mas eu tinha pressa! A história da azia e infarto que eu havia lido não me saía
da cabeça.
Uma jovem
cardiologista veio nos atender e parecia não ter pressa. Enquanto
colocava os fios do aparelho para fazer o eletrocardiograma nele, tentava obter
informações sobre sua saúde, e parecia surpresa quando no eletro apareceu algo.
Então ela me disse:
“a tua intuição salvou teu marido...... ele está infartando”.
Foi chamada imediatamente a equipe intensivista do hospital e o levaram para o
centro cirúrgico, onde fizeram o procedimento que, na época, era inflado com
balão no lugar do entupimento. Na hora do procedimento o
médico descobriu que ele estava com outro entupimento grave na artéria que
irriga a perna e que deveria fazer em seguida outro procedimento, pois correria
o risco de perder a perna caso enfartasse em lugares sem recursos
adequados.
Lembrei-me que ele
ultimamente claudicava quando caminhava, e já havia ido ao ortopedista por
causa da perna que doía ao andar, isso já era um grande sinal de entupimento da
artéria que leva o sangue para a perna e que ninguém desconfiou, nem os
médicos. Também me lembrei de que ele não havia se sentido bem após a
última doação de sangue e ficara deitado algumas horas em casa para se
recuperar. Fora isso, o grande vilão ali era o cigarro. Fumava em torno
de duas carteiras de cigarro por dia. Após o procedimento ficou cinco
dias na UTI e diz que foi aí que deu os primeiros passos para
deixar de fumar.
Bom.... Descobrimos,
através dos cateterismos que fez ao longo dos anos, a existência de
muitos outros entupimentos: além do entupimento nas coronárias, ele também
tinha entupimentos na artéria que irriga o braço, na artéria que irriga o
rim, na que irriga a perna, nas carótidas que vão para cabeça etc., e aos
poucos foram sendo solucionados todos os entupimentos. Alguns são
monitorados, anualmente, até hoje.
Esta história me lembra
do dito popular que apregoa que "quando algo tem que acontecer tudo
colabora para isso". Ele teve um infarto gravíssimo, e por obra do
acaso, estava praticamente em frente a um hospital referência, com tudo o que havia
de necessário e moderno para sua salvação. Caso acontecesse em outro dia,
nos muitos dias e noites onde ele viajava para o interior do Paraná a trabalho,
não teria tido esta mesma sorte. A artéria estava quase 100% entupida, o
gatilho foram os passos e rodopios da dança, "mas poderia ter sido ao
trocar um pneu na estrada ou ao levantar algum peso extra" nos explicou o
médico.
De alguma forma o
acaso nos protegeu naquele dia. Estávamos no lugar certo, na hora certa
para tudo acabar bem.
UM DICIONÁRIO DE PALAVRÕES CONTRADITÓRIOS (Nídia Nóbrega)
Autora: Nídia Nóbrega
"Se
comporte, menina!" "Fale direito!" "Não use palavrões!",
"sente direito", "seja recatada", "não ria nem fale
tão alto", "não ouse se expor, contrapor, indispor..." Muita coisa desde bem pequena!
Optar por não seguir alguns padrões significava ficar de lado. Indiferença ou rejeição.
Mas isso nunca foi o que mais doeu. Ficar de castigo, de joelhos, rezando não sei quantas ave-marias por ter falado merda, ou seja lá o quê, era o de menos...
Me doía não entenderem que o palavrão que tanto incomodava aos ouvidos que me criticavam, era apenas uma expressão oral, um fonema, um conceito escrito ou léxico.
Me incomodavam e me incomodam outras palavras que são muito mais duras: preconceito, racismo, homofobia, orgulho, desrespeito, ofensa, terror, desdém, hipocrisia, falsidade, deslealdade, traição, opressão, medo e violência.
Isso nem era uma questão restrita apenas ao ambiente familiar.
Minhas posições eram mais amplas, mais universais e diziam respeito ao meu entorno social e cultural.
Até hoje me dói mais a violência que atinge aos outros – principalmente aqueles que não ousam sequer mandar alguém se ferrar ou se foder como parte de uma reação instintiva. E se calam ou encolhem.
Fico maluca quando vejo discursos lindos de pessoas que passam ao largo dos pobres pretos - ou nem tanto, jogados nas calçadas pela história opressão social e econômica que lhe negou casa, educação, saúde e chances que não a de serem escravos.
Me incomodam os muros invisíveis de discriminação social, econômica cultural e étnica.
Me aterroriza a visão política e do sistema sobre a hegemonia do poder em detrimento da universalidade dos direitos e dos deveres.
Pobres devem obediência, produção e acatamento. Já os grandes usufruem dessa condição hegemônica sem ética e empatia. Porra!!! Isso é demais para minha cabeça!
Não consigo ver sem uma grande raiva essa hipócrita magnitude entre classes e castas dentro de um país lindo, miscigenado, musical e habilidoso. Por outro lado, fico muita puta da vida quando vejo que a justiça, que deveria exigir o cumprimento da lei, beneficia apenas aqueles que sempre detiveram o pátrio poder dos direitos e das vidas sobre quem se debruçam suas ordens. E aí tem gente que se preocupa com alguns palavrões ditos aqui ou acolá...
Mas nãos se incomodam com seu entorno, com a dor, a fome, o desemprego, a falta de segurança, a doença, a violência, a falta de casa e de prato cheio. Isso, sim, que é feio e indecente!
Isso, sim, que é uma sacanagem total! A omissão, quando se vira cara para o lado para não enxergar as feridas que produzimos quando acatamos o sistema sem questionar, sem discordar, sem criticar.
Optar por não seguir alguns padrões significava ficar de lado. Indiferença ou rejeição.
Mas isso nunca foi o que mais doeu. Ficar de castigo, de joelhos, rezando não sei quantas ave-marias por ter falado merda, ou seja lá o quê, era o de menos...
Me doía não entenderem que o palavrão que tanto incomodava aos ouvidos que me criticavam, era apenas uma expressão oral, um fonema, um conceito escrito ou léxico.
Me incomodavam e me incomodam outras palavras que são muito mais duras: preconceito, racismo, homofobia, orgulho, desrespeito, ofensa, terror, desdém, hipocrisia, falsidade, deslealdade, traição, opressão, medo e violência.
Isso nem era uma questão restrita apenas ao ambiente familiar.
Minhas posições eram mais amplas, mais universais e diziam respeito ao meu entorno social e cultural.
Até hoje me dói mais a violência que atinge aos outros – principalmente aqueles que não ousam sequer mandar alguém se ferrar ou se foder como parte de uma reação instintiva. E se calam ou encolhem.
Fico maluca quando vejo discursos lindos de pessoas que passam ao largo dos pobres pretos - ou nem tanto, jogados nas calçadas pela história opressão social e econômica que lhe negou casa, educação, saúde e chances que não a de serem escravos.
Me incomodam os muros invisíveis de discriminação social, econômica cultural e étnica.
Me aterroriza a visão política e do sistema sobre a hegemonia do poder em detrimento da universalidade dos direitos e dos deveres.
Pobres devem obediência, produção e acatamento. Já os grandes usufruem dessa condição hegemônica sem ética e empatia. Porra!!! Isso é demais para minha cabeça!
Não consigo ver sem uma grande raiva essa hipócrita magnitude entre classes e castas dentro de um país lindo, miscigenado, musical e habilidoso. Por outro lado, fico muita puta da vida quando vejo que a justiça, que deveria exigir o cumprimento da lei, beneficia apenas aqueles que sempre detiveram o pátrio poder dos direitos e das vidas sobre quem se debruçam suas ordens. E aí tem gente que se preocupa com alguns palavrões ditos aqui ou acolá...
Mas nãos se incomodam com seu entorno, com a dor, a fome, o desemprego, a falta de segurança, a doença, a violência, a falta de casa e de prato cheio. Isso, sim, que é feio e indecente!
Isso, sim, que é uma sacanagem total! A omissão, quando se vira cara para o lado para não enxergar as feridas que produzimos quando acatamos o sistema sem questionar, sem discordar, sem criticar.
Isso, sim, fede e ofende!
Como a merda toda que escorre na sarjeta dessa vida feita de tantos melindres.
Talvez por isso aquela menina que tentaram engessar num modelinho ideal nunca conseguiu se dobrar. Chorei a cada castigo, mas preservei meu dicionário de palavrões como forma de protesto.
Não consigo ver poesia, mesmo quando o belo do universo poderia abrandar minha angústia.
"A vida é bela" dizem alguns, e apontam mil coisas que deveriam ser ostentadas em detrimento de toda essa lama que jogamos debaixo do tapete.
Mas, e aqueles que pululam nesse mar de dor? Quem os enxerga? E com eles se solidarizam? Quem os defende? Quem luta para que sejam vistos não como palavrões e conceitos negativos nesse dicionário da paisagem humana?
Mostrar a cara, ir à luta, defender liberdade, justiça, equidade de direitos, vida digna para todos é a única alternativa.
Fazer poesia sem ver a dor e entrar nela é o mesmo que escrever com caneta sem tinta... não mostra nada.
Talvez por isso aquela menina que tentaram engessar num modelinho ideal nunca conseguiu se dobrar. Chorei a cada castigo, mas preservei meu dicionário de palavrões como forma de protesto.
Não consigo ver poesia, mesmo quando o belo do universo poderia abrandar minha angústia.
"A vida é bela" dizem alguns, e apontam mil coisas que deveriam ser ostentadas em detrimento de toda essa lama que jogamos debaixo do tapete.
Mas, e aqueles que pululam nesse mar de dor? Quem os enxerga? E com eles se solidarizam? Quem os defende? Quem luta para que sejam vistos não como palavrões e conceitos negativos nesse dicionário da paisagem humana?
Mostrar a cara, ir à luta, defender liberdade, justiça, equidade de direitos, vida digna para todos é a única alternativa.
Fazer poesia sem ver a dor e entrar nela é o mesmo que escrever com caneta sem tinta... não mostra nada.
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