Há tempos atrás, andando pela
universidade, resolvi ir por uma trilhazinha
que passa nos fundos do curso de economia. Quando passava em frente a uma janela, ouvi a voz inconfundível
de um ex-governador e professor dizendo para seus alunos “vivemos numa
sociedade midiática”. Só ouvi esta frase, mas foi o suficiente para que eu
refletisse o quanto a mídia afeta e determina o comportamento e as escolhas em
nossa sociedade.
Nós, cidadãos comuns, não temos a
vaga ideia de como operam as poderosas e globalizadas empresas
que controlam a mídia. Nem como
as notícias, verdadeiras ou falsas são produzidas, com que rapidez são divulgadas, qual o público que querem atingir e com que
finalidade.
Vivi, até a idade adulta, tendo como meios de comunicação o rádio, as
cartas, os telegramas, as comadres da minha mãe ou algum parente que viajavam
uma manhã inteira para comunicar os nascimentos, mortes na família, fazer um
convite para um casamento ou para outra
comemoração.
Quando o rádio começou a ser
comercializado e meus pais resolveram comprar um, ficamos maravilhados com
aquele moderno meio de comunicação. Foi uma verdadeira revolução nos hábitos da
família. Nosso aparelho ficava em um lugar de destaque, na sala de jantar. A
única pessoa que podia ligá-lo era nosso pai. As crianças passavam,
respeitosamente, por perto. No final do dia, depois do jantar, sentávamos ao
redor da mesa e o pai ligava-o para ouvirmos A Voz do Brasil. O programa
começava sempre com a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, depois vinham as
notícias. Às vezes, ouvíamos, também, a Rádio
El Mundo, de Buenos Aires. Era o momento mais bonito e musical. A velha
casa vibrava ao som de tangos e milongas.
Tanto na hora da Voz do Brasil como na dos tangos e milongas, não havia
conversas entre os adultos e muito menos entre as crianças. Era um momento
importante e solene para a família. Para nós, as crianças, as notícias da Voz
do Brasil soavam estranhas. Não entendíamos o que queriam dizer, o que significavam
aquelas leis e medidas tomadas pelos governo. Os tangos e milongas da Rádio El
Mundo eram o que havia de bom e bonito em nossas vidas. Pois o ambiente se
enchia de alegria e eram um luxo, naquela casa pobre onde a alegria era pouca e
nunca teve festas.
Hoje, fico assustada e preocupada
com o poder instantâneo que tem a mídia de criar uma corrente do bem ou do mal. Diariamente, recebo uma
quantidade enorme de mensagens.
Como não sei o que fazer para verificar sobre a
veracidade do conteúdo, apago todas.
Conforme o remetente, até desconfio
sobre o teor da mensagem. Mas mesmo assim não leio.
Fico irritada quando me enviam
mensagens que são totalmente opostas a tudo que vivo e penso. Acredito que
existe certa arrogância, prepotência e falta de ética por parte dessas pessoas.
Não existe atitude mais indigna e até repugnante do que usar um espaço na mídia
eletrônica para fazer defesa cega,
fanática de um político ou partido. Esse
tipo de comportamento cria um abismo entre as pessoas. E tudo que precisamos,
hoje em dia, mais do que nunca é criar
pontes, unir as pessoas e não ampliar e aprofundar o abismo existente.
Ina, você sempre me toca profundamente com as coisas que escreve. Amo tudo que você escreve!!
ResponderExcluir