segunda-feira, 12 de agosto de 2019

UMA PONTE NO ABISMO (Querubina Ribas)

Autora: Querubina Ribas

Há tempos atrás, andando pela universidade, resolvi ir por uma trilhazinha  que passa nos fundos do curso de economia. Quando passava  em frente a uma janela, ouvi a voz inconfundível de um ex-governador e professor dizendo para seus alunos “vivemos numa sociedade midiática”. Só ouvi esta frase, mas foi o suficiente para que eu refletisse o quanto a mídia afeta e determina o comportamento e as escolhas em nossa sociedade.
Nós, cidadãos comuns, não temos a vaga ideia de como operam as poderosas e globalizadas  empresas  que controlam a mídia. Nem  como as notícias, verdadeiras ou falsas são produzidas, com que rapidez são divulgadas,  qual o público que querem atingir e com que finalidade.
Vivi, até a idade adulta,  tendo como meios de comunicação o rádio, as cartas, os telegramas, as comadres da minha mãe ou algum parente que viajavam uma manhã inteira para comunicar os nascimentos, mortes na família, fazer um convite para um casamento ou  para outra comemoração.
Quando o rádio começou a ser comercializado e meus pais resolveram comprar um, ficamos maravilhados com aquele moderno meio de comunicação. Foi uma verdadeira revolução nos hábitos da família. Nosso aparelho ficava em um lugar de destaque, na sala de jantar. A única pessoa que podia ligá-lo era nosso pai. As crianças passavam, respeitosamente, por perto. No final do dia, depois do jantar, sentávamos ao redor da mesa e o pai ligava-o para ouvirmos A Voz do Brasil. O programa começava sempre com a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, depois vinham as notícias. Às vezes, ouvíamos, também, a Rádio  El Mundo, de Buenos Aires. Era o momento mais bonito e musical. A velha casa vibrava ao som de tangos e milongas.  Tanto na hora da Voz do Brasil como na dos tangos e milongas, não havia conversas entre os adultos e muito menos entre as crianças. Era um momento importante e solene para a família. Para nós, as crianças, as notícias da Voz do Brasil soavam estranhas. Não entendíamos o que queriam dizer, o que significavam aquelas leis e medidas tomadas pelos governo. Os tangos e milongas da Rádio El Mundo eram o que havia de bom e bonito em nossas vidas. Pois o ambiente se enchia de alegria e eram um luxo, naquela casa pobre onde a alegria era pouca e nunca teve festas.
Hoje, fico assustada e preocupada com o poder instantâneo que tem a mídia de criar uma corrente  do bem ou do mal. Diariamente, recebo uma quantidade enorme de mensagens.
Como não  sei o que fazer para verificar sobre a veracidade do conteúdo, apago todas.
Conforme o remetente, até desconfio sobre o teor da mensagem. Mas mesmo assim não leio.
Fico irritada quando me enviam mensagens que são totalmente opostas a tudo que vivo e penso. Acredito que existe certa arrogância, prepotência e falta de ética por parte dessas pessoas. Não existe atitude mais indigna e até repugnante do que usar um espaço na mídia eletrônica  para fazer defesa cega, fanática de um  político ou partido. Esse tipo de comportamento cria um abismo entre as pessoas. E tudo que precisamos, hoje em dia, mais do que nunca é  criar pontes, unir as pessoas e não ampliar e aprofundar o abismo existente.


Um comentário:

  1. Ina, você sempre me toca profundamente com as coisas que escreve. Amo tudo que você escreve!!

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