
Autor: Wander Costa
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Eu sei
que você gosta do vermelho e eu do azul. Sei também que, como ondas
desafiadoras, você agita meu lago pacífico e profundo. O que eu não sei é do
mistério incrível e febril que faz minhas águas se agitarem só de imaginar a
proximidade da sua.
Neste
momento me pego pensando, e deixo de ser água para ser vento. De que matéria é
feita tanta emoção, tanta alegria em profusão? Nem sei, nem me atrevo a isto. A
profundeza do meu leito se revolve, renovando e trazendo à vista inimagináveis
tesouros, que não se comparam à causa e ao efeito de você em mim.
Sem
consciência, e apenas em emoção, me perco nestas linhas demarcatórias onde a
revelação do melhor em mim se mostra desnudo e multicolorido ou quiçá sem cor
ou valor, síntese de tanta harmonia e paz. Num susto imprevisível, o amor brota
das diferentes direções e, agradecido, vejo no outro o milagre em mim.
Quisera,
quando jovem, quando onda arrebatadora, saber da alquimia que se difundia por
aí. Sempre alerta e profundamente suscetível aos estragos que diziam
inevitáveis fui me tornando bálsamo ao invés de ferida, e num dia quente e
úmido me ressenti e percebi que sou ambos quando a verdade se expressa em mim.
Quando
lago, amo a onda que me agita, e quando onda, me divirto com o pavor estampado
no plácido: me deixa aqui. É a vida seguindo seu rumo intrépido e majestoso,
tecendo as veias e, anarquicamente, me propondo escolhas, às vezes vermelha, às
vezes azul. E inúmeras vezes branca e multicolorida.
Solto,
liberto da minha mordaça, solto este grito em mim e para mim.
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