segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

UM GRITO EM MIM (Wander Costa)

  

Autor: Wander Costa

Eu sei que você gosta do vermelho e eu do azul. Sei também que, como ondas desafiadoras, você agita meu lago pacífico e profundo. O que eu não sei é do mistério incrível e febril que faz minhas águas se agitarem só de imaginar a proximidade da sua.
Neste momento me pego pensando, e deixo de ser água para ser vento. De que matéria é feita tanta emoção, tanta alegria em profusão? Nem sei, nem me atrevo a isto. A profundeza do meu leito se revolve, renovando e trazendo à vista inimagináveis tesouros, que não se comparam à causa e ao efeito de você em mim.
Sem consciência, e apenas em emoção, me perco nestas linhas demarcatórias onde a revelação do melhor em mim se mostra desnudo e multicolorido ou quiçá sem cor ou valor, síntese de tanta harmonia e paz. Num susto imprevisível, o amor brota das diferentes direções e, agradecido, vejo no outro o milagre em mim.
Quisera, quando jovem, quando onda arrebatadora, saber da alquimia que se difundia por aí. Sempre alerta e profundamente suscetível aos estragos que diziam inevitáveis fui me tornando bálsamo ao invés de ferida, e num dia quente e úmido me ressenti e percebi que sou ambos quando a verdade se expressa em mim.
Quando lago, amo a onda que me agita, e quando onda, me divirto com o pavor estampado no plácido: me deixa aqui. É a vida seguindo seu rumo intrépido e majestoso, tecendo as veias e, anarquicamente, me propondo escolhas, às vezes vermelha, às vezes azul. E inúmeras vezes branca e multicolorida.

Solto, liberto da minha mordaça, solto este grito em mim e para mim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário