quinta-feira, 30 de novembro de 2017

ÁGUA DA VIDA (Hélio Cervelin)

Autor: Hélio Cervelin


Água que brota das fontes
Que escorre dos montes
Receita de pão

Água que brilha nos vales
Que afasta os males
E inspira a canção

Água que molha as pastagens
Reflete as imagens
Que deus bem criou

Água que aviva as sementes
Gerando torrentes
De vida e de amor

Água que desce dos céus
Que molha os chapéus
Que agita os currais

Água que banha as campinas
E alegra as meninas
Em praias sensuais.

Água que batiza na fronte
Que gela nos montes
E se agita no mar

Água que traz natureza
Dá vida à beleza
Prenúncio de paz

Água, tu és nossa vida
Alimento e bebida
Sustento dos meus

Água, tu és um milagre
Que todos te consagrem
Molécula de Deus

Cenas natalinas ou “dezembrianas” (Nídia Nóbrega)


Autora: Nídia Nóbrega



Cena I
O pé dói naquele chinelo de dedos gasto batendo no asfalto. Ou melhor, se arrastando. Porque ainda falta um monte para chegar em casa nessa noite de cansaço e fome.
O dia todo bateu de porta em porta pedindo emprego com sua carteira molhada de suor, mas que comprova seu passado de trabalhadora. Depois, desanimada, só pedia serviço em troca de diária e, no final do dia, um copo de água e restos de comida que carregava naquela sacola insalubre, mas significativa.
No bolso dinheiro nenhum para o transporte. E nenhuma esperança ou expectativa de que amanhã a coisa melhore.
Nem ousa se olhar nos reflexos das vitrines. Desgadelhada, pé encardido, chinelo gasto, roupa azeda e descombinada. Uma figura que inspira mais medo e asco do que compaixão.
E aquela dor na boca do estômago junto com o bafo do bucho vazio.
Mas não é a dor da fome. Que essa já virou náusea e depois sumiu. Mas a dor da resposta que não terá ao chegar no barraco e ler, nos olhos das crianças, a pergunta esperada.
A dor de um silêncio que se abaterá por mais um dia e que varrerá para baixo da rede o sonho não só da comida na mesa, mas de uma infância minimamente feliz.
Uma fisgada cruel de quem não pode dar aos seus filhos uma chance de serem apenas crianças saciadas em um dia de Natal igual ao de todos os outros, com presentes e risos.
Eles não cobram, não choram, nem pedem. Têm uma consciência dura da ausência real de tudo - nem sonhos e nem infância.
Apenas fome, solidão, desencanto e silêncio quebrado pelo barulho do chinelo do asfalto.

Cena II
Na sala o enorme pinheiro e sacolas e sacolas de presentes misturados com a decoração, luzes, bolas, fitas, balões.
A geladeira cheia de comidas, bebidas, sobremesas.
Tudo impecável. E silencioso.
O telefone toca e os recados se sucedem com desejos os mais variados, risadas e brincadeiras ficam armazenados na caixa de recados.
Uma casa cheia de ausências e silêncios.
No quarto, deitada em sua cama linda, vestida para matar (ou morrer), segura na mão o vidro vazio de remédios para dormir. Tomou todos. Não esqueceu nenhuma das bolinhas milagrosas que acalmam sua raiva e desencanto.
Foram dias de compras, convites e expectativas.
Não esqueceu nenhum dos amigos da empresa, do clube, da academia e do bar.
Seria a sua maior festa e exigiu tantos preparativos que esqueceu de avisar pais e irmãos que não iria passar com eles esse ano.
Sempre a mesma coisa, aquela ceiazinha chinfrim, sem bebida boa e aqueles pacotinhos de lembrancinhas de um e noventa e nove lá da periferia.
Apostou num cenário novo.
Tudo organizado esperou... esperou... esperou... E não apareceu ninguém da sua turma. Sequer atenderam suas ligações.
Nem o "rolinho", cujos encontros “calientes” preenchiam todas suas noites da semana.
Nem o chefe que emitia sinais de interesses extras.
Nem as amigas com quem dividia suas compras e roupas sem uso.
Ninguém.
A única presença tardia foi do corpo de bombeiros chamado por um senhor simples que veio  no meio da noite, preocupado,  saber de sua filha.

Cena III
Bonitão, simpático, mas discreto. Esse é o conceito de quem trabalha com ele.
E ateu. Deus do céu, ser ateu inibe qualquer possibilidade de chamá-lo para participar das festas natalinas da empresa ou dos colegas.
E ele nem liga porque se nega a participar delas. Defende seu direito à descrença com unhas e dentes. E não aceita ser hipócrita por conveniência.
Então, enquanto todos comem e bebem, festejando o Natal esse cara descrente, que não frequenta igrejas e que nunca aprendeu a rezar no orfanato onde foi criado, nem entender de família e afetos, está se preparando para sua rotina de todo o mês.
Com uma roupa simples, organiza seu acervo de pacotes, lota o porta malas de seu carro e ganha as ruas.
Os vizinhos do condomínio apostam que visitará familiares no interior.
E lá vai ele entregando lanches e roupas novas e trocando abraços e gentilezas com os moradores de rua por quem passa todos os dias a caminho do trabalho e que, como ele, fazem parte do cenário invisível.
Depois, volta em casa e pega sua segunda carga, e viaja por quase duas horas até a cidade vizinha, onde deposita, silenciosamente, na porta de um abrigo, roupas, brinquedos, doces e risos amanhecidos aos meninos que ali habitam.
E volta para casa saciado, pleno, rindo. Feliz.
O sentimento é a alegria de compartilhar. Hábito mensal de plantar esperança. A que lhe foi negada em cada dia de Natal de sua infância.

Cena IV
Silêncio total na casa. Num cantinho da sala um abajur faz seu papel de oferecer iluminação sutil.
Um cômodo com cheirinho de limpeza, mas sem nenhum tipo de decoração a não ser um conjunto exíguo de móveis.
Na outra peça da casa, uma cama de casal onde se aninham dois corpos que comungam um espaço milimetricamente dividido de lençóis e cobertas.
E, entre eles, um bebê pequeno, de poucos dias, suga todos os seus sentimentos e a quietude de quem vela por seu sono e seu conforto.
Nada de muitas palavras – eles apenas sorriem ao olhar aquele montinho de gente totalmente vulnerável, mas que está protegido por uma barreira de amor intransponível.
O silêncio não é doloroso ou triste, mas repleto de promessas, encantamento, felicidade, esperança, ternura.
Tudo ali poderia ser interpretado de forma equivocada.
Mas essa imagem é desmentida pela ternura com que aquelas mãos se unem   em torno daquele pacotinho que produz sons e mostra uma força vital imensa ao mexer seus bracinhos, sugar com força a mamadeira, ajustar seu corpo ao espaço que lhe cabe nessa cama.
Nenhuma árvore, nenhuma bola colorida, nenhum pacote de presente.
Nada. Aquele espaço só é preenchido por um significado – o amor e o encantamento com a chegada daquele bebê.

Um recém-chegado que significa promessa de proteção, comprometimento, cuidado e esperança para dar razão a todas as escolhas daquelas duas vidas que conquistaram o direito a essa adoção sem serem julgados pelo seu gênero ou posturas. Mas que conseguiram, pela sua coerência, o direito da paternidade.

NATAL É AMOR (Áurea Wolff)

Autora: Áurea Wolff


As igrejas celebram o Natal  e a morte de Jesus como o centro de toda a religiosidade.
Não quero abordar o aspecto religioso do Natal, nem falar sobre o nascimento de Jesus. Olho  para a Bíblia como um livro de história da humanidade.
O Antigo Testamento contém relatos da vida de um povo que viveu em guerras para sobreviver  às atrocidades dos tempos, correndo atrás de vencer as lutas para recolher os despojos que eram fontes de riquezas, de armas,  e até de agasalhos e alimentos.
As   terras eram adquiridas  a duras penas, no fio da espada, a liberdade de um povo sofrido pela escravidão, buscada através de dura caminhada num deserto, sem agasalhos e sem pão. E o Deus dos Exércitos os acompanhava e lhes dava em cada tempo a vitória e o fracasso.
As leis severas castigavam e matavam os infratores, e  recebia cada  um o castigo que o Deus da guerra tinha o poder de impor a cada um. O medo do castigo, da morte e da miséria era a constante do povo.
As leis,  os 10 Mandamentos que Moisés gravou em  tábuas de pedra, eram as orientações que este líder precisava para colocar ordem numa nação que marchava à procura da Terra Prometida. 
Era necessário ter meios de governar  e foram organizadas  as famílias em grupos de doze, cada uma com seu líder e seus auxiliares.  E as leis deviam ser cumpridas. As leis diziam tudo o que o homem não podia fazer: não matar, não roubar, não mentir, não ter inveja,  não desejar as coisas dos outros.  E para cada não cumprimento da lei o castigo, a morte, a tortura, a humilhação. 
Ao ler o Antigo testamento  e as gerações que ele descreve posso vagamente tocar a distância que nos separa deste longíncuo tempo e imaginar as atrocidades que tiravam a dignidade do homem.
E numa destas doze tribos nasce um ser iluminado, cheio de sabedoria, que manda cumprir a lei, sim, mas de um modo maravilhoso, único, que pode mudar o mundo: dá a cada lei um novo sentido. Não matar, não tirar a vida é a lei. Mas não matar significa  não só não tirar a vida, significa dar vida para o irmão. Dar a vida é perdoar, é ter paciência, é ser gentil, é dar amor, é pedir perdão, é ajudar, dividir o pão, é amar. Dar vida é, no lugar de criticar e condenar,  valorizar, incentivar, acolher. Dar vida é, no lugar de julgar, perguntar, ser aberto o honesto consigo mesmo e com o outro.   Não roubar é a lei . É não só respeitar,  é também valorizar e ficar feliz com a  conquista do irmão. O sentido  de não roubar é dividir com o irmão, é não roubar somente as coisas materiais, mas não roubar a paz, a alegria. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância (Jesus Cristo).  É sair do Antigo Testamento, cumprindo as leis que dão orgnização humana, para  o Novo Testamento,  que dá vida. A vida que todos nós recebemos um dia. Quando foi mesmo?
Foi naquele dia, num momento de muito amor, ou sabe-se lá,  de somente tesão, de profunda comunhão ou até de solidão, mas foi quando as duas sementinhas se uniram e lá estava eu, começando o milagre da vida.
E naquele ninho os meus órgãos foram se formando sem que ninguém fizesse nada, nem mesmo a minha mãe. Eu fui tomando forma, com cabeça tronco e membros, e tudo o que necessitava para viver.
Esqueceram de algo? Não, está perfeito.  Quem disse que está na hora de buscar novos ares? Não sei,  mas eu quis buscar vida nova e saí de um lugar confortável para buscar algo melhor. E eu continuo sendo um milagre. Cresci, andei, aprendi, falei, cantei, comi, joguei fora o que não necessitava, amei, cada dia um novo milagre, sorri, chorei, viajei, dormi, acordei.
Estou aqui, ainda outro milagre, com vida. Natal é o milagre da vida. É o começo da nova maneira que Jesus veio nos ensinar a ter para aproveitarmos tudo o que este milagre de estarmos no mundo nos concede.
Jesus  começou mostrando a simplicidade de um nascimento com apenas o frio do tempo e o calor do amor. Com a pobreza de bens e com a riqueza da Paz. Com a dureza da caminhada e a beleza  e doçura que rodeia os caminhos.
Natal é o Amor que veio para dar sentido ao mundo.    

Natal é Amor!

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

CONSIDERAÇÕES EMPÍRICAS E CABOCLAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA E ECOLOGIA (Nídia Maria de Leon Nóbrega)

Autora: Nídia Maria de Leon Nóbrega


Acocorado no canto do quadrado no fundo do rancho, fica olhando pro monte de muda crescendo e virando planta, cercado das  flores  pequenas dos trevinhos, ervilhacas, quebra-pedra, alecrim, carqueja, macela, camomila, hortelã e outros chás que ajudam a espantar as pragas que ameaçam as plantinhas.
Isso aprendeu ainda de novo, com a Cazuarina, uma negrinha filha de escravo fugido, que um dia, mocinha, pediu abrigo e nunca mais foi embora. Com ela se deitou e tiraram mais de uma dúzia de filho e não perderam nenhum. Tudo gordo e esperto.
Nessas hora de lembrança chega a ouvir sua voz afirmando que na horta “as coisas de comê ficam no meio e de curá, nas berada... umas defendendo as otra dos ataque das lagarta e dos pioio de pranta”.
E fica ali, feliz, vendo o resultado da adubação feita antes da chuva. Pegou bosta de ovelha,  de vaca e de galinha. Misturou tudo e deixou secar ao sol. Aí juntou os restos de folhas e de cascas de frutas e de ovo.
E a terra gorda ficou macia com aquele monte de minhocas. As danadas parecem até cobra de tão grande.
O  filho do dono das terra, chama de “vermes” e fica ali torrando o saco e dizendo que não é saudáver.
E fez cara de nojo quando  ele contou que aquela verdurama toda bunita, os tomate, as abobrinha, as vage, o feijão, as moranga, cenoura, nabo, quiabo e tudo  o que vai pra casa dele na cidade é adubado com bosta.
E ainda repetiu “ bosta” enchendo bem a boca prá provocar o bundão enjoado, que ficou fazendo descurso e recomendando produto de agropecuária.
Mal sabe o rapazinho que os produto da loja matam as minhoca e os bichinho que defendem a plantação. Quando dá pobrema por causa do estio ou de muita chuva,  pega os resto de fumo em rama, faz uma garrafada com álcool de cana feito em casa e passa nas planta e tudo se ajeita.
Veneno de loja acaba com os passarinhos e com os peixes que moram no açude de baixo e recebe a água da chuva que desce pelo pasto.
No início das conversa inda tentava explicar pro menino... aí recebeu umas ofensa de que anarfabeto e inguinorante ficá plantando que nem os índio e os bugre...aí entendeu que era mió se recoiê a sua insiguinificança.
Se a nega véia ainda fosse viva ia dar resposta na hora, que nem coice de porco. Mas deixa está que um dia o vento muda.
E fica lá, fumando seu paiêro, olhando a horta e as arve de fruta do quintal. Tudo grada, suculenta e doce. E dá tanto que os de casa, osvizinho e os passarinho se divide e ainda sobra pros porco e pras vaca de leite.
Outro dia, na reunião do assentamento que fica do lado da fazenda do patrão, um cara da cidade falou de agricultura orgânica e que as produção feita assim - sem veneno, são muito procurada porque são mió de qualidade e tem bom preço.
Voltou rindo solito, que nem bêbu... Se bem que entendeu bosta é bom e dá dinheiro.

PRECE EM SÚPLICA (Hélio Cervelin)

AUTOR: HÉLIO CERVELIN




Protegei, Senhor, as crianças, tão frágeis e pequeninas; 
Protegei, Senhor, as mães, tão ciosas de seus deveres e tão preocupadas com o destino de seus filhos;
Protegei, Senhor, os pássaros, tão singelos, as flores, tão belas, as fontes de água e todos os animais da Terra; 
Protegei, Senhor, as mulheres e todas as pessoas em perigo;
Protegei, Senhor, todos os homens que lutam pela sua sobrevivência e a de suas famílias;
Protegei, Senhor, os jovens, livrando-os das tentações mundanas que põem em risco suas vidas e sua saúde;

Amparai, Senhor, os idosos, as viúvas e todas as pessoas carentes de amor;
Amparai, Senhor, todas as pessoas doentes e necessitadas de cura;
Amparai, Senhor, todos os que vivem em perigo;

Inspirai, Senhor, nossos líderes, nossos governantes e nossos cientistas,
Para que as guerras terminem,
Para que a fome se acabe,
Para que a paz se instale em todos os corações

Purificai, Senhor, o coração dos maus.
Para que se livrem da ganância e do egoísmo
E deem lugar à caridade em suas ações

Perdoai, Senhor, nossas fraquezas
Nossos deslizes
Nossa ignorância

Acolhei-nos, Senhor, como o pai que acolhe o filho pródigo,
Com bondade infinita.








terça-feira, 28 de novembro de 2017

O QUERER (Elizete Menezes)

Autora: Elizete Menezes



O conhecimento foi o que me restou, entre tantas coisas que aprendi. Aprendi a me tornar capaz, com desejos ardentes e com a suave interação de querer. Foi aí que  comecei a bisolhar o ser humano com mais carinho e atenção. E ser capaz de reter informações tantas vezes me fazendo acreditar no desapego, me fazer  forte com a ausência e querer me tornar uma pessoa sem compromisso com as lágrimas das lembranças...

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

ÁGUAS PARA A PAZ SOCIAL E PESSOAL. (Laércio de Melo Duarte)


AUTOR: Laércio de Melo Duarte

Está sendo realizado em Florianópolis (SC) o 22º Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos. O foco do evento está no tema Ciência e Tecnologia da Água, particularmente na inovação e oportunidades para o desenvolvimento sustentável do Brasil e do mundo.

Na mensagem de abertura do Simpósio, a Comissão Organizadora divulgou a seguinte declaração: "Nos anos recentes, o Brasil vem vivenciando severas crises relacionadas à água. Curiosamente, parece haver uma sincronia para não nos deixar esquecer que precisamos melhorar nossos processos de gestão, que precisamos ampliar e qualificar nossa infraestrutura hídrica, que precisamos fortalecer ainda mais nossos instrumentos de gestão e qualificar os atores nesse ambiente. Se a crise do Cantareira em São Paulo perdeu fôlego em 2015, na região nordeste do país, no centro-oeste e em outras áreas, ela se intensificou. Intercalados com a escassez, ainda tivemos episódios de desastres, como o de Mariana, que geraram enorme comoção pela sua amplitude e intensidade de danos."

O ambiente de "crise" não poderia ser mais propício para o convidado que fez a palestra de abertura, neste último domingo. Janderson Fernandes, mais conhecido como Sri Prem Baba nasceu de uma família de classe média/baixa paulistana. Reconhecido aos 36 anos por seu guru, Maharaj Ji, na Índia, como mestre da ancestral linhagem Sachcha, Prem Baba tem atualmente milhares de discípulos espalhados por vários países. Janderson, para encontrar Prem Baba dentro de si mesmo, percorreu uma longa jornada. Teve infância e adolescência contestadoras. Adulto, provou vários caminhos espirituais e terapêuticos na sua busca pelo conhecimento da divindade que habita todos os seres e o sentido da vida. Janderson encontrou na psicologia uma ferramenta importante para entender as terapias de cura do corpo e da alma. Aprofundou-se nesse conhecimento por muito tempo. Fez diversas formações e tornou-se um terapeuta reconhecido. A maestria recebida por Prem Baba da linhagem espiritual não o afastou do mundo cotidiano. Prem Baba tenta colocar seus potenciais e seu conhecimento à serviço da Humanidade como um todo, e do Brasil em particular. Neste sentido, tem uma intensa agenda de compromissos em eventos que discutem a melhoria da qualidade de vida no Planeta, desde o processo de transformação pessoal até a abertura de novas janelas de mudanças de paradigmas sociais e econômicos.

Da palestra de Prem Baba eu saquei nove reflexões para mim mesmo, ou seja, não quero dizer que estas tenham sido afirmações dele na mais de uma hora que falou ao público. Quero dividi-las com vocês.


O ELEMENTO ÁGUA COMO INDUTOR DO DESENVOLVIMENTO PESSOAL E PLANETÁRIO.

1) A Água sempre foi guia precursora da atividade humana no Planeta. As cidades   e aglomerações se colocavam junto aos rios e mares. Com a desmedida expansão urbana, perdeu-se esta conexão. Os consumidores de hoje só conhecem a Água como um recurso que sai das torneiras nos centros urbanos. 
2) Em algum momento vai faltar água, isso é uma certeza da civilização moderna. O recurso Água é finito e se imagina que a eficiência na distribuição e consumo, talvez sejam a única forma de evitar essa tragédia.
3) A falta nos ensinaria a compartilhar. Israel e Palestina, por exemplo, superaram suas diferenças e estão compartilhando a pouca água existente.
4) A carência hídrica fez surgir um novo conceito econômico: FABRICAR ÁGUA. Isto significa proteger as nascentes, novas tecnologias de produção e consumo consciente, mas exige também grandes mudanças culturais. Tudo começa com mudanças pessoais, para que sejam criadas as oportunidades de mudanças coletivas estruturais.  
5) Grandes corporações transnacionais, prevendo a carência, tentam induzir o conceito de Água como commoditie.  Isso seria um risco para o desenvolvimento humano. Significaria a privatização das fontes de captação atuais e de recursos que serão usados no futuro, como o Aquífero Guarani. 
6) As águas estão mostrando a direção para a evolução civilizatória. A Humanidade deveria perguntar à Água: "Como eu posso lhe servir, para que você possa me servir?". O elemento Água mostraria que é necessário não apenas mudanças no padrão de consumo, mas também mudar a visão da água como simples produto. A Água também é condutora da nossa evolução emocional,  a partir da consciência de nossas carências espirituais e amorosas. É o elemento de condução das ondas emocionais.
7) A crise hídrica nos mostra a necessidade de uma nova revolução pessoal. O encontro do Elo perdido que junta Matéria e Espírito. Para além das crenças limitantes, dogmas religiosos e científicos. O encontro da Espiritualidade com a Matéria  exige auto transformação na direção do Amor Incondicional. Este estado amoroso implica no rompimento do ciclo vicioso do sado-masoquismo pessoal e social: DOR+MEDO+ÓDIO+VINGANÇA = Infelicidade .   
Este rompimento passa necessariamente pelo auto conhecimento, o qual deveria ser política pública e ensinado nas escolas, senão a destruição será inevitável. 
8) O Patriarcado gerou heranças muito doloridas, mas o reencontro do Feminino não passa pelo combate ao Masculino, e sim na conciliação entre as duas energias. O masculino é o poder da ação. O ato de plantar a semente, enquanto a energia feminina está na geração da planta. A contaminação destas duas forças pelo ódio compromete a qualidade da produção.
9) Todas as coisas precisam encontrar sua alma. Uma empresa ou uma pessoa, uma família ou um sistema. A água também precisa de Alma, assim como a Paz. As três falam a mesma língua. A língua do Amor.







domingo, 26 de novembro de 2017

MEU LUGAR (Wanderley Costa)

Autor: Wanderley Costa

Ponha a mão na minha mão... Lembrei-me de um canção... Meu coração, neste exato momento está cheio de amor e compaixão. Sinto a alegria leve e solta visitar meu ser, e como mágica todos os caminhos se abrem a ele. Poderia estar na Grécia, em Veneza, no Marrocos, no Nepal, em Copenhagen, em Manaus com seus Igarapés, enfim em qualquer lugar, porque estou aqui no meu cantinho feliz e agradecido. O dia está lindo, a luz e o calor do sol pulsam em mim. Me teletransportar a qualquer lugar e com quem eu imaginar se faz simples e prazeroso. Minhas roupas, assim como minha pele, se tornam translúcidas e no entrever do outro vejo tudo com a pureza da clareza. A expectativa frustrante de idealizações inglórias se torna pálida e desbotada, e o viver presente em cores e sensações indestrutíveis. Ouço um toc toc em minha alma/porta, e num sorriso confiante me abro a ela e a todas infinitas possibilidades do amor e da felicidade. A energia da coragem perpassa minhas veias e num sobressalto me faço e me refaço em novo e esperanço ser, capaz de romper limites inimagináveis para vivenciar o apogeu de se estar vivo e exuberantemente feliz, simples assim. Colher uma maçã, dar um mergulho no mar, sorrir em resposta à criança que lhe sorri também, se aquecer ao calor do sol, são experiências banais, mas poderosas, que me teletransportam a todos aqueles e a estes lugares. E vestido assim com a roupa do agora me lanço confiante aos braços do viver. Aqui, sem dúvida é o meu lugar.

ANOITECER (Elizete Menezes)

Autora: Elizete Menezes


Anoitece nesta cidade desconhecida. E eu, aqui, vendo o orvalho que cai, gota a gota. Cidade enfeitada de luzes. Uma grande festa se aproxima, e meus pensamentos me reportam ao tempo de criança, onde eu morava numa rua de terra batida e sem luz. O que  eu avistava ao anoitecer era o céu estrelado a brilhar. E, no silêncio da noite, via as galinhas se recolherem ao galinheiro; o cavalo a se abrigar na baia, e os outros animais, também. Na chegada da noite, cada qual sabia seu lugar, e para lá se dirigia, sem necessitar de ajuda.
O dia amanhece com cheiro de terra úmida e o perfume das belas flores. Ali estava uma  criança feliz à espera da mais bela festa que se aproximava, e que contava os dias para que o bom velhinho ali viesse com seu saco abarrotado de presentes, e em sua árvore os deixasse.
Agora aqui estou a recordar, num sofá de hotel da criança que existiu num passado remoto. E meus pensamentos vagam nesse lugar, nessa cidadezinha cheia de encantos, trazendo o anoitecer, com suas luzes a brilhar e seu céu estrelado, que ao meu passado reportou-me...
É a festa de Natal que hoje me traz as lembranças do meu tempo de criança.
Lugar de águas termais, carregado de encantos. E no descanso, me encontro com um passado cheio de lembranças de criança.
A saudade bate forte. É hora do meu encontro com a criança que lá atrás a deixei...
E aqui estou, feliz e saudosa, a mergulhar no espaço que por um instante vagou entre as estrelas.

sábado, 25 de novembro de 2017

A ESPERANÇA EQUILIBRISTA (Mara Lúcia Bedin)

Autora: Mara Lúcia Bedin

Era 1979, ano de grandes  mudanças políticas no Brasil. Foi aprovado no Congresso Nacional um projeto de lei de anistia aos condenados por supostos crimes políticos praticados na ditadura militar. A anistia foi ampla, geral e irrestrita, depois de uma longa campanha popular. Eu era estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e assistia daquele palco privilegiado as manifestações de "boas vindas" a muitos dos exilados políticos que finalmente voltavam ao país. O aeroporto internacional do Galeão, hoje Tom Jobim, localizado na ilha do Governador, era de fato a principal porta de entrada dos nossos expatriados, recém anistiados. A proximidade do Campus Universitário  propiciava o deslocamento dos alunos; daqueles mais politizados,  para recepcionar os ilustres personagens. Vivíamos a promessa da concretização da abertura política, que se manifestava na chegada destes homens e destas mulheres. Na UFRJ era comum que um colega, ou outra pessoa qualquer, comunicasse de repente a chegada dos desterrados famosos. A noticia corria de boca a boca e, à medida que esta se espalhava, os alunos se dirigiam ao evento.

A chegada de Luis Carlos Prestes em 20 de outubro impressionou enormemente pela multidão que o aguardava. O aeroporto, como sempre,  já estava lotado por militantes de organizações políticas, incluindo importantes sindicatos de várias categorias de trabalhadores. As pessoas se apertavam na multidão, já apertadas que estavam pela emoção, lado a lado, buscando um melhor lugar para poder avistar o notável que estava por chegar. Não podiam avançar muito, porque os acompanhavam com relativa proximidade um corredor formado pela Polícia Militar com  seus escudos transparentes, com suas botas, capacetes, cassetetes e coisas assim. Estavam lá as duas distintas massas humanas, frente a frente. O Galeão cheio, praticamente lotado, e o aparato policial montado causava um grande frisson. 

Um dos grupos esperava por Prestes; e o outro aguardava o momento oportuno para intervir, diante de algum movimento de descontrole por parte das lideranças dos primeiros; era grande o  risco de serem soltos os cães; assim como os cassetetes e outras armas entrarem em ação. Os minutos seguiam tensos. Diante do medo que se intensificava, o povo cantava o Hino Nacional, de braços dados. Percebia-se os peitos arfando, e na expressão do rosto de cada um, a sensação de ser parte da história que se estava desenhando. Talvez por sentirem-se assim mais "brasileiros" e de estarem vivendo conjuntamente aquele momento de conquistas tão importantes. 

De repente alguém anuncia: “--- é ele! Chegou!".
Prestes foi o maior líder comunista da história do Brasil. Originalmente tenente do exército no RS, liderou a revolta de parte de seus camaradas de armas e iniciou sua famosa Coluna Prestes, percorrendo 25 mil quilômetros pelo interior do Brasil, em revolta contra a República montada pelos grandes produtores rurais que a comandavam. Depois passaria a maior parte de sua vida no exílio, comandando de lá o seu Partido Comunista Brasileiro. Finalmente esta liderança tão importante voltava para casa.   

Os dois grupos se agitam. A multidão gritava o nome dele e há um momento de grande excitação. A turba se comprime para entrar no aeroporto, o burburinho cresce. A polícia se coloca na postura! Dentro do aeroporto alguém, por acaso ou intencionalmente, para abafar o som produzido pela massa, aumenta o volume da música ambiente do recinto. Tocava naquele momento a canção "O Bêbado e a Equilibrista", na voz Elis Regina, composta por Aldir Blanc e João Bosco, poema que cita a volta do  Betinho, “o irmão de Henfil”, assim como homenageia “...Marias e Clarices”, em referência às esposas  dos militantes que forram morto na prisão, como o jornalista Wladimir Herzog no ano de 1975. O som da canção ressoava alto no saguão e tomou conta do espaço, fazendo com que o povo que esperava no lado de fora conseguisse ouvi-la perfeitamente. 

Então as vozes dos presentes se somaram à de Elis. Formou-se um canto uníssono lindíssimo, nítido e forte, expressando a esperança de todos no futuro do país, de um Brasil mais "brasileiro", enquanto Prestes era conduzido nos braços da multidão. Foram momentos encharcados de comoção até às lagrimas, porque todos ali presentes, independentes de suas ideias políticas, demonstravam que tinham o mesmo anelo; a liberdade de pensar, falar e decidir o futuro do Brasil.


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O QUE ESTÁ ACONTECENDO? (Laércio de Melo Duarte)



Autor: Laércio de Melo Duarte


Já que todo mundo está opinando, não vou deixar passar em branco. O que está acontecendo no Brasil é o que sempre aconteceu. Temos uma elite sanguinária, que olha para a Europa e os Estados Unidos com olhos encantados e volta as costas para nosso país e nossos vizinhos. O Brasil perdeu todas as oportunidades de avançar para a civilização. Mais de 40 anos depois do golpe de 1964, quando a maioria de nós ainda éramos crianças, os problemas básicos da nação continuam os mesmos. Má distribuição de renda, economia baseada na produção agrícola concentrada (primeiro no café, depois na soja). Atraso tecnológico, apesar de sermos um dos mercados mais criativos do mundo. A nossa automação eleitoral não tem paralelo, assim como temos a melhor automação bancária. Quem já viajou pelos países ditos avançados sabe do que estou falando. Eu militei toda minha vida para mudar o Brasil, perdi chances de ficar rico em postos de direção nas grandes empresas em que atuei, tomei cachaça várias vezes com Lula e os comandantes da esquerda. Mas, quando chegamos ao poder, em aliança contaminada, não fizemos nada diferente do que fez a velha direita convencional. Agora, um "velho" com quase 67 anos, continuo ativo e atuando pelo bom futuro de nossos filhos e netos. Não penso em mim. Eu canto, "por que o instante existe e minha vida está completa" (Cecília Meireles).










quinta-feira, 23 de novembro de 2017

NOVO MODELO DE VIDA (Delva Robles)


Autora: Delva Robles

Minimalismo foi um movimento que atingiu todas as formas de artes em diversos momento do século XX.  O princípio era usar o emprego do mínimo essencial ou reduzir os elementos ao mínimo essencial.  Já como comportamento é uma consciência do consumo exagerado e desnecessário de coisas. 

Combater o desperdício e ostentação em todos os sentidos, como nas roupas, carros e casas. As coisas que você possui acabarão por possuí-lo diz o minimalismo. Na linha filosófica se identificam com os Estóicos, escola filosófica da Grécia antiga e surgida no século 4 a.c. que definia a felicidade como objetivo central, vida simples e em harmonia com a natureza. O Sábio é feliz por definição diz o Estoicismo.  

Casas devem ser medidas por pés quadrados e não metros quadrados e assim serão pequenos espaços ocupados somente com o essencial. Desapegar de todas as nossas inutilidades, tranqueiras, limpar as gavetas das escrivaninhas e das cômodas, das pias dos banheiros, da nossa despensa, da área de serviço. Evoluir para nosso guarda roupa e sapatos, o ideal segundo alguns deles é ficar com algo em torno de 30 peças entre sapatos, roupas, bijuterias, etc... e doar tudo o que não usamos, inclusive móveis e quando ficarmos  apenas com o essencial... teremos  de acordo com os minimalistas +tempo, + espaço, + energia,  além de não sermos definidos pelo que possuímos, as pessoas serão mais importantes que as coisas, lema central do Minimalismo..   

Não posso deixar de concordar com eles e diante disso ter um novo olhar para o consumismo, desperdícios e excesso de coisas em minha vida.