Querubina Ribas, a autora, faz parte do
Coletivo Náufragos Literários.
Procuro alguma coisa que não encontro. Tenho uma vaga lembrança da minha mãe, com um velho avental vermelho de crochê, cozinhando numa panela de ferro o nosso almoço. Busco na memória esmaecida, pelo tempo e idade, a figura amada. Vejo-a, sempre, na cozinha de nossa casa. Naquela grande e aconchegante cozinha, onde fazíamos todas as refeições, recebíamos amigos, brincávamos, e, à noite, ouvíamos causos de fantasmas, de tesouros escondidos em panelas, de bolas de fogo que perseguiam os bêbados retardatários.
Nas noites frias de inverno, ficávamos em volta do fogão a lenha. Meu lugar favorito era o caixão de lenha, coberto com grosso e macio pelego branco. Em cima do fogão, minha mãe amarrou, da parede até o chaminé, um barbante onde ela pendurava as cascas de laranjas, para secarem. Gostava de sentir aquele cheiro adocicado de laranjas, misturado com o cheiro de fumaça. Na minha memória, sempre que penso na mãe, vem uma figura envolta em deliciosos aromas de comida, de biscoitos de casca de laranjas, de fumaça.
Às vezes, me dá uma saudade gigantesca desse tempo tão curto e mágico que foi minha infância. E quando vislumbro a suave imagem de minha mãe, nessa época, lágrimas rolam silenciosas pelo meu rosto. Sinto-a ao meu lado. As lembranças são tão reais que apagam o momento vivido. Adquiri, dolorosamente, com o passar dos anos o conhecimento de que a vida bem ou mal vivida pode ser enriquecida com fragmentos de nossas lembranças.
Embora, o que vivenciamos de forma tão real e fantástica, através da memória, não volte mais.
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