Autora:
Nídia Maria de Leon Nobrega
Esse texto não é uma declaração de solidão ou infelicidade ou tristeza.
Mas a constatação de que os meios digitais, esses que nos mobilizam o dia todo – celular, WhatsApp, tablete, computador, vídeo conferências e todos os eteceteras facilitam a vida, mapeiam nossas atividades, reduzem distâncias, agilizam rotinas e nos colocam na roda da vida, mas não me bastam.
E esse “mas” e sempre haverá um “mas”, essa “coisarada” toda não nos aproxima o bastante e o necessário. Não tem o calor do abraço, o cheiro da pessoa, a maciez do cabelo, o encaixar do corpo naquela comunhão insubstituível de quem sente afeto.
Sou uma sinérgica incurável. Gosto de falar tocando no braço, na mão, olhando no olho arrumando a gola da camisa, ajeitando o cabelo, me encostando, abraçando. Sei que isso, nos dias de hoje chega a ser meio que invasão de espaço. Tem gente que tipifica como assédio ou psicopatologia. Coisas que a tecnologia criou para a gente se contentar em olhar de longe e estipular graus de intimidade. O que é totalmente desnecessário. Porque se não há afeto ou outro sentimento o limite se impõe sozinho.
Ai a gente senta na frente do computador e fica a mandar dizer que ama, que tem saudade, que tem tesão ou apenas vontade de estar próximo. Mas isso não basta, não alimenta não tem consistência afetiva. A emoção fica na nuvem.
E, mesmo que as geografias da vida, as estradas e os acessos possam ser facilitadas pelas mídias, é muito bom ouvir um portão que abre, uma chave que gira na fechadura, uma campainha que toca, um chamado na janela da sacada, um “oi onde você está? ” “Tem comida nessa casa?”, “ tem café?”... E depois disso um abraço quentinho, mesmo que molhado de suor, meio azedo e cansado da rua, mas ali, ao nosso alcance.
Mesmo que o progresso seja benéfico, que todas as mídias sejam ferramentas que aproximam e ignoram oceanos, terras longínquas, fusos horários e paisagens que nunca veremos e transformem tudo no agora, nada como aquele espacinho entre dois corações.
Até brigar, trocar palavras duras perdeu a sua graça. Parece que nunca serão bastante via e-mail. Como fazer as pazes se não há lugar para o abraço da reconciliação?
Não sou uma saudosista que não aceita o mundo atual. Mas meu vício em gente é incurável. Preciso dessa coisa de carinho, de troca física, de empatia presencial.
Deixo os créditos, carregar bateria, encontrar espaço, economizar memória e essas bobagens para quem ainda não aprendeu o que é sentir.
Mas, por conta do que não posso mudar fico aqui nos blogs e nas comunidades de gente que, como eu, precisar estar perto. Nem que seja por conta de megas e outras emes quaisquer.
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