quinta-feira, 9 de novembro de 2017

SEM ÂNCORA, SEM PASSADO (Wander Costa)


Autor: Wander Costa


De repente, o assombro se assolou em mim; não havia me dado conta de que a poderosa âncora do passado, hoje jazida e enferrujada no fundo do oceano, insistia em me aprisionar àquele cais outrora prazeroso, mas que a mim se tornara, apesar das conquistas e riquezas incomensuráveis nele colhidas, opaco e pesaroso. O brilho obstinado e feliz em cada olhar que na nova nau se apresentava me encheu de esperança, força e alegria no descortinar de uma nova viagem. A esperança de - na concretude ora idealizada - se transformar em uma nova brochura, rica em histórias vivas e vividas. A força no leme de seres iluminados no comando e na diretriz em traçar novos rumos, singrando os mares nunca antes navegados. A alegria de se sentir amparado e amparador nas alternâncias impostas pelo tempo, mas sempre com a certeza da solitude compartilhada. A busca por novas experiências assombra e nos faz temerosos. Estaremos sendo ingratos ao colo que nos acolheu e nos supriu? Ou será uma amena covardia que nos faz buscar apoio em bengalas sem serventia ? Passado em ferro quente o linho abarrotado do passado, me sinto novo e leve para a viagem prosseguir, pois é nela que o presente se desenrolará e que, enfim, faremos histórias para aos nossos netos contar.

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