Autora: Nídia Maria de Leon Nóbrega
Acocorado no canto do quadrado no fundo do rancho,
fica olhando pro monte de muda crescendo e virando planta,
cercado das flores pequenas dos trevinhos, ervilhacas,
quebra-pedra, alecrim, carqueja, macela, camomila, hortelã e outros chás que
ajudam a espantar as pragas que ameaçam as plantinhas.
Isso aprendeu ainda de novo, com a Cazuarina, uma
negrinha filha de escravo fugido, que um dia, mocinha, pediu abrigo e nunca
mais foi embora. Com ela se deitou e tiraram mais de uma dúzia de filho e
não perderam nenhum. Tudo gordo e esperto.
Nessas hora de lembrança chega a
ouvir sua voz afirmando que na horta “as coisas de comê ficam no meio e
de curá, nas berada... umas defendendo as otra dos ataque das lagarta e
dos pioio de pranta”.
E fica ali, feliz, vendo o resultado da adubação
feita antes da chuva. Pegou bosta de ovelha, de vaca e de galinha.
Misturou tudo e deixou secar ao sol. Aí juntou os restos de folhas e de cascas
de frutas e de ovo.
E a terra gorda ficou macia com aquele monte de
minhocas. As danadas parecem até cobra de tão grande.
O filho do dono das terra, chama
de “vermes” e fica ali torrando o saco e dizendo que não
é saudáver.
E fez cara de nojo quando ele contou
que aquela verdurama toda bunita, os tomate,
as abobrinha, as vage, o feijão, as moranga,
cenoura, nabo, quiabo e tudo o que vai pra casa dele na cidade é
adubado com bosta.
E ainda repetiu “ bosta” enchendo bem a boca prá
provocar o bundão enjoado, que ficou fazendo descurso e
recomendando produto de agropecuária.
Mal sabe o rapazinho que os produto da
loja matam as minhoca e os bichinho que
defendem a plantação. Quando dá pobrema por causa do
estio ou de muita chuva, pega os resto de fumo em rama,
faz uma garrafada com álcool de cana feito em casa e passa nas planta e tudo se
ajeita.
Veneno de loja acaba com os passarinhos e com os
peixes que moram no açude de baixo e recebe a água da chuva que desce pelo
pasto.
No início das conversa inda tentava
explicar pro menino... aí recebeu umas ofensa de que anarfabeto
e inguinorante ficá plantando que nem os índio e
os bugre...aí entendeu que era mió se recoiê a
sua insiguinificança.
Se a nega véia ainda fosse viva
ia dar resposta na hora, que nem coice de porco. Mas deixa está que
um dia o vento muda.
E fica lá, fumando seu paiêro, olhando
a horta e as arve de fruta do quintal. Tudo grada,
suculenta e doce. E dá tanto que os de casa, osvizinho e os passarinho se
divide e ainda sobra pros porco e pras vaca de leite.
Outro dia, na reunião do assentamento que fica do
lado da fazenda do patrão, um cara da cidade falou de agricultura orgânica e
que as produção feita assim - sem veneno, são muito procurada
porque são mió de qualidade e tem bom preço.
Voltou rindo solito, que nem bêbu...
Se bem que entendeu bosta é bom e dá dinheiro.
Uma linda homenagem aos valorosos homens e mulheres do campo.
ResponderExcluirBonito texto Nidia!
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