quarta-feira, 29 de novembro de 2017

CONSIDERAÇÕES EMPÍRICAS E CABOCLAS SOBRE PRODUÇÃO ORGÂNICA E ECOLOGIA (Nídia Maria de Leon Nóbrega)

Autora: Nídia Maria de Leon Nóbrega


Acocorado no canto do quadrado no fundo do rancho, fica olhando pro monte de muda crescendo e virando planta, cercado das  flores  pequenas dos trevinhos, ervilhacas, quebra-pedra, alecrim, carqueja, macela, camomila, hortelã e outros chás que ajudam a espantar as pragas que ameaçam as plantinhas.
Isso aprendeu ainda de novo, com a Cazuarina, uma negrinha filha de escravo fugido, que um dia, mocinha, pediu abrigo e nunca mais foi embora. Com ela se deitou e tiraram mais de uma dúzia de filho e não perderam nenhum. Tudo gordo e esperto.
Nessas hora de lembrança chega a ouvir sua voz afirmando que na horta “as coisas de comê ficam no meio e de curá, nas berada... umas defendendo as otra dos ataque das lagarta e dos pioio de pranta”.
E fica ali, feliz, vendo o resultado da adubação feita antes da chuva. Pegou bosta de ovelha,  de vaca e de galinha. Misturou tudo e deixou secar ao sol. Aí juntou os restos de folhas e de cascas de frutas e de ovo.
E a terra gorda ficou macia com aquele monte de minhocas. As danadas parecem até cobra de tão grande.
O  filho do dono das terra, chama de “vermes” e fica ali torrando o saco e dizendo que não é saudáver.
E fez cara de nojo quando  ele contou que aquela verdurama toda bunita, os tomate, as abobrinha, as vage, o feijão, as moranga, cenoura, nabo, quiabo e tudo  o que vai pra casa dele na cidade é adubado com bosta.
E ainda repetiu “ bosta” enchendo bem a boca prá provocar o bundão enjoado, que ficou fazendo descurso e recomendando produto de agropecuária.
Mal sabe o rapazinho que os produto da loja matam as minhoca e os bichinho que defendem a plantação. Quando dá pobrema por causa do estio ou de muita chuva,  pega os resto de fumo em rama, faz uma garrafada com álcool de cana feito em casa e passa nas planta e tudo se ajeita.
Veneno de loja acaba com os passarinhos e com os peixes que moram no açude de baixo e recebe a água da chuva que desce pelo pasto.
No início das conversa inda tentava explicar pro menino... aí recebeu umas ofensa de que anarfabeto e inguinorante ficá plantando que nem os índio e os bugre...aí entendeu que era mió se recoiê a sua insiguinificança.
Se a nega véia ainda fosse viva ia dar resposta na hora, que nem coice de porco. Mas deixa está que um dia o vento muda.
E fica lá, fumando seu paiêro, olhando a horta e as arve de fruta do quintal. Tudo grada, suculenta e doce. E dá tanto que os de casa, osvizinho e os passarinho se divide e ainda sobra pros porco e pras vaca de leite.
Outro dia, na reunião do assentamento que fica do lado da fazenda do patrão, um cara da cidade falou de agricultura orgânica e que as produção feita assim - sem veneno, são muito procurada porque são mió de qualidade e tem bom preço.
Voltou rindo solito, que nem bêbu... Se bem que entendeu bosta é bom e dá dinheiro.

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