quarta-feira, 1 de novembro de 2017

HOMENAGEM AO ZEZINHO (Áurea Ávila Wolff)

Autora: ÁUREA ÁVILA WOLFF 

Minha família já foi toda para o lado de lá, além da vida na terra, para um lugar que existe nos sonhos e na fé de cada um. Neste lugar, acredito,  estão as pessoas que fizeram parte da minha caminhada, pessoas muito importantes e cada uma com um significado histórico e amoroso diferente. Meus avós, tios e tias, primos e primas, meus pais, meus irmãos e minha irmã, cunhados e cunhadas, meus sogros, sobrinho e meu marido.

Como sou temporão, estou no final da fila, esperando o toque de retirada. A perda mais dolorosa e mais recente foi do meu marido. Mas, sobre ele ainda é muito doloroso falar. Quero falar sobre uma pessoa que viveu  no meu coração, com um rosto que eu pintei na galeria de fotos reais ou fictícios, com  uma personalidade  que formei na imaginação, colhida nas descrições familiares e na  memória histórica do tempo e do espaço. Meu irmão. Eu tinha 2 anos quando ele saiu de casa com 17 anos e foi para longe; e eu  tinha 5  anos  quando  a meningite ceifou sua vida. Marcante época  escura da casa dos meus pais. Silêncio, poucas falas, lágrimas, roupas pretas, vizinhos solidários. A dor dos meus pais pela dolorosa perda me deixava sozinha e solitária. Inconsciente tristeza ao se instalar na percepção infantil me proibia as manifestações  alegres e as travessuras, que ficavam fechando portas e janelas para o mundo colorido e bonito. E as  falas cheias de encanto da minha mãe, num desabafo amoroso e triste foram  formando no meu coração uma doce lembrança e terna saudade do Zezinho.  
          
Quando escrevia suas cartas, dizia minha mãe, sempre pedia para eu não dar palmadas na Aurinha quando ela fugia para a casa do vovô. "Dá beijinhos no lugar das palmadas". Mamãe lembrava  o carinho que ele tinha por mim; e que me fazia dormir contando histórias, ninando na cadeira de balanço. E sorria,  entre lágrimas, dizendo que num desses embalos a cadeira virou comigo e com ele. 

Ele era muito bonito, dizia ela, tinha cabelos pretos e um gênio forte, alterado, e entrando em brigas  para defender alguém. Inteligente e amoroso,  alegre, iluminava a casa com seus encantos e brincadeiras. Era forte e alto, trabalhador  e muito responsável nos estudos. Era  líder dos irmãos e dos jovens na escola e da vizinhança. Criei para mim um irmão que, embora ausente, me amava muito; e com esta visão terna guardo-o até hoje na minha vida.  

Quando me sentia sozinha e pensava que ninguém me amava, a lembrança do seu amor e carinho me enternecia e me dava conforto para enfrentar as dificuldades do caminho.  E eu pensava: "O Zezinho me ama. O Zezinho me ama". E eu me sentia importante com esse seu amor.

Hoje minha homenagem é para este irmão.
José, Zezinho, meu querido, agradeço o carinho que tiveste para aquela tua irmãzinha  tão pequena, porque serviu muito para ela que  guardou no coração o calor dos teus afagos, que experimentou nos momentos difíceis os cuidados  de um anjo da guarda, e nas recordações de infância um companheiro amigo e forte a me proteger e me amar.  
   
Tua partida precoce deste mundo deixou para mim a saudade e a alegria de ter recedido teu amor, mesmo que somente através das lembranças da tua curta e tão brilhante  história.  Hoje estou sozinha aqui na terra; nossa família de origem já não está mais aqui. Sinto saudade de todos com quem convivi durante muitos anos e dos quais recebi uma riqueza de valores e de força que me sustentam até agora. A ti, irmão amado, ofereço a minha ternura e carinho e a homenagem de quem te respeita e ama.  E a certeza de que em Deus está o teu lugar.

Porque Deus é  amor !

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